Com a colheita da segunda safra de milho em andamento, imagens de grãos armazenados a céu aberto voltam a se repetir em diversas regiões de Mato Grosso e em outros estados produtores. O problema escancara mais uma vez o gargalo estrutural da armazenagem agrícola no Brasil.
Segundo estimativas do setor, o déficit nacional de armazéns já ultrapassa 120 milhões de toneladas, o que mantém os produtores em alerta diante do risco de perdas e da pressão sobre os preços. Em 2024, o cenário se agravou por chuvas durante a colheita e pela ocupação dos silos com soja da safra anterior, obrigando muitos agricultores a recorrer ao armazenamento em silo bags ou a céu aberto.
A dificuldade em estocar tem impactado diretamente o mercado. Muitos produtores têm acelerado a venda do milho recém-colhido, mesmo com preços considerados baixos. Em diversas regiões, o cereal é negociado no mercado spot a cerca de R$ 40 por saca, com custos adicionais de R$ 4 a R$ 5 por tonelada em taxas de recepção e armazenagem. O uso de silo bags tem sido uma alternativa de menor custo operacional.
A alta movimentação também pressiona a logística. Em regiões como Rondonópolis, o frete já registra aumento, e alguns terminais suspenderam temporariamente a compra de soja para focar no escoamento do milho.
O cenário coincide com o lançamento do Plano Safra 2025/26, que prevê o Programa de Construção de Armazéns (PCA), com taxa de juros de 8,5% ao ano. O valor, considerado elevado por representantes do setor, pode desestimular novos investimentos em infraestrutura de armazenagem.
Enquanto isso, o ritmo das negociações segue lento. Muitos produtores já comercializaram até 60% da produção e estão armazenando o restante em estruturas provisórias à espera de melhores condições de mercado. A instabilidade também afeta o mercado da soja, cuja comercialização segue travada em diversos municípios.
Leia também: Crédito rural com juros reduzidos pode beneficiar mulheres da agricultura familiar em MT