A manhã ensolarada de sábado (21.06) se transformou em tragédia na "Capadócia brasileira". Um balão de ar quente com 21 ocupantes pegou fogo durante um voo turístico em Praia Grande, no sul de Santa Catarina, resultando na morte de oito pessoas e deixando 13 feridos. O acidente, ocorrido por volta das 8h no bairro Cachoeira de Fátima, expôs as fragilidades da regulamentação atual do balonismo turístico no país.
Segundo relatos do piloto Elvis de Bem Crescêncio, que sobreviveu ao acidente, o incêndio teve início no interior do cesto, possivelmente devido a um maçarico auxiliar utilizado para reacender a chama principal do balão. "Começou um incêndio, que a gente ainda não sabe as causas. De todas as formas ele tentou salvar as pessoas que estavam lá dentro", afirmou o advogado de defesa do piloto, Clóvis Rogério.
Uma manobra realizada pelo piloto do balão que caiu em Praia Grande, em Santa Catarina, evitou que mais pessoas morressem. Segundo o policial civil Tiago Luiz Lemos, o piloto conseguiu baixar o balão até que ele ficasse próximo do solo, possibilitando que 13 pessoas conseguissem pular do cesto com vida.
A ação rápida do piloto foi crucial para diminuir o número de vítimas. Quando percebeu o incêndio, ele conseguiu baixar a aeronave próximo ao solo e orientou os passageiros a saltarem. Contudo, nem todos conseguiram desembarcar a tempo. O balão, aliviado do peso, subiu novamente com oito pessoas ainda no cesto.
O delegado-geral Ulisses Gabriel, chefe da Polícia Civil de Santa Catarina, confirmou que três pessoas que estavam no balão que caiu em Praia Grande (SC) foram encontradas abraçadas e carbonizadas ainda dentro do cesto da aeronave. A imagem devastadora dessas três vítimas encontradas abraçadas ilustra o desespero dos momentos finais.
As vítimas identificadas
Entre os oito mortos, identificados pelas Prefeituras de Fraiburgo e Blumenau e outras instituições, estavam profissionais de diferentes áreas e famílias inteiras:
Profissionais da saúde: Andrei Gabriel de Melo, médico oftalmologista que atuava em Fraiburgo, e Leise Parizotto, médica do posto de saúde de Blumenau, que estava acompanhada da mãe, Leane Herrmann.
Uma família fragmentada: Everaldo da Rocha e Janaína Moreira, casal de Joinville, morreram no acidente, mas conseguiram salvar a filha, que conseguiu pular a tempo.
Setor esportivo: Leandro Luzzi, diretor técnico da Federação Catarinense de Patinação Artística, cuja morte foi lamentada pela instituição como uma "lacuna irreparável".
Empresários: Juliane Jacinta Sawicki e Fábio Luiz Izycki, casal de empresários cujos amigos nas redes sociais, recordaram sua "alegria contagiante".
Estado dos sobreviventes
Cinco sobreviventes da queda de balão em Praia Grande, Santa Catarina, seguem internados no Hospital Nossa Senhora de Fátima. Segundo uma nota divulgada pelo hospital, duas pessoas deram entrada com queimaduras leves de segundo grau e outros três apresentam escoriações e queixas de dor em decorrência do trauma.
A unidade de saúde informou que nenhum dos pacientes apresenta fraturas ou lesões graves, representando um alívio em meio à tragédia.
A regulamentação em questão
A tragédia ganha contornos ainda mais dramáticos quando se considera que, no início de junho, Praia Grande havia sediado um evento sobre regulamentação do balonismo, com a participação da secretária de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, Cristiane Leal Sampaio, e diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Durante o encontro, a secretária havia criticado a falta de regulamentação específica para o balonismo turístico. Atualmente, o balonismo é regulamentado principalmente pela ANAC, que exige certificação específica para pilotos — a Licença de Piloto de Balão Livre — e inspeções técnicas periódicas nos equipamentos. No entanto, como destacou Cristiane Sampaio, a regulamentação vigente está centrada na segurança aérea e ainda carece de diretrizes específicas voltadas à operação turística e comercial da atividade.
As propostas apresentadas incluíam criar um cadastro específico de operadores turísticos no Cadastur, definir critérios para autorização de voos em diferentes áreas e estabelecer uma legislação específica para a atividade.
O cenário do turismo de aventura
Praia Grande fica no extremo sul de Santa Catarina, quase na divisa com o Rio Grande do Sul. Apesar do nome, ela não fica no litoral, mas numa região serrana, cheia de cânions. O local é famoso pela prática de balonismo e é conhecido como a "Capadócia brasileira", numa alusão à famosa cidade da Turquia onde a prática também é comum.
Segundo o Plano Nacional de Turismo 2023-2027, o turismo de aventura representa cerca de 20% da demanda dos viajantes internacionais que escolhem o Brasil como destino. Entre as atividades mais procuradas está o balonismo, com destaque para cidades como Praia Grande (SC), Boituva e Piracicaba (SP), Torres (RS) e Pato Branco (PR).
Precedentes preocupantes
O acidente em Santa Catarina acontece poucos dias após um outro evento do tipo, que resultou na morte de uma mulher em Capela do Alto, no interior de São Paulo. A psicóloga Juliana Alves Pereira, 27 anos, fazia um passeio de balão no dia 15 de junho ao lado do marido, para comemorar o Dia dos Namorados.
A sequência de acidentes em menos de uma semana levanta questionamentos sobre a segurança dos passeios de balão no país e a urgência de medidas mais rigorosas.
As investigações em andamento
Em nota, a Anac lamentou profundamente o acidente com o balão tripulado de ar quente e presta solidariedade aos familiares e amigos das vítimas.
A Agência está adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e da tripulação. A Anac acompanha os desdobramentos das investigações.
As investigações estão sendo conduzidas pela Polícia Civil e forças federais. O piloto prestou depoimento e permanece à disposição das autoridades para auxiliar no esclarecimento das causas do acidente.
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