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Cidades Quinta-feira, 07 de Agosto de 2025, 18:08 - A | A

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Máquinas

Filha de técnico encontrado morto em VG critica condições da enfermagem: “Não somos máquinas”

Ela também alertou para saúde mental da categoria

Rojane Marta & Angelica Gomes/VGN

A técnica de enfermagem Danieli dos Santos, filha de Hélcio José dos Santos, 53 anos, encontrado morto no banheiro da UTI do Hospital Metropolitano, em Várzea Grande, no dia 21 de julho, fez um relato emocionado durante reunião da Câmara Setorial Temática da Enfermagem, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, nesta quinta-feira (07.08), e em entrevista após o evento. Ela cobrou esclarecimentos sobre o caso, denunciou negligência e pediu mudanças na forma como os profissionais de enfermagem são tratados.

Hélcio, que tinha mais de 20 anos de experiência na área, sofria de depressão e ansiedade e já havia sido afastado pelo INSS por questões de saúde mental. Quatro dias antes de morrer, segundo a filha, ele teve sua perícia previdenciária indeferida. “Profissional de saúde não é levado a sério. A gente é tratado como máquina. O que aconteceu com o meu pai é a prova disso: uma máquina que deu defeito e foi jogada de lado”, afirmou Danieli.

De acordo com informações repassadas à família, imagens de câmeras de segurança mostram que Hélcio entrou no banheiro da UTI às 19h30 de domingo (20) e, segundo laudo, morreu por volta das 23h30. O corpo foi encontrado apenas às 16h30 do dia seguinte, cerca de 20 horas depois. “Meu pai teve quatro horas para tentar ser salvo. Passaram o plantão com ele morto no banheiro, que era de uso comum de toda a equipe. Como ninguém percebeu a ausência dele? Quem cuidou dos pacientes? Quem checou as medicações?”, questionou.

Danieli contou que a família foi avisada por telefone. “Ligaram para minha mãe e disseram: ‘Achamos seu marido morto no banheiro’. Isso não é jeito de dar uma notícia”, disse. Ela também afirmou que nem a direção do hospital, nem a cooperativa para a qual o pai trabalhava procuraram a família para oferecer apoio ou esclarecimentos. “Para mim, quem cala consente. Ninguém se preocupou em saber se precisávamos de ajuda para o velório ou para entender o que aconteceu.”

Apesar de dizer que não culpa diretamente alguém pela morte do pai, Danieli acusa o hospital de negligência. “Se a diretoria ou o secretário de Saúde disserem que isso é normal, é mentira. Existem leis trabalhistas, existem protocolos, e nada disso foi respeitado. Independente da causa da morte — se foi infarto, parada cardiorrespiratória ou até autoextermínio — meu pai não poderia ter ficado todo esse tempo ali, sem que ninguém percebesse”, declarou.

A técnica de enfermagem ressaltou que o caso do pai não pode ser tratado como um episódio isolado. Ela disse ter recebido, pelas redes sociais, relatos de situações semelhantes em outros Estados. “Hoje foi com o meu pai, amanhã pode ser com outro colega. A enfermagem não vai chorar em silêncio. Não podemos normalizar a morte de profissionais dentro de hospitais.”

Para Danieli, a morte de Hélcio evidencia três pontos urgentes para a categoria: o risco da desumanização no trabalho, a necessidade de atenção à saúde mental dos profissionais e a rejeição à ideia de que trabalhadores de enfermagem são “máquinas” substituíveis. “O que temos hoje é um CPF. Deu defeito, para e joga de lado. Foi assim com o meu pai”, disse.

Ela também destacou a importância da Câmara Setorial Temática como espaço de mobilização e voz para os trabalhadores. “Se esperarmos que outros falem por nós, vamos continuar sem voz. É a categoria que tem que se unir e gritar, porque é junto que a gente constrói força. Precisamos olhar para nós mesmos, para nossos colegas, e parar de tratar como normal o que é inaceitável.”

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