O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, confirmou nesta segunda-feira (09.06) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a existência de uma tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Delator no processo, Cid disse que a acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) é verdadeira. Segundo ele, embora não tenha participado diretamente do plano, presenciou os principais acontecimentos. Ele afirmou ainda que Bolsonaro recebeu, leu e modificou uma minuta de decreto golpista entregue por seu ex-assessor Filipe Martins em dezembro de 2022.
Segundo o militar, o ex-presidente retirou do documento as prisões de outras autoridades, mantendo apenas a do ministro Alexandre de Moraes, do STF e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de prever a realização de novas eleições.
“Sim, ele [Bolsonaro] recebeu e leu. Enxugou o documento, basicamente retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor [Moraes] ficaria como preso”, disse Cid.
Cid também relatou que Bolsonaro tentou convencer membros das Forças Armadas a apoiarem a ruptura institucional, e que ele próprio atuou para cooptar subordinados do então comandante do Exército, general Freire Gomes, que resistia ao plano.
Durante o depoimento, o tenente-coronel afirmou ainda que Bolsonaro queria uma atuação mais política e menos técnica do então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. O resultado, segundo ele, foi um relatório “intermediário”, assinado pelo general.
Sobre o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, Cid disse que ele não participou de nenhuma reunião relacionada ao golpe.
O delator também relatou a realização de duas ou três reuniões com a presença de Bolsonaro, nas quais foram discutidas formas de reverter o resultado da eleição. Em pelo menos uma dessas reuniões, foi apresentado um documento que listava supostas interferências do STF e do TSE nas eleições, e previa medidas como estado de sítio, prisão de autoridades e criação de um conselho para refazer o processo eleitoral.
Cid apontou ainda que o general Braga Netto, também réu no processo, atuou como ligação entre os manifestantes acampados em frente a quartéis e Bolsonaro. Segundo ele, o ex-presidente deliberadamente incentivou a permanência dos acampamentos. Braga Netto foi ministro da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Além disso, declarou ter recebido, dentro do Palácio da Alvorada, uma sacola com dinheiro entregue por Braga Netto. Segundo o tenente-coronel, a entrega aconteceu na residência oficial da Presidência, mas ele não soube precisar a data, nem a quantia no pacote. Ele disse acreditar que o valor possa ter vindo de pessoas ligadas ao agronegócio.
Ele também confirmou que Bolsonaro pressionou para adiar a divulgação do relatório oficial das Forças Armadas sobre a segurança das urnas eletrônicas, relatório este que foi produzido a pedido do próprio governo, mas que não encontrou fraudes no processo eleitoral.
Zambelli e hacker
Durante o depoimento Mauro Cid confirmou que o ex-presidente se reuniu com a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e com o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por invadir sistemas do Judiciário. O encontro, segundo ex-ajudante de ordem, aconteceu durante o café da manhã no Palácio da Alvorada.
Ao fim da reunião, de acordo com o depoente, Bolsonaro pediu ao então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que recebesse Delgatti acompanhado de Zambelli. Cid afirmou que a reunião chegou a acontecer no Ministério da Defesa, mas acredita que foi com um assessor, e não com o próprio ministro.
Ele também confirmou que Bolsonaro pressionou para adiar a divulgação do relatório oficial das Forças Armadas sobre a segurança das urnas eletrônicas, relatório este que foi produzido a pedido do próprio governo, mas que não encontrou fraudes no processo eleitoral.
Leia Também - STF começa a ouvir acusados de tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).