O secretário de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Várzea Grande, Igor Cunha, em entrevista ao , apresentou seus planos para transformar a educação municipal. Com experiência como consultor empresarial na Fecomércio-MT e formação em Sociologia, ele traz uma perspectiva sistêmica e sensível às questões sociais.
Filho de professora e ex-atleta do Vasco da Gama, Igor assumiu recentemente a pasta e sua trajetória pessoal reflete a crença de que a educação é o principal instrumento de transformação social. Sua gestão foca na integração entre educação, cultura, esporte e lazer, com metas claras: alfabetização na idade certa, combate à evasão escolar, valorização dos professores e alcançar o IDEB 6.0.
Nesta entrevista, ele detalha como pretende fazer das escolas verdadeiros polos de transformação comunitária, combinando inovação tecnológica, inclusão social e desenvolvimento humano. Leia a entrevista na íntegra.
VGN - O senhor possui uma trajetória marcada pela atuação na Fecomércio-MT e uma formação multidisciplinar. De que maneira essas experiências influenciam sua visão sobre a gestão da Educação, Cultura, Esporte e Lazer em Várzea Grande?
Secretário - Minha trajetória como consultor empresarial proporcionou-me uma visão sistêmica sobre desenvolvimento humano, economia e gestão pública. Atuei diretamente na articulação entre instituições, setor produtivo e políticas públicas. Essa experiência evidenciou a importância da integração entre diferentes áreas, aspecto que considero essencial no âmbito da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer. Entendo que uma educação de qualidade vai além da sala de aula: envolve acolhimento, infraestrutura, cultura de paz, acesso à tecnologia e a criação de oportunidades para o futuro. Meu enfoque é voltado a resultados, sempre com sensibilidade social.
VGN - A formação em Sociologia proporciona um olhar sensível sobre os contextos sociais. Como esse conhecimento pode contribuir para enfrentar os desafios educacionais do município?
Secretário - Iniciei o mestrado em Sociologia com o objetivo de aprofundar meu entendimento sobre as dinâmicas sociais que influenciam a educação e as políticas públicas. Por razões profissionais e pessoais, optei por trancar temporariamente, tendo em vista a impossibilidade de conciliar, naquele período, as exigências acadêmicas com minha agenda profissional. Ainda pretendo retomar. Mesmo assim, essa experiência me proporcionou uma visão muito ampla e sensível sobre o papel da educação na construção da cidadania. Compreendi, de forma mais profunda, como a escola pode ser um espaço de transformação social, de combate às desigualdades e de promoção de oportunidades. Essa perspectiva me ajuda a pensar a educação de Várzea Grande com um olhar voltado para a inclusão, a justiça social e o desenvolvimento humano.
VGN - Embora tenha assumido o cargo recentemente, o senhor já consegue identificar quais são as prioridades mais urgentes para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas municipais?
Secretário - Nossa prioridade imediata é garantir a alfabetização na idade certa e olhar com profundidade para os jovens dos anos finais (6º ao 9º ano). Esses jovens representam a esperança de Várzea Grande, do nosso Estado e do nosso País. Vamos trabalhar fortemente para combater a evasão escolar, com um controle mais apurado da frequência e ações que deem sentido à permanência na escola.
Mais do que formar alunos, queremos formar cidadãos prontos para o mundo, com acesso a ferramentas que os preparem para o mercado de trabalho, para o empreendedorismo e, acima de tudo, para realizar seus sonhos. Acreditamos que, ao oferecer uma educação de qualidade, os jovens passam a enxergar a complexidade e as múltiplas possibilidades do mundo. Com isso, conquistam o poder de transformar suas próprias realidades.
A nossa missão é transformar vidas por meio da educação. E, claro, esse compromisso envolve também os nossos educadores e servidores. Nossa gestão tem olhos para a qualificação e valorização dos profissionais da rede, com melhoria das condições de trabalho e um ambiente onde todos possam trabalhar com leveza, propósito e motivação. É assim que vamos alcançar nossos objetivos e, juntos, caminhar rumo ao IDEB 6.0.
A nossa missão é transformar vidas por meio da educação
VGN - O acesso à tecnologia é cada vez mais essencial para a aprendizagem. Considerando sua experiência na Federação, como o senhor pretende ampliar o uso de recursos tecnológicos nas salas de aula?
Secretário - Minha experiência como consultor empresarial me mostrou o poder da tecnologia na transformação de realidades, otimização de processos e entrega de resultados. A pandemia da COVID-19 acelerou esse processo no mundo todo. Ficamos reclusos, mas aprendemos que, com um clique, conseguimos fazer quase tudo: comprar, estudar, trabalhar, nos conectar. Isso mudou a forma como vivemos e, consequentemente, como aprendemos. Por isso, acredito que a educação também precisa estar conectada com esse momento tecnológico.
Entendo que é possível, e necessário, implantar ferramentas tecnológicas nas escolas, por meio de plataformas que auxiliem no aprendizado, no acompanhamento pedagógico e no controle da gestão. Isso também é fazer gestão pública com eficiência. Vamos trabalhar com transparência, inovação e planejamento, usando a tecnologia como aliada para entregar mais qualidade, mais inclusão e mais resultados para os nossos alunos e professores.
VGN - A valorização dos profissionais da educação é fundamental para o sucesso da rede. Quais são suas propostas para a capacitação contínua e o reconhecimento dos educadores?
Secretário - A transferência do conhecimento se dá por meio do professor. Todos nós, em algum momento da vida, precisamos de um professor. No meu caso, isso é ainda mais forte: sou filho de professora aposentada da antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso, que também lecionou por muitos anos nas universidades de Cuiabá e na Universidade de Várzea Grande, e com esse trabalho sustentou nossa família, principalmente após a separação dos meus pais. Enquanto meu pai era comerciante, minha mãe criou quatro filhos lecionando de manhã, à tarde e à noite. Eu vi de perto o esforço, a dedicação e as dificuldades que acompanham a rotina de quem escolhe ensinar.
Tudo o que eu me tornei foi por meio da educação. E acredito profundamente que o conhecimento é a única coisa que ninguém pode nos roubar. Sempre repito uma frase que me guia: "Conhecimento é o único ativo que, quando se compartilha, se multiplica."
Por isso, temos um compromisso pessoal com os professores. Sabemos da importância deles para o futuro do nosso município. E mais: sabemos que os desafios dos professores da rede municipal são ainda maiores, exigindo mais suporte, reconhecimento e condições reais de trabalho. É com essa visão que pretendemos valorizar ainda mais nossos professores. Vamos investir em capacitação contínua, garantir escuta ativa, criar mecanismos de reconhecimento e melhorar a estrutura das escolas para que todos possam ensinar com dignidade, orgulho e propósito. É por meio deles que iremos transformar vidas.
VGN - A infraestrutura escolar é um dos maiores desafios, especialmente nas áreas mais afastadas e vulneráveis. Como a Secretaria pretende atuar para garantir condições adequadas de ensino nessas regiões?
Secretário - Assumi o compromisso de visitar todas as unidades escolares de Várzea Grande. Já iniciamos uma programação de visitas e, dentro de dois meses, pretendo conhecer todas as escolas da rede. Quero escutar, sentir de perto as necessidades e, principalmente, me conectar com a comunidade escolar.
A escola precisa deixar de ser apenas um prédio de aulas e se tornar um verdadeiro ponto de referência na comunidade. Por isso, queremos aproveitá-la para oferecer atividades esportivas, culturais e de lazer que envolvam não só os alunos, mas também os pais, os responsáveis e os moradores do entorno. Essa conexão entre escola, comunidade, família e professores é o que transforma uma unidade educacional em um polo de qualidade de vida. Uma escola forte, viva e integrada é capaz de diminuir até a criminalidade, porque educar também é um ato de prevenção social e de transformação coletiva.
VGN - A integração entre Educação, Cultura, Esporte e Lazer pode fortalecer os vínculos com a comunidade. Qual é a proposta da Secretaria para promover essa articulação com a comunidade escolar?
Secretário - A integração entre essas áreas se dá por diversos caminhos. Quando a escola valoriza a cultura do bairro, das famílias e das crianças, o aprendizado faz muito mais sentido. Os alunos se sentem respeitados, porque veem que o jeito de viver, falar, dançar, cozinhar e contar histórias da sua comunidade tem valor. A escola fica mais viva quando traz para dentro dela as músicas, as festas, os saberes e a história do lugar. Isso faz os alunos se sentirem parte de algo importante e ajuda todo mundo a respeitar mais as diferenças.
O esporte é um meio eficaz de inclusão social, promoção da saúde e formação de valores como disciplina, cooperação e superação. Projetos esportivos integrados às escolas e abertos à comunidade criam espaços seguros de convivência, especialmente para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Eu conheço bem essa realidade. Sempre fui um incentivador do esporte, especialmente o esporte amador e de base, muito forte nas periferias. Acredito profundamente que o esporte tem uma responsabilidade social importantíssima: ele ensina disciplina, promove inclusão, cria oportunidades e salva vidas. Falo isso com propriedade, porque vivi isso. Fui atleta. Com 14 anos fui para o Rio de Janeiro jogar no Vasco da Gama, onde permaneci até os 16 anos. Fui atrás de um sonho, como tantos jovens dos anos finais do ensino fundamental. Infelizmente, por motivos familiares e pela falta de apoio naquele momento, não consegui seguir a carreira profissional no futebol.
Mas foi nesse momento que minha mãe, professora, me disse algo que nunca esqueci: "Estude, meu filho. Estude, porque ninguém vai te segurar. Você vai realizar todos os seus sonhos por meio dos estudos." E foi exatamente isso que aconteceu. Por meio do conhecimento, conquistei muitos sonhos, inclusive alguns que vão além do que o futebol poderia ter me dado. Por isso, digo com convicção aos nossos jovens: o esporte é maravilhoso, necessário, e transforma vidas, mas ele precisa caminhar lado a lado com a escola. Já o lazer é essencial para o bem-estar, o desenvolvimento integral e a qualidade de vida. Ao promover ações recreativas, eventos e festivais que envolvam escolas, centros culturais, ginásios e praças públicas, o poder público transforma esses espaços em pontos de encontro, convivência e construção coletiva.
Nós entendemos que a articulação dessas áreas gera uma rede de proteção, afeto e oportunidades, que rompe os muros da escola e a reposiciona como um polo de transformação social, irradiando cultura, movimento e conhecimento para além da sala de aula.
VGN - Vindo de uma trajetória fora do campo educacional, como o senhor avalia o papel das iniciativas culturais e esportivas no desenvolvimento de jovens talentos em Várzea Grande?
Secretário - Entendemos que essas iniciativas funcionam como janelas que se abrem para caminhos muitas vezes inimagináveis. Um projeto de música, teatro, futebol, dança, por exemplo, pode ser o primeiro espaço onde um jovem é visto, escutado e valorizado pelo que sabe fazer bem. É ali que muitas vezes nasce um talento e, mais que isso, um propósito.
Por isso, a avaliação das iniciativas culturais e esportivas deve considerar o engajamento dos jovens, a frequência nas atividades, o vínculo com a equipe, o progresso individual e coletivo e os efeitos na permanência e rendimento escolar. É importante também olharmos para os sonhos que essas ações despertam, para as portas que abrem, para o quanto elas podem transformar trajetórias. Ao investir em cultura e esporte, o município planta sementes de futuro. Por isso, é papel da gestão acompanhar de perto, incentivar, oferecer estrutura e garantir que todos os jovens tenham acesso igualitário a essas oportunidades.
VGN - Ao projetar o futuro da Educação no município, que legado o senhor deseja construir ao longo da sua gestão?
Secretário - Quero deixar um legado de transformação real e contínua. Que, ao final da gestão, a comunidade possa desfrutar de uma rede mais forte, escolas mais acolhedoras, professores valorizados e alunos aprendendo com sentido e propósito. Meu maior desejo é que cada criança e jovem de Várzea Grande tenha orgulho da sua escola e encontre nela uma porta aberta para o futuro e para a realização dos seus sonhos.
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