Uma dívida que começou em 1977 e hoje ultrapassa R$ 760 milhões em precatórios judiciais se transformou na maior bomba-relógio financeira da história de Várzea Grande. O passivo astronômico, equivalente a quase todo o orçamento anual do município, representa cinco décadas de litígios acumulados que agora sufocam os cofres públicos.
A revelação dos números surge em meio a uma queda de braço política entre a atual prefeita, Flávia Moretti (PL), e o ex-prefeito Kalil Baracat (MDB). Em entrevista ao , o ex-prefeito apresentou documentos oficiais que, segundo ele, "desconstroem" qualquer tentativa de responsabilizá-lo pela dívida milionária, comprovando que não há sequer um precatório referente a fatos ocorridos durante sua gestão (2020–2024).
Kalil afirmou que Moretti, mais uma vez, recorre à disseminação de informações falsas — prática que, segundo ele, já marcou sua campanha eleitoral e pela qual foi, inclusive, multada pela Justiça.
“É lamentável que, em vez de administrar com responsabilidade, ela prefira alimentar polêmicas e buscar holofotes com ataques infundados. Se realmente tivesse algo sério a apontar contra a minha gestão, deveria agir com responsabilidade e acionar os órgãos de controle, em vez de transformar a imprensa em palanque político. Quem age assim demonstra despreparo, insegurança e um claro desvio de foco dos verdadeiros problemas de Várzea Grande. Deixei a Prefeitura com a consciência tranquila. Mas deixo um recado à prefeita: comece a trabalhar, porque o tempo passa rápido — e, logo, não haverá mais ninguém a quem culpar pela própria incompetência”, externou o ex-prefeito.
Conforme documento apresentado, a dívida tem o DNA de múltiplas administrações, com processos que se arrastam desde a época de Branco de Barros até os dias atuais, criando uma herança nefasta que nenhum prefeito conseguiu resolver. Os documentos apresentados por Kalil revelam uma concentração impressionante: 90 processos respondem por 91% dos R$ 760 milhões em precatórios. Essa concentração em poucos litígios, de valores estratosféricos, expõe a verdadeira natureza da dívida — não se trata do resultado de erros pontuais de uma administração, mas de um acúmulo sistemático construído ao longo de décadas.
As dívidas são de diversos conflitos: servidores públicos lutando por direitos trabalhistas, prestadores de serviços cobrando contratos não honrados, cidadãos buscando indenizações por desapropriações mal resolvidas e uma infinidade de salários atrasados que se transformaram em bolas de neve judiciais. Ao longo de quase meio século, os gestores foram empurrando os problemas com a "barriga", até que se tornassem uma avalanche financeira.
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DAE-VG: o maior responsável pela dívida
O Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande (DAE-VG) representa mais da metade do rombo, acumulando sozinho R$ 324,9 milhões em precatórios. Esse montante reflete problemas estruturais da autarquia que se arrastam há décadas.
A análise cronológica dos precatórios revela a extensão temporal do problema: a ação mais antiga data de 1977, durante a administração de Branco de Barros, enquanto a mais recente é de 2018, na gestão de Lucimar Campos.
Ex-prefeitos lideram ranking da dívida
Murilo Domingos (falecido) — lidera com 94 processos e R$ 138,5 milhões em valores, sendo R$ 51,4 milhões do DAE-VG por contratos e serviços entre 2005 e 2009.
Wallace Guimarães aparece em segundo lugar com 13 ações somando R$ 168,4 milhões. Esse valor, que ultrapassa seu período de mandato, indica que muitos processos de gestões anteriores foram ajuizados durante sua administração. Três ações autárquicas se destacam: R$ 110,4 milhões, R$ 61,7 milhões e R$ 39,1 milhões.
O senador Jayme Campos (União) figura em nove processos que totalizam R$ 254,5 milhões, envolvendo principalmente desapropriações, reintegrações de servidores e indenizações de dívidas antigas, algumas originadas na década de 1980.
Outros ex-administradores também constam da lista: o vice-prefeito Tião da Zaeli (PL) tem 15 ações que somam R$ 39,1 milhões (R$ 24,4 milhões ligados ao DAE-VG); o deputado estadual Júlio Campos (União) responde por um processo de R$ 10,9 milhões; e a ex-prefeita Lucimar Campos possui três ações totalizando R$ 496 mil. Nereu Botelho e Carlos Gomes aparecem com valores menores: R$ 1,2 milhão e R$ 107,6 mil, respectivamente.
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