Durante o evento “Desafios do Transporte Ferroviário e Competitividade do Setor Produtivo”, realizado nesta terça-feira (05.08) pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, o presidente da Comissão de Infraestrutura e Logística do IPA e da FPA, Luiz Antônio Pagot, afirmou, em entrevista ao , que a malha ferroviária brasileira é limitada, opera de forma ineficiente e está muito aquém das necessidades do setor produtivo.
“Temos apenas 12 mil quilômetros de ferrovias efetivamente operacionais, divididos em quatro corredores. E, se desconsiderarmos as cargas das ferrovias Vitória-Minas e Carajás, o volume transportado pelo agronegócio — principalmente grãos e fertilizantes — é ainda mais modesto”, afirmou Pagot. Para ele, a precariedade logística impacta diretamente o chamado “Custo Brasil”, encarecendo a produção nacional e comprometendo a competitividade dos exportadores.
Segundo Pagot, os principais gargalos logísticos estão nos portos. Como exemplo, citou o Porto de Santos, o maior do país, onde apenas um dos três principais terminais de contêineres possui acesso ferroviário eficiente. “É inaceitável que a ferrovia chegue até o porto, mas não consiga descarregar com velocidade. Isso trava o sistema inteiro”, criticou.
Luiz Antonio Pagot também alertou para a ausência de investimentos no setor. “O BNDES, que historicamente exerceu papel estratégico no financiamento da infraestrutura, reduziu sua participação nos projetos ferroviários. E, sem crédito de longo prazo, não há como viabilizar as obras necessárias”, disse.
Ele destacou, ainda, que muitos contratos de concessão preveem obrigações de investimento que não se concretizam por falta de recursos. “O problema não é apenas a regulação, mas também a ausência de fontes de financiamento que ofereçam segurança ao setor privado.”
Novo marco regulatório
Uma das principais apostas para destravar o setor está no Projeto de Lei nº 4.158/2023, atualmente em tramitação no Senado Federal, sob a relatoria do senador Weverton Rocha (PDT-MA). O texto propõe a reestruturação do marco regulatório do transporte ferroviário, contemplando temas como direito de passagem, governança tripartite (usuários, operadores e agências reguladoras) e ampliação da participação dos usuários nas decisões.
Apesar do avanço das discussões, Luiz Antônio Pagot prevê que o projeto só será votado em 2026. “Mesmo com vontade política, a tramitação não deve ser concluída neste ano. Mas é urgente. Precisamos garantir segurança jurídica e previsibilidade para atrair investimentos e assegurar que as concessões cumpram seu papel.”
Mato Grosso: potência produtiva, desafio logístico persistente
Durante o evento, a situação de Mato Grosso foi amplamente discutida. O Estado, líder na produção de grãos do país, enfrenta dificuldades históricas para escoar sua produção. “A logística em Mato Grosso está sempre aquém do volume produzido. A BR-163 só agora começa a ser duplicada, e as demais rodovias — como a BR-158, BR-242 e BR-174 — permanecem com trechos precários ou sequer pavimentados”, lembrou Pagot.
Pagot defendeu a integração rodoviária e ferroviária com destino ao Arco Norte — utilizando os rios Madeira, Tapajós e Tocantins — como alternativa estratégica para a redução de custos logísticos. “Se não melhorarmos nossas vias alimentadoras, continuaremos com um transporte caro, perdendo competitividade e fechando portas para o mercado internacional.”
Questionado sobre o valor necessário para modernizar e ampliar a malha ferroviária nacional, Pagot foi categórico: “Estamos falando de investimentos na ordem de R$ 120 bilhões. Apenas a ampliação da capacidade no Estado de Mato Grosso já representa uma fatia considerável desse montante.”
Pagot propôs que o BNDES atue como agente de alavancagem, atraindo outras instituições financeiras e viabilizando o acesso a recursos privados. “O governo não dispõe desses recursos. No entanto, com um plano bem estruturado e garantias adequadas, o setor privado demonstra interesse.”
Propostas da Carta “Brasil Competitivo: o que queremos para as nossas ferrovias”
A carta apresentada ao final do encontro “Desafios do Transporte Ferroviário e a Competitividade do Setor Produtivo”, em Brasília, é um manifesto do setor produtivo brasileiro em defesa da modernização e ampliação da malha ferroviária nacional.
Representantes das cadeias exportadoras alertam que, apesar do saldo comercial positivo, os gargalos logísticos continuam elevando os custos de escoamento e comprometendo a competitividade do país.
O documento critica o modelo atual de concessão ferroviária, considerado ineficiente, concentrador e baseado no monopólio da infraestrutura e dos serviços. Após 30 anos de privatizações, apenas um terço dos 30 mil km de trilhos permanece ativo, e o uso da ferrovia para longas distâncias vem sendo substituído por transporte rodoviário mais caro e poluente.
Entre as principais reivindicações estão:
• Reestruturação do modelo ferroviário com maior transparência, concorrência e regulação eficiente;• Reativação e ampliação da malha ferroviária;
• Garantia de fiscalização rigorosa dos contratos e respeito à legislação ambiental;
• Adoção de sistemas de monitoramento em tempo real;
• Planejamento integrado para formação de uma rede nacional de transporte ferroviário;
• Redução da dependência do modal rodoviário e dos impactos ambientais decorrentes;
• Compromisso das autoridades com investimentos e previsibilidade regulatória.
A carta conclui com um apelo ao poder público por soluções urgentes, destacando que o setor produtivo está pronto para crescer, desde que tenha uma infraestrutura de transporte compatível com as demandas do país.
Leia também - Oferta elevada derruba preço da arroba do boi em MT
Siga o Instagram do VGN: (CLIQUE AQUI).
Participe do Canal do VGN e fique bem informado: (CLIQUE AQUI).