O primeiro-damismo em Mato Grosso evoluiu nas últimas quatro décadas como uma prática institucionalizada de atuação social paralela ao Executivo estadual, marcada por continuidade, adaptação e — mais recentemente — visibilidade estratégica.
Embora a atual primeira-dama, Virgínia Mendes, tenha dado novos contornos e maior divulgação aos seus programas sociais, uma análise comparativa revela que sua gestão é, na maioria, uma releitura atualizada de modelos já testados por suas antecessoras, sobretudo pela ex-primeira-dama Terezinha Maggi.
A semeadora: Isabel Campos (1983–1987) — Faleceu em 01.12 de 2012
Esposa do ex-governador Júlio Campos, Isabel Pinto de Campos é reconhecida como a fundadora do modelo de atuação social da primeira-dama em Mato Grosso. À frente da extinta Prosol, se tornou uma espécie de “ministra” do social no governo, com ampla autonomia.
Legados marcantes: • Projeto João de Barro: construção de moradias populares
• Loteamento Osmar Cabral: criação de bairro para famílias de baixa renda
• Programas de capacitação com foco em geração de renda
• Foco em emancipação social e abandono do assistencialismo clássico
Lucimar Sacre de Campos (1991–1995)
Entre os anos de 1990 a 1994 exerceu a função de primeira-dama de Mato Grosso, implantou o programa LAAL (Liga Assistencial Amigas de Lucimar)
Thelma de Oliveira (1995–2002)
Thelma foi secretária de Promoção Social de Cuiabá e mais tarde foi eleita deputada federal duas vezes, durante os governos do esposo (Dante de Oliveira — falecido). Ela assumiu a Presidência da Fundação de Promoção Social de Mato Grosso em 1995, cargo que ocupou até 2002, sendo também Secretária Municipal de Promoção Social de Cuiabá entre 1986–1989 e 1993–1994.
A gestora inovadora: Terezinha Maggi (2003–2010)
Com experiência empresarial e visão pragmática, Terezinha Maggi ampliou e profissionalizou o escopo das ações sociais no governo Blairo Maggi. Incorporou uma lógica de resultados, mensuração e descentralização das políticas sociais, além de manter o foco no combate à pobreza com estratégias de inserção econômica.
Principais programas:
• Programa Meu Lar: habitação popular em larga escala
• Qualicopa: qualificação profissional voltada à Copa do Mundo
• Microcrédito e inclusão produtiva
• Casamentos comunitários e mutirões da cidadania
• Cobertor Solidário: campanhas sazonais de doações
Seu legado combina gestão eficiente com ações de impacto coletivo, se tornando referência para gestões posteriores.
A gestão controversa: Roseli Barbosa (2010–2015)
Roseli Barbosa inovou ao lançar campanhas educativas e projetos voltados à violência doméstica, mas sua atuação foi ofuscada por denúncias de desvios e escândalos. A proposta “Lá em Casa Quem Manda é o Respeito” antecipou uma abordagem que seria retomada anos depois.
Principais ações:
• Campanhas de conscientização sobre violência doméstica
• Expansão da política habitacional
• Fortalecimento da execução descentralizada dos programas
Samira Martins (2015–2019)
Virgínia Mendes: comunicação, parcerias e reedições (2019–presente)
Virgínia Mendes trouxe uma nova roupagem às ações sociais, mas a essência de seus programas se ancora nos alicerces construídos por Isabel e, especialmente, por Terezinha Maggi.
A adoção do conceito “SER Família” (Superação, Esperança e Respeito) reúne um conjunto de ações que — com nova identidade visual e linguagem digital — reedita projetos bem-sucedidos do passado.
Exemplos de “heranças” adaptadas:
1. Habitação Popular: o SER Família Habitação ecoa o Meu Lar e o João de Barroo
2. Capacitação Profissional: o SER Família Capacita é versão atualizada do Qualicopa e programas da Setecs
3. Apoio a Mulheres Vítimas de Violência: o SER Família Mulher retoma a pauta de Roseli com ampliação de benefícios
4. Mutirões e ações itinerantes: a Releitura direta dos Mutirões da Cidadania de Terezinha Maggi
5. Doação de cobertores: Campanhas de inverno que reproduzem o Cobertor Solidário Onde Virginia inova
Apesar da forte inspiração nas gestões anteriores, Virgínia avançou em alguns aspectos específicos:
• Foco em povos indígenas: com a criação do SER Família Indígena
• Projeção internacional: foi a primeira-dama do Estado a apresentar programas em eventos como a COP-28
• Uso intensivo de redes sociais: promovendo ampla divulgação e engajamento público
• Parcerias com a iniciativa privada: viabilizando projetos como a Delegacia da Mulher 24h — (vale destacar que somente na capital (Cuiabá), os demais municípios continuam carentes e sem delegacia da mulher 24 horas.
• A "Receita" consolidada do primeiro-damismo
A repetição de certos eixos demonstra que o primeiro-damismo em Mato Grosso se consolidou como uma prática estável de política pública, com base em: Assistência social com viés emancipatório; formação profissional e inclusão produtiva; política habitacional como eixo estruturante; defesa dos direitos das mulheres e interiorização e descentralização das ações
Virgínia Mendes administra um legado que não começou com ela. Sua marca está menos na criação e mais na modernização estética e comunicacional de um modelo consolidado, especialmente aquele desenvolvido por Terezinha Maggi — que, por sua vez, foi quem de fato revolucionou o papel da primeira-dama no Estado ao profissionalizar a gestão social.
Mais que ruptura, a história do primeiro-damismo em Mato Grosso é feita de continuidade estratégica — e Virginia, segue essa trilha pavimentada há décadas.
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