Em pronunciamento gravado, a ex-senadora Marina Silva agradeceu ao ministro Gilmar Mendes pela liminar que suspendeu a tramitação da lei sobre fidelidade partidária e deu fôlego ao seu Rede Sustentabilidade. Dias depois, oito senadores foram ao ministro Gilmar e prestaram solidariedade por sua decisão – na saída, Pedro Taques (PDT/MT) pronunciou uma das frases mais infames da história do parlamento brasileiro, ao dizer que o Supremo Tribunal Federal estava "colocando o Congresso nos eixos".
Embora o lado minoritário no Congresso Nacional, que tem a simpatia de Gilmar Mendes, cante vitória, é muito difícil que essa posição prevaleça. Especialmente porque o Poder Legislativo, pela primeira vez em muito tempo, reagiu de forma enérgica à violência cometida pelo STF. No Senado, o presidente Renan Calheiros (PMDB-RN) condenou a "invasão" cometida por Gilmar. Na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) considerou inatacável a tramitação da lei sobre fidelidade partidária, aprovada na casa, tanto sob o ponto de vista do regimento interno como da própria Constituição Federal.
Além disso, houve ainda a reação firme da própria sociedade, a despeito da tentativa de silenciar o debate ou de misturá-lo com outras questões, como a PEC 33, que revê poderes do STF, e a PEC 37, que disciplina investigações do Ministério Público. Aqui, no 247, defende-se a tese de que o exercício da maioria parlamentar é a expressão da própria democracia. Na Folha, Janio de Freitas argumenta que o STF não tem poderes para engavetar projetos em tramitação no Congresso. E a própria Eliane Cantanhêde reconhece que a batalha da infidelidade partidária não está ganha.
Ou seja: Gilmar Mendes terá que submeter o caso ao plenário e, provavelmente, será derrotado por seus pares. E mesmo que não seja, o Senado poderá rever uma decisão, que seria claramente ilegal e invasiva em relação às prerrogativas do Legislativo. Isso indica que o cenário mais provável para a eleição presidencial de 2014 ainda não garante a existência da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, nem da Mobilização Democrática, de Roberto Freire, que poderia, eventualmente, abrigar José Serra. Uma notícia preocupante para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, que defendem o maior número possível de candidaturas – de modo a garantir um segundo turno.
Outro ponto importante diz respeito aos interesses do próprio PMDB, que, com Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, comanda as duas casas do Legislativo. A fidelidade partidária reforça seu próprio poder e garante a legenda na posição de comando do consórcio governista por mais quatro anos.
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