A filha do desembargador João Ferreira Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), quitou ao menos R$ 900 mil em boletos bancários com dinheiro oriundo da empresa do advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023 e apontado como operador de um esquema de venda de decisões judiciais. A informação foi revelada pelo relator do caso, ministro Mauro Campbell Marques, durante sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nesta terça-feira (05.08).
O repasse foi feito pela Agropecuária Cuiabá Eireli, controlada por Zampieri, e totalizou R$ 1,86 milhão em dois meses. Com esse valor, Alice Terezinha Artuso — filha do magistrado — quitou 42 boletos, muitos em nome de incorporadoras como Vanguard, Plaenge e Carvalho Imobiliária, relacionadas à compra de imóveis de alto padrão.
A movimentação financeira, segundo o relator, aponta para um “esquema sofisticado de ocultação de patrimônio e recebimento de vantagem indevida por meio de familiares”. A denúncia indica ainda que Alice chegou a quitar boletos de motocicletas e possivelmente até faturas de cartão de crédito do desembargador, evidenciando que atuava como intermediária no recebimento dos valores ilícitos.
O CNJ também destacou que Alice foi servidora do TJMT até 2022 e, posteriormente, assumiu cargo comissionado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. A movimentação financeira mais intensa ocorreu justamente durante o período de suspeitas sobre o pai.
Com base nas evidências, o CNJ decidiu por unanimidade instaurar processo administrativo disciplinar (PAD) contra João Ferreira Filho e manter o afastamento cautelar. O caso pode resultar na aposentadoria compulsória do magistrado e em desdobramentos na esfera criminal, com base nos indícios de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
“Foi constatado que Alice quitou boletos de até R$ 275 mil de uma única vez com dinheiro vindo da empresa de Zampieri. É uma triangulação clássica de lavagem de capitais”, afirmou Mauro Campbell.
A defesa do desembargador nega as acusações, sustenta que não houve recebimento de vantagens indevidas e classificou as mensagens que citam João Ferreira como “bravatas” de um advogado que gostava de ostentar relações que não existiam. Mesmo assim, o CNJ considerou os indícios suficientes para dar continuidade à apuração.
Siga o Instagram do VGN: (CLIQUE AQUI).
Participe do Canal do VGN e fique bem informado: (CLIQUE AQUI).