“Ele contou como se estivesse descrevendo uma pescaria, com uma tranquilidade assustadora.” A declaração é do delegado Bruno França, da Polícia Civil, que liderou a investigação sobre a chacina que chocou o município de Sorriso (420 km de Cuiabá) em novembro de 2023.
No julgamento do réu Gilberto Rodrigues dos Anjos, realizado nesta quinta-feira (07.08), o delegado prestou depoimento sobre o que viu e descobriu no caso que vitimou Cleci Calvi Cardoso, de 45 anos, e suas três filhas — Miliane, de 19, Manuela, de 13, e Melissa, de apenas 10 anos.
Segundo o delegado, a polícia foi acionada após o Corpo de Bombeiros relatar a presença de corpos de mulheres em uma residência. Inicialmente, pensou-se em uma possível ligação com o tráfico de drogas, mas essa hipótese logo foi descartada. Ao chegar à cena do crime, Bruno França disse que ficou em choque com o que encontrou e determinou a imediata preservação do local até a chegada da perícia.
Ainda no local, os peritos constataram que nada havia sido roubado da casa e que os crimes tinham clara motivação sexual, associados a feminicídio “cometidos de forma absurdamente violenta”. O delegado relatou que havia inúmeras evidências físicas, incluindo impressões parciais deixadas por um chinelo, que mais tarde seria peça-chave para a identificação do autor.
Durante a investigação, Bruno França foi procurado por um jornalista que o colocou em contato com uma mulher. Ela contou que seu marido trabalhava numa obra próxima e que, após a notícia da chacina, todos os pedreiros correram para ver o que havia acontecido — menos um, o homem de camiseta amarela. Esse comportamento causou estranheza e chamou a atenção da polícia.
O suspeito era Gilberto Rodrigues dos Anjos. Ao ser abordado, deu respostas desencontradas e apresentou uma cópia do documento, o que aumentou ainda mais a suspeita. O delegado pediu então o chinelo do homem, que inicialmente negou ter. Após insistência, Gilberto trouxe um par de chinelos, e a perícia confirmou a compatibilidade com as marcas encontradas na cena do crime.
Diante das provas, Gilberto foi preso. Ao ser questionado sobre o motivo do crime, alegou que “estava drogado”. França narra que, mesmo diante da brutalidade do caso, a prisão foi feita sem uso de algemas para evitar um possível linchamento popular. O próprio réu, segundo o delegado, pediu para ser retirado do local com segurança ao perceber o clima de revolta.
No interrogatório, Gilberto confessou os assassinatos e revelou detalhes cruéis. Dentro de sua sacola, a polícia encontrou uma calcinha limpa, possivelmente levada como “lembrança” dos crimes. O delegado afirmou que o réu vinha observando a rotina das vítimas dias antes do ataque e aproveitou o momento em que todas estavam em casa para invadir a residência. Ele teria entrado pelo muro dos fundos, usando uma tábua apoiada em um andaime.
Ainda de acordo com o depoimento, Gilberto lavou-se no local após o crime e tentou esconder vestígios. A perícia apontou que houve conjunção carnal com três das vítimas, sendo a exceção a menina de 10 anos, que também foi abusada e assassinada porque chorava, e o réu temia que fosse ouvida por vizinhos.
O delegado também disse que, ao descobrir o histórico criminal de Gilberto, teve a confirmação de que estavam diante de um criminoso em série.
Ainda segundo ele, a cidade de Sorriso jamais será a mesma após crime brutal: "Essa cidade nunca mais vai ser a mesma” e que “ninguém daquela casa vai ser a mesma pessoa”.
O julgamento do caso prossegue no Fórum de Sorriso, com depoimentos de testemunhas e familiares das vítimas. O réu responde por quatro feminicídios e estupro.
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