Depoimentos prestados por ex-servidores da Unimed Cuiabá ao Ministério Público Federal (MPF) revelam como contratos suspeitos e pagamentos sem respaldo técnico teriam sido ordenados diretamente pela cúpula da cooperativa médica, nos meses finais da gestão de Rubens Carlos de Oliveira Júnior (2019–2023). Os relatos integram as investigações da Operação Bilanz, deflagrada em outubro de 2024, que apura um rombo superior a R$ 400 milhões nos cofres da entidade. O sigilo do processo foi retirado no final de julho.
Um ex-coordenador de suprimento relatou que recebeu ordens expressas para efetuar pagamentos a empresas com contratos redigidos diretamente pela assessoria jurídica e hospedados na plataforma de gestão sem consulta à sua área — responsável pelas contratações de obras e serviços. Silva afirmou que, em casos como o da empresa Alyander Bielik Rubio Serviços, nunca houve contato com representantes, nem medições de serviço, embora os pagamentos continuassem sendo autorizados. Quando questionou a situação, ouviu de um gerente que se tratava de “ordem da alta gestão” e que não deveria interferir.
Outro ponto levantado foi a determinação da diretoria para aplicar, de forma retroativa, um reajuste de 20% no contrato da empresa Alyander Bielik — percentual que não constava na cláusula contratual, a qual previa correção com base no IGPM.
Os depoimentos foram reforçados por declarações de uma ex-assessora jurídica da cooperativa. Segundo ela, às vésperas da assembleia que encerrou a antiga gestão, foi convocada informalmente em um sábado (4 de março de 2023) por Mariana, coordenadora do núcleo de contratos e parente de Jaqueline Larrea Proença, ex-chefe do jurídico (denunciada por participar do suposto esquema). Na ocasião, foi instruída a finalizar uma série de termos de rescisão contratual, que incluíam empresas ligadas à própria Jaqueline, ao ex-CEO Eroaldo Oliveira (também denunciado) e à arquiteta T.R.
A ex-assessora afirmou que os documentos foram assinados no fim de semana e entregues diretamente a Jaqueline, que chegou à sede acompanhada de um marqueteiro da campanha de Rubens. Os distratos previam, inclusive, pagamento de multas rescisórias, e a advogada relatou desconhecer previamente empresas como Alyander Bielik e RL Assessoria Esportiva — citadas nos documentos.
O relatório técnico final do Ministério Público Federal apontou vínculos pessoais e indícios de favorecimento na celebração dos contratos. Com base em perfis de redes sociais e cruzamento de informações digitais, o relatório identificou relações próximas entre Jaqueline, T.R e Alyander Bielik Rubio.
Embora as investigações tenham resultado em denúncia por organização criminosa, falsidade ideológica e uso de documentos falsos, o foco do inquérito — segundo os procuradores - permanece na suposta simulação de contratos e ocultação do passivo contábil da cooperativa, estimado em mais de R$ 400 milhões. Auditoria independente revelou que os demonstrativos financeiros de 2022 apresentaram distorções de R$ 358 milhões, com omissão de dívidas e inflamento de ativos.
A denúncia já foi recebida pela Justiça Federal. Os acusados agora respondem a processo e terão prazo para apresentar suas defesas.
Além de Rubens Carlos, Jaqueline Proença Larrea e Eroaldo de Oliveira, ainda consta como réus Suzana Aparecida Rodrigues dos Santos Palma (ex-diretora nanceira); Ana Paula Parizotto (ex-superintendente); e Tatiana Gráciele Bassan Leite (ex-chefe de monitoramento).
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