O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (10.06), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que exagerou na retórica ao levantar suspeitas de fraude nas urnas eletrônicas. A oitiva faz parte da ação que investiga uma tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022.
“Se eu exagerei na retórica, devo ter exagerado com toda a certeza”, declarou Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. O ex-presidente minimizou os ataques feitos ao sistema eletrônico de votação e afirmou que sua defesa do voto impresso visava apenas criar “uma camada de proteção” para evitar conflitos e desconfiança no processo eleitoral.
Durante o interrogatório, Moraes confrontou Bolsonaro com uma série de declarações feitas por ele ao longo do mandato, nas quais levantava suspeitas sobre a legitimidade das eleições. Bolsonaro respondeu dizendo que não era o único a questionar as urnas eletrônicas e citou declarações semelhantes, segundo ele, feitas por políticos como Flávio Dino (atualmente ministro do STF) e Carlos Lupi (presidente do PDT).
Bolsonaro também foi questionado sobre acusações feitas em reunião ministerial de julho de 2022, quando afirmou que ministros do STF estariam envolvidos em corrupção. Ele recuou, pediu desculpas a Moraes e disse que não tinha indícios para sustentar as acusações. “Não tem indício nenhum, ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada, um desabafo, uma retórica que eu usei. Então, me desculpem, não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores três”, afirmou, referindo-se também aos ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.
O ex-presidente também negou qualquer articulação com as Forças Armadas para interferir no resultado das eleições. “Em nenhum momento eu, o ministro da Defesa ou os comandos das Forças Armadas sequer pensamos em fazer algo ao arrepio da lei ou ao arrepio da nossa Constituição”, declarou Bolsonaro.
Questionado ainda sobre a operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que teria atuado para dificultar o transporte de eleitores no segundo turno, especialmente no Nordeste, Bolsonaro negou envolvimento. Disse que soube da ação apenas após o ocorrido e afirmou que “nenhum eleitor deixou de votar”.
Apesar do inquérito não ter como foco as urnas eletrônicas, Bolsonaro voltou a levantar críticas ao sistema. “Acredito que, dado o que vem acontecendo, de reclamações por ocasião das eleições, para o bem da democracia, seria bom que algo fosse aperfeiçoado, para que não pudesse haver qualquer dúvida sobre o sistema eletrônico”, disse. Moraes respondeu de forma direta: “Esse inquérito não tem nada a ver com urna eletrônica.”
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