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VGNJUR Quinta-feira, 24 de Julho de 2025, 22:57 - A | A

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Rasguei depois de imprimir

"Era apenas um pensamento", General assume autoria de plano para matar Lula, Moraes e Alckmin

Após 8 meses preso, Fernandes confessa ter criado plano de assassinato

Edina Araújo/VGN

O general da reserva Mário Fernandes admitiu nesta quinta-feira (24.07), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ser o autor do documento "Punhal Verde e Amarelo" que planejava o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.

Em um dos momentos mais tensos do interrogatório, Fernandes confirmou: "Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado — um compilar de dados, um estudo de situação, uma análise de riscos que eu fiz e, por costume próprio, decidi digitalizar".

O depoimento marca a primeira vez que o militar fala publicamente desde sua prisão em novembro de 2024 na Operação Contragolpe. O interrogatório de Fernandes faz parte de uma das últimas fases da ação penal que julga os suspeitos pela tentativa de golpe de Estado do 8 de janeiro.

Versão da defesa gera controvérsias

O general negou ter apresentado o documento a qualquer pessoa e alegou que o imprimiu no Palácio do Planalto em 9 de novembro de 2022 apenas para "ler melhor" e "não forçar a vista", rasgando o papel logo em seguida.

A versão, no entanto, é contestada pelas investigações da Polícia Federal. De acordo com as investigações da PF, três cópias do documento foram impressas no Palácio do Planalto pelo general. Quarenta minutos depois, Fernandes teria dado entrada no Palácio do Alvorada, residência oficial da presidência da República.

Questionado se apresentou o plano ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o general negou categoricamente: "Eu ratifico. Impossível. Eu imprimi para ler no papel, para não forçar a vista. Após isso, rasguei. Esse horário foi uma coincidência em relação a minha atribuição administrativa e logística como secretário executivo".

Revelações sobre a "minuta do golpe"

Durante o depoimento, Fernandes também revelou que havia um "decreto" com "considerandos jurídicos" circulando pelo Planalto em 2022, referindo-se ao documento conhecido como "minuta do golpe". O general declarou que não "ficou sabendo [do decreto] por ver ou por conversar diretamente com Bolsonaro", mas sim por "conversas" no Palácio do Planalto.

O plano "Punhal Verde e Amarelo"

As investigações da PF revelaram que o plano "Punhal Verde e Amarelo" previa o assassinato de Lula e Alckmin antes da posse, marcado para 15 de dezembro de 2022. O documento continha detalhes sobre métodos como envenenamento, tiros e explosões, além de especificações sobre munições a serem utilizadas.

Para a execução, o grupo utilizaria codinomes como Alemanha, Argentina, Áustria, Brasil, Japão e Gana, comunicando-se através do aplicativo Signal com conteúdo criptografado.

Os "kids pretos" e a operação "Copa 2022"

Fernandes é considerado pela Polícia Federal como um dos militares "mais radicais" que integravam o núcleo dos "kids pretos" - militares das Forças Especiais do Exército. As movimentações para a consumação do golpe tiveram seu auge entre novembro e dezembro de 2022 e foram batizadas pelos envolvidos de "Copa 2022".

Em 2002, Fernandes havia defendido em dissertação de mestrado a importância dos "kids pretos", orientando que as Forças Especiais devem ter autoridade para atuar livremente nos campos "social, econômico, político e militar" em caso de "guerra irregular".
Trajetória no governo Bolsonaro

Bolsonaro conheceu Fernandes em 2019 durante agenda oficial no Comando de Operações Especiais (COpEsp), em Goiânia, onde ficam os "kids pretos". O general trabalhou no Palácio do Planalto como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência desde julho de 2021 até o fim do governo Bolsonaro.

Após deixar o governo, foi demitido pelo PL em março de 2024 do gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) por ser alvo de investigações.

Prisão e possível delação

Fernandes foi preso em 19 de novembro de 2024, no âmbito da Operação Contragolpe, investigação que evidenciou a existência de um suposto grupo que teria articulado o sequestro e a morte de autoridades no fim de 2022.

Policiais federais envolvidos com as investigações afirmam que Fernandes trabalha com a possibilidade de fechar uma delação premiada, podendo trazer novos fatos sobre a participação de Jair Bolsonaro e do ex-ministro Walter Braga Neto na articulação para o golpe.
Próximos passos

O resultado do julgamento do núcleo 2, do qual Fernandes faz parte, deve sair apenas no segundo semestre. A Procuradoria-Geral da República terá um prazo de 15 dias para decidir se apresentará uma denúncia contra os envolvidos, arquivará o processo ou solicitará novas diligências.

O caso representa um dos episódios mais graves contra a democracia brasileira desde a redemocratização, com implicações que podem se estender aos mais altos escalões do governo anterior.

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