O relatório final da CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets), apresentado nesta terça-feira (10.06) no Senado, escancarou um esquema bilionário envolvendo manipulação de resultados, lavagem de dinheiro e aliciamento de influenciadores digitais para promover jogos ilegais e enganar o público – inclusive crianças e adolescentes.
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da comissão, pediu o indiciamento de 16 pessoas, entre elas a influenciadora Virgínia Fonseca, acusada de publicidade enganosa e estelionato. Segundo a CPI, ela simulava lucros para induzir seguidores ao erro. Também foi incluída a advogada Deolane Bezerra, que responderia por jogo ilegal, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Com um crescimento de 1.300% desde 2018, o mercado das bets virou um dos negócios mais lucrativos do país – e, segundo Soraya, com efeitos devastadores para a população. “O consumo das famílias caiu, empregos foram destruídos e o dinheiro migrou para o lucro astronômico de poucos”, afirmou.
A influenciadora Virgínia Fonseca informou, por meio de sua assessoria jurídica, que só deve se manifestar oficialmente após a deliberação final do colegiado da CPI das Apostas no Senado. A defesa destacou que confia no tratamento isonômico por parte da comissão. A íntegra da nota pode ser conferida ao final desta matéria.
O perigo dos jogos como o "tigrinho"
A CPI pediu a proibição total dos jogos totalmente virtuais, como o popular "jogo do tigrinho", que, segundo o relatório, são controlados por algoritmos secretos, sem qualquer transparência ou auditoria. “Esses jogos são 100% manipuláveis. Não há sorte, não há aleatoriedade, só um software programado para fazer o jogador perder”, disse Soraya.
A relatora também alertou para o uso desses jogos como ferramenta de lavagem de dinheiro, com ganhos falsos usados para "esquentar" recursos do crime, muitas vezes por meio de empresas de fachada, inclusive no exterior.
R$ 3 bilhões do Bolsa Família foram parar nas apostas
O relatório ainda revelou o impacto social desse mercado. Segundo dados do Banco Central, só em 2024, cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas – recursos que deixaram de ir para alimentação, saúde e contas básicas.
A Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo mostrou que 23% dos apostadores deixaram de comprar roupas para apostar. Outros 19% cortaram itens de supermercado. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva apontou que 52% redirecionaram para as bets o dinheiro que iriam guardar ou gastar em lazer.
Influenciadores na mira
A CPI também apontou o papel central dos influenciadores na expansão das apostas no Brasil. Muitos deles, segundo o relatório, fazem propaganda enganosa, sugerindo que apostar é uma forma de investimento ou solução para problemas financeiros. Alguns se tornaram sócios de plataformas ilegais e promovem essas empresas mesmo sem autorização de funcionamento no país.
“Há uma verdadeira lavagem cerebral sendo feita nas redes sociais, inclusive atingindo crianças e adolescentes”, afirmou a senadora.
Propostas da CPI
O relatório final sugere 20 medidas para combater o avanço descontrolado das apostas, incluindo:
Criação de um cadastro nacional de apostadores;
Proibição do uso de cartões de crédito nas plataformas;
Fim da propaganda predatória, especialmente para menores de idade;
Proibição total dos jogos virtuais não auditáveis (como o "tigrinho");
Criação de uma Plataforma Nacional de Auditoria e Monitoramento dos Jogos de Azar (PNAMJA);
Bloqueio de sites ilegais pela Anatel;
Investigação do uso de fintechs para lavagem de dinheiro, pelo Banco Central.
O relatório será votado até sexta-feira (14) e, se aprovado, será encaminhado para a Polícia Federal, Receita Federal e Coaf.
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Nota Virgínia Fonseca
A defesa se pronunciará oportunamente, após a deliberação colegiada final da CPI, sempre confiando que se observe à Virgínia o mesmo tratamento dado a outros influenciadores digitais que, assim como ela, agiram licitamente na divulgação e publicidade das Bets, e que, no entanto, não constaram como indiciados na manifestação da relatora.
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