Uma extensa investigação, detalhada em decisão da juíza Edna Ederli Coutinho, revelou uma associação criminosa instalada na Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), com a participação direta de ex-diretores, servidores públicos e empresários. O esquema desviou mais de R$ 22 milhões em contratos para perfuração de poços artesianos destinados ao abastecimento de comunidades rurais em Mato Grosso.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou movimentações atípicas como saques em espécie e transferências financeiras entre empresas favorecidas pelo esquema, além de transações com parentes de diretores da estatal e políticos de Cuiabá e Várzea Grande. Em destaque, Gonçalo Ferreira Almeida, ex-diretor administrativo-financeiro da Metamat, que, através de sua empresa GFA Engenharia e Consultoria Ltda., manteve transações suspeitas com a FR Engenharia e Poços Ltda., outra investigada na operação.
O relatório do Coaf detalha repasses financeiros de valor elevado entre as duas empresas, os quais, conforme a representação policial, podem indicar a existência de contratos fictícios ou operações simuladas para disfarçar pagamentos ilegais. A suspeita é de que os valores tenham origem em contratos públicos firmados com sobrepreço ou sem a devida prestação de serviços.
A GFA Engenharia e Consultoria Ltda. foi registrada em nome de Gonçalo Ferreira até agosto de 2023, quando ele ainda exercia cargo comissionado na Metamat. Já a FR Engenharia é apontada como uma das principais beneficiárias de contratos firmados com entes públicos para perfuração de poços artesianos, justamente o foco da Operação Poço Sem Fundo.
Conforme apurado pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (DECCOR) e a Controladoria Geral do Estado (CGE-MT), pelo menos 13 contratos firmados pela Metamat entre 2020 e 2023 foram fraudados, envolvendo empresas como Tecnopoços, Uniko, Construtora Santa Lúcia, P.M Bonini, FR Engenharia e JM Poços Artesianos. A CGE-MT apontou desvios superiores a R$ 18,4 milhões apenas pela inexecução parcial ou total dos serviços contratados.
Além disso, a análise técnica identificou superfaturamento em diversos contratos. Somente no contrato nº 09/2022 com a Tecnopoços, foram detectados desvios superiores a R$ 3,6 milhões devido à elevação artificial dos preços. Outros contratos também apresentaram sobrepreço em diversos itens, reforçando a amplitude das fraudes.
A juíza determinou medidas cautelares diversas, incluindo o bloqueio judicial dos bens das empresas e envolvidos, suspensão das atividades das empresas investigadas e afastamento dos servidores públicos implicados. Também foi decretada a proibição dessas empresas contratarem novos negócios com o poder público.
Entre os principais envolvidos, Gonçalo Ferreira Almeida foi responsável pela assinatura de múltiplos contratos e atuou diretamente como ordenador de despesas, consolidando sua participação ativa no esquema fraudulento, segundo as investigações.
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