Se dizendo arrependido, o ex-secretário estadual da Casa Civil, Pedro Jamil Nadaf, preso desde 15 de setembro de 2015, no Centro de Ressocialização, em Cuiabá, em interrogatório prestado na tarde desta segunda-feira (15.08) à juíza da Sétima Vara Criminal, Selma Rosane Arruda, pediu desculpas ao Ministério Público do Estado (MPE) e ao povo de Mato Grosso por ter mentido em seus depoimentos.
Nadaf prometeu, desta vez, falar a verdade e contar o que sabe. Segundo ele, nesses 11 meses em que está preso, vem sofrendo muito.
“Estou arrependido pelos atos ilegais que cometi contra o Estado. Peço desculpas ao MP, à Justiça e ao povo de Mato Grosso pelas mentiras que declarei antes” disse.
O ex-secretário de Estado admite que participou de esquema para lesar o patrimônio público. “Eu fiz parte de uma organização criminosa que roubou os cofres públicos do Estado” desabafou.
Ele prometeu que irá falar todos os atos ilegais que participou e as pessoas que ele colocou injustamente nas fraudes. Prometeu ainda, falar o nome das pessoas que realmente participaram das fraudes.
Segundo alega Nadaf, no primeiro momento mentiu porque era estratégia da defesa, mas que após refletir, decidiu delatar todo o esquema.
Conforme ele, na campanha eleitoral de 2010 do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), também preso por participação no esquema, levantou R$ 12 milhões para o peemedebista sendo que parte desse valor foi usado como “caixa dois”.
De acordo com Nadaf, após Silval assumir começou a organização criminosa como forma de arrecadar dinheiro para o pagamento da campanha do ex-governador.
Ele apontou que Chico Lima, Sílvio Correa, Marcel de Cursi, Karla Cecília também estavam com ele na organização. “Eu era responsável por receber empresários, fornecedores e tratar com os secretários que não tinham interesse em fazer parte da organização, enquanto que Silval cuidava de tratar de assuntos com empresários mais importantes e de interesse da organização” delata.
Nadaf apontou que Sílvio era o braço direito de Silval e era a pessoa responsável por tratar dos assuntos relacionados ao Coden e por receber propinas e fazer lavagem de dinheiro. “Silvio era o responsável pela questão financeira da organização. Ele que recebia as propinas para o governador” conta.
Sobre Marcel de Cursi, ex-secretário de Fazenda do Estado, Nadaf diz que ele foi o responsável por criar uma lei que blindou o governo do Estado de ser fiscalizado pelos deputados e pelo MP, além de regular a forma da concessão de incentivos fiscais para que o esquema de fraudes e cobrança de propina juntos aos empresários não fosse descoberto. Segundo ele, a lei foi aprovado em 2014 em regime de urgência, mas, depois foi revogada. Ele diz ainda, que Cursi o orientou em vários casos na questão das fraudes e cobrança de propinas junto aos empresários.
“Chico Lima fazia a parte de lavagem de dinheiro. Ele também emitiu pareceres em prol da organização criminosa. Pareceres fraudulentos” declara Nadaf ao falar do procurador aposentado.
Quanto a Karla, o ex-secretário diz que ela trabalhou sobre sua orientação, pegando propina junto aos empresários. “Ela se beneficiou do esquema. Sabia que o dinheiro era ilícito, mas não sabia como esse dinheiro vinha” revela.
Em relação aos R$ 2 milhões de propina paga pelo empresário João Batista Rosa, Nadaf conta que o dinheiro foi para pagar o financiador de campanha de Silval, que segundo ele, o peemedebista estava sofrendo pressão pelo recebimento da quantia. Para isso foi concedido de forma ilegal incentivo fiscal de forma ilegal às empresas de João Batista.
“A pessoa que Silval devia estava fazendo ameaças de morte. Tínhamos que pagar essa dívida de campanha” relata.
Nadaf afirma que tratou pessoalmente com João Batista sobre o pagamento de propina e que Marcel e Silval tinham conhecimento de tudo. "Foi o Marcel que me orientou a fazer o negócio ilícito com João" garante.
No final de 2014, conforme Nadaf para regularizar a situação das empresas de João Batista, ele colocou as empresas no decreto dos incentivos fiscais. "O governador não tinha conhecimento disso. Eu que tomei essa decisão de regularizar as empresas do senhor João".
Nadaf conta ainda, que em meados de agosto de 2015, Silval informou que eles estavam sendo investigados, e que após isso, pediu uma "varredura" em sua sala para saber se estava grampeado. Em setembro foi avisado por Marcel que seu mandado de prisão estava decretado, assim como de Silval. A informação, segundo ele, foi passada por pessoa ligada à Sefaz.
Ele disse estudar a possibilidade de leiloar seus imóveis e outros bens para tentar ressarcir o cofre público, referente ao dinheiro desviado por ele de forma ilícita.
"Todas as pessoas que fizeram parte da organização participaram porque queriam. Ninguém foi induzido" afirma Nadaf.
Nadaf explica que entregou R$ 15 mil para Marcel realizar a defesa do empresário João Batista junto à CPI da Renúncia Fiscal. "Essa defesa era de interesse da organização".
O ex-gestor afirma que procurou Silval para que o peemedebista tentasse uma articulação junto à Assembleia Legislativa do Estado para que a empresa de João Batista não fosse colocada no relatório da CPI da Renúncia Fiscal.
Segundo ele, após o final da gestão de Silval ficou dinheiro a receber de empresários ligados à propina e também ficou débitos a serem pagos por parte da organização criminosa.
O ex-secretário garante que em muitos casos pagamentos foram retidos para assegurar a cobrança de propina dos empresários
Conforme ele, em 2012 foi realizada uma reforma administrativa para fortalecer a organização criminosa, pessoas foram colocadas estrategicamente em cargos no governo do Estado para atender o interesse da organização."Em muitos casos não recebemos propinas pessoais. O dinheiro ilícito foi usado para pagamento de dívidas de campanha, mas atendia o interesse do grupo" delata.
No depoimento Nadaf aponta ainda que a organização criminosa sempre pedia que fosse recebido cheques em valores pequenos. "Era mais fácil para a operacionalização do dinheiro".
Nadaf conta que quando Eder Moraes era da Casa Civil a organização já existia e Marcel de Cursi era secretário adjunto de Fazenda e já atuava como pessoa de confiança de Moraes junto à organização e Silval Barbosa.
Ele afirma ainda, que João Batista Rosa tinha direito ao incentivo fiscal, mas que ele não seguiu os padrões legais para a concessão do benefício. "Eu assumo essa responsabilidade. Não segui os quesitos legais para a concessão. Mas, o João tinha direito".
Nadaf foi transferido para o Batalhão dos Agentes Penitenciários, após relatar ameaça de Silvio. "Eu pedi minha transferência ao CCC porque na época saiu uma matéria na imprensa que eu iria fazer delação. Na época ele (Silvio) me perguntava se fazia a delação, e a noite ele falava na cela 'esses daí vão pagar por tudo'" disse Nadaf, ao relatar ameaça de Silvio contra ele.
Ele apontou ainda que Sílvio falava nas reuniões da organização a seguinte expressão "quem tem cú tem medo". Ainda segundo ele, em um episódio foi encontrada uma cobra perto de seu carro estacionado no Palácio, que segundo ele, tinha intenção de atentar contra ele.
Em seu depoimento ele declara que não tem dinheiro no exterior, e que antes da gestão Silval foram realizados pagamentos de propinas por parte de empresários ao governo do Estado.
Diz ainda que os pagamentos feitos à empresa de João Rosa, em torno de R$ 1,5 milhão, foram de conhecimento do empresário para legalizar o pagamento ilegal. "Fizemos um acordo para legalizar os pagamentos. O João sabia da ilicitude, e nos enchergamos aí uma forma de legalizar esses pagamentos".
Sobre João Rosa ele explica que o empresário teve um benefício de R$ 2 milhões em quatro anos na concessão do incentivo. "Nunca ameacei ou extorquir o João Rosa. Éramos amigos de longa data. Sempre tratei com João dos negócios de forma amistosa. Quando iniciei a receber o dinheiro dele, falei que a quantia de R$ 2 milhões era para pagar dívida, mas não me lembro de relatar que a dívida era de campanha".
No final da audiência Nadaf disse que quer pedir segurança por parte da Justiça a sua pessoa e a sua família. "Estou muito preocupado com as ameaças que minha família recebeu aqui fora. Não estou fazendo delação, mas algumas pessoas entendem que sim e por isso peço proteção à minha família. Já relatei a autoridade policial as pessoas que fizeram a ameaça e aguardo que seja concedido proteção à minha família. Eu lá preso de certa forma estou protegido, mas minha família não" desabafou Nadaf.
Entenda – Essa oitiva de Nadaf foi solicitada pela defesa dele, após o servidor Hélio Leão de Souza, em depoimento prestado no último dia 04, relatar que ele (Nadaf) que teria determinado alteração em um dos decretos para beneficiar a empresa Tractor Parts, do delator do esquema, empresário João Batista Rosa.
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