A situação financeira da Prefeitura de Várzea Grande se tornou palco de um embate público entre a atual prefeita, Flávia Moretti (PL), e o ex-prefeito Kalil Baracat (MDB). Versões conflitantes e documentos oficiais colocam em xeque a narrativa adotada pela nova gestão sobre as dívidas herdadas e a real responsabilidade pela crise fiscal enfrentada pelo município. Confira toda documentação final da matéria.
Flávia Moretti tem reiteradamente afirmado que herdou uma Prefeitura mergulhada em dívidas, totalizando R$ 144 milhões, dos quais já teria quitado R$ 70 milhões, o que teria limitado drasticamente os investimentos municipais.
No entanto, documentos oficiais apresentados ao 
pelo ex-prefeito Kalil Baracat contradizem frontalmente a versão da prefeita. Conforme os dados entregues por Kalil, os chamados restos a pagar processados — que representam as dívidas efetivamente existentes ao fim da sua gestão — totalizaram apenas R$ 8,3 milhões.
Essa cifra inclui R$ 3,6 milhões na Educação, R$ 2,3 milhões na Saúde e outros R$ 2,3 milhões em despesas gerais, valor muito distante dos R$ 144 milhões alegados por Moretti.
Empenhos questionáveis e gestão da transição
Kalil detalhou ainda que cerca de R$ 73 milhões se referiam a empenhos não executados, os quais deveriam ter sido anulados pelo então secretário de Planejamento, João Carlos Cardoso, durante sua gestão, conforme determinações legais. Entretanto, segundo Kalil, Flávia Moretti proibiu essas anulações ao assumir o mandato, criando, na prática, o problema financeiro que agora critica.
“Esses R$ 73 milhões eram estimativas de gastos que não ocorreram. O empenho, quando emitido pela secretaria, representa uma previsão — não significa que houve execução. Não houve comprovação dos serviços. Portanto, Cardoso deixou de cumprir a obrigação que lhe cabia, o que acabou gerando essa confusão. E ele permaneceu na gestão, mesmo sem ser servidor efetivo. Quando tentou, tardiamente, cumprir seu dever no início da nova administração, Flávia não permitiu”, criticou Kalil Baracat, atribuindo a Cardoso a responsabilidade pela divergência nos números.
Gestão financeira: um contraste evidente
Além do embate sobre as dívidas, dados oficiais expõem um cenário preocupante da gestão financeira sob o comando de Flávia Moretti. Em contraste com o crescimento de 189% na receita durante os sete anos da gestão Kalil (de R$ 456 milhões anuais em 2017 para R$ 1,3 bilhão em 2024), a atual administração registrou queda de 21% na receita apenas nos primeiros seis meses de 2025.
Outro dado alarmante se refere à folha salarial, que aumentou 49% nesse curto período, saltando de R$ 29,6 milhões em janeiro para R$ 44,2 milhões em junho. Paralelamente, o número de servidores mais que dobrou, passando de 6.202 para 12.800.
Em dezembro de 2024, ainda sob a gestão de Kalil, a folha foi de R$ 36.659.222,67 bruta, com todos os encargos sociais inclusos, e havia um total de 9.991 servidores naquele mês.
“É lamentável ouvir tantas inverdades proferidas pela prefeita. São inúmeras inconsistências e a disseminação contínua de fake news — prática que, aliás, marcou sua campanha eleitoral e, infelizmente, permanece após sua posse. Em vez de apresentar resultados concretos, a prefeita tem se dedicado a utilizar redes sociais e determinados veículos de comunicação para propagar informações distorcidas. É urgente que essa postura seja revista. A continuidade desse comportamento comprometerá sua credibilidade, pois nenhum gestor engana a população por muito tempo. Chegou a hora de descer do palanque e demonstrar, na prática, a que veio. É necessário ir às ruas, ouvir a população e reconhecer as críticas que se acumulam sobre sua gestão. Os relatos são preocupantes e diversos. Deixo aqui um recado direto à prefeita: é hora de trabalhar com seriedade e responsabilidade. A situação em Várzea Grande é crítica — as ruas estão tomadas por buracos, a cidade está visivelmente suja, e o sistema de saúde, que tanto é propagandeado, está em condições precárias. Discurso não substitui ação. Ainda há tempo para mudar, mas é preciso agir imediatamente”, finalizou o ex-prefeito Kalil Baracat, deixando consignado que está à disposição da sociedade para fornecer quaisquer documentos, e lembrando que o balanço financeiro de sua gestão está disponível na Câmara de Vereadores, podendo ser consultado por qualquer cidadão.
Irregularidades apontadas e crise autoprovocada
A análise técnica dos números revela indícios claros de má gestão na administração Moretti. Os documentos oficiais apontam um exagero de 1.627% no valor das dívidas alegadas. Além disso, há registros de pagamentos realizados sem o devido empenho prévio, o que contraria as boas práticas fiscais, bem como perdas significativas na arrecadação de ICMS, estimadas em R$ 220 milhões anuais, agravadas pela ruptura de parcerias políticas fundamentais para a obtenção de recursos federais e estaduais.
A prefeita prometeu conceder uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira (21). A expectativa é de que, além das declarações já realizadas ao longo dos sete primeiros meses de gestão, sejam apresentados documentos comprobatórios que subsidiem as afirmações feitas sobre a situação do município.
Até o momento, conforme apurado pela reportagem do junto ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), não foi identificada a formalização de denúncias referentes aos fatos divulgados pela prefeita em redes sociais e na imprensa, o que impediria a devida apuração e eventual responsabilização dos envolvidos pelos órgãos competentes.
AI
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