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VGNJUR Sábado, 24 de Maio de 2025, 16:50 - A | A

Sábado, 24 de Maio de 2025, 16h:50 - A | A

SORRISO-MT

Juiz de MT afastado é acusado de chantagem, venda de sentenças e fraude em contratos

Juiz afastado sob suspeita de chefiar esquema criminoso

Edina Araújo/VGNJUR

O escândalo envolvendo o juiz Anderson Candiotto, que atuava na 4ª Vara Cível de Sorriso, município localizado a 420 km de Cuiabá, ganhou novos e impactantes contornos após seu afastamento do cargo, determinado na quinta-feira (22.05) pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Relatos obtidos com exclusividade pela reportagem do , sob condição de anonimato, devido ao clima de intimidação que impera na cidade, indicam a existência de um esquema sofisticado de chantagem, venda de sentenças judiciais e manipulação de interesses no setor produtivo local.

Leia matéria relacionadaJuiz de Sorriso é afastado por suspeita de venda de sentenças

Fontes ligadas ao meio jurídico e produtivo relataram ao , que Candiotto supostamente utilizava uma assessora de sua estrita confiança, a qual, durante viagens internacionais do magistrado, operava seu token de segurança, assinando decisões judiciais em seu nome. “Ela tinha total acesso ao sistema e tomava decisões enquanto ele estava fora do país”, revelou uma das fontes, sob condição de sigilo.

Além disso, dois advogados de Sinop — um deles, segundo os relatos, atuando também como jornalista — são apontados como supostos operadores próximos do juiz. Um deles, recém-formado, já teria constituído um patrimônio considerável, levantando suspeitas sobre um possível enriquecimento ilícito em tempo recorde.

Outro nome que surge nas investigações é o de uma advogada associada a um instituto jurídico. Ela seria uma das intermediárias no suposto esquema de venda de sentenças. “Ela não aparece formalmente nos processos, mas seria peça-chave nesse esquema”, relatou uma das fontes entrevistadas.

As suspeitas de que o juiz atuava em prol de interesses privados se intensificaram após revelações de que, quando ainda casado com uma advogada da região, Candiotto teria intermediado a transferência de contratos advocatícios de grandes empresas para o escritório da então esposa. “Ele atuava dentro do escritório da ex-esposa, fazia reuniões e ameaçava produtores: ou você paga, ou terá sua fazenda penhorada”, denunciou uma das fontes.

Esquema de extorsão e contratos via WhatsApp

Produtores rurais relataram ter sido coagidos a firmar acordos prejudiciais, sob ameaças explícitas de penhora de bens. Há ainda denúncias sobre a existência de contratos fraudulentos de compra e venda de cereais, firmados por meio do aplicativo WhatsApp, com o objetivo de extorquir os produtores. “Eles foram roubados através de contratos feitos pelo celular, com a cobertura de um desembargador, também afastado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, por decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”, denunciou um dos interlocutores. 

Eles foram roubados através de contratos feitos pelo celular, com a cobertura de um desembargador que, posteriormente, também foi afastado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso

Apesar da gravidade das acusações, muitos advogados e produtores rurais preferem não formalizar queixas, temendo retaliações. “Mesmo afastado, ele ainda mete medo”, desabafou uma fonte, que também relembrou a morte do ex-presidente da OAB, Renato Nery. “Todo mundo sabe, mas ninguém tem coragem de falar publicamente. Não apenas os advogados de Sorriso forma prejudicados, mas de outros Estados. O volume de processos na cidade do agro é muito grande. Após o afastamento de Anderson, está um silêncio sepulcral na cidade, nenhuma imprensa escreveu nada sobre o caso”, completou.

Ligação com grupo empresarial em recuperação judicial

O magistrado também é apontado como sócio oculto de empresas vinculadas ao Grupo Safras, um conglomerado com cerca de 15 filiais, que atualmente enfrenta processos de recuperação judicial, após levar diversos produtores rurais à falência. “Ele é sócio de empresas cujos donos são os mesmos do Grupo Safras, que pediram recuperação judicial depois de afundar produtores. Alguns estão à beira do suicídio por terem perdido tudo”, detalhou uma das fontes.

As investigações também apuram vínculos entre Candiotto e o ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, um dos sócios do Grupo Safras. Fontes afirmam ainda que a ex-mulher do juiz, com quem ele compartilhou relações profissionais e patrimoniais, atuava como advogada da referida empresa. “ Após a separação, muitos processos foram encaminhados para advogados de São Paulo”, disse a fonte.

Processo de afastamento e investigação

O afastamento do juiz foi determinado de forma unânime pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça, composto por 15 desembargadores, a partir de proposição da Corregedoria-Geral do Poder Judiciário. “A decisão foi unânime. Ninguém o defendeu”, revelou uma das fontes que acompanhou o julgamento.

O afastamento ocorreu como medida cautelar, visando evitar qualquer interferência nas investigações, que agora seguem com a autorização para quebras de sigilos bancários e aprofundamento das diligências. “Está só começando. O que houve até agora foi apenas uma medida para afastá-lo e garantir que não atrapalhe o andamento das investigações”, relatou uma das fontes ouvidas.

Logo após a decisão, todos os acessos do juiz e de seus assessores ao sistema do Tribunal foram imediatamente bloqueados. “Desde a quinta-feira, ele não consegue mais acessar nenhum processo. E todos os assessores e estagiários foram afastados dos respectivos cargos. Quem não tem vínculo efetivo será exonerado”, acrescentou.

Medo e silêncio

Há relatos de que a ex-esposa do juiz sofre intimidações e teme falar publicamente. Segundo fontes próximas, na ocasião da separação, Candiotto teria transferido um patrimônio considerável para ela. O patrimônio do magistrado, que está registrado em seu nome e no de sua mãe, será alvo de rastreamento pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

“Na cidade, comenta-se que, há cerca de 15 dias, ela teria sido agredida pelo juiz, mas não há registro formal da ocorrência, provavelmente por medo e por conhecer o modus operandi dele”, confidenciou uma fonte próxima à advogada.

Outro lado - A reportagem entrou em contato com o juiz afastado, sua ex-esposa, os advogados citados, o ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, e Pedro de Moraes Filho, presidente e sócio da Safras Agroindústria. Contudo, nenhum deles retornou as ligações ou respondeu às mensagens e e-mails enviados até o fechamento desta matéria. A ex-esposa do juiz chegou a perguntar à jornalista sobre o assunto, mas, após ser informada, não respondeu mais às mensagens. O espaço permanece abeto para manifestações.

A reportagem entrou em contato com a presidente da 17ª Subseção da OAB/MT de Sorriso, advogada Carla Guerra, que não quis se manifestar sobre as denúncias, disse que vai aguardar as investigações da Corregedoria do Poder Judiciário.

O caso seguirá na Corregedoria do Poder Judiciário de Mato Grosso. O magistrado e todos os envolvidos poderão ser responsabilizados criminalmente, especialmente após a quebra de sigilos bancário e telefônico, o que pode culminar na aposentadoria compulsória de Anderson Candiotto. “Boa parte disso é crime. Isso pode levar à prisão”, concluiu uma das fontes.

As investigações prosseguem na Corregedoria.

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