Em entrevista exclusiva ao , o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), promotor Adriano Roberto Alves, rebateu falas no meio político segundo as quais o Governo do Estado não é investigado. Ele declarou que existem investigações contra o Poder Executivo, mas que o grupo “não faz pirotecnia” com estas investigações.
"Fizemos operações no ano passado contra servidores do Poder Executivo. No GAECO não existe investigação paralisada contra quem quer que seja. Se alguém sabe que existem organizações criminosas dentro do Executivo, faça a denúncia", declarou o coordenador.
Fechamento de cantinas nos presídios
Adriano concordou com declarações do governador Mauro Mendes (União) sobre o fechamento de cantinas nos presídios. O coordenador revelou que as cantinas se tornaram uma fonte de financiamento para práticas criminosas. “Inclusive, lideranças de facções criminosas declararam em audiência judicial que lucram até R$ 70 mil com esse esquema”, afirmou.
O promotor destacou que as lideranças das facções proíbem os detentos de adquirirem produtos como bolachas, refrigerantes e doces diretamente das cantinas, forçando-os a comprar através de seus intermediários, que os revendem a preços inflacionados.
“Hoje, o Estado fornece quatro refeições diárias balanceadas por nutricionistas, além de todo o material de higiene necessário. Então se querem comer docinho, tomar coca-cola, que não cometam crime”, frisou o promotor.
Gestão Adriano Roberto
Adriano destacou que, ao longo de quase dois anos à frente do Gaeco, foram realizadas 37 operações. Nesse período, foram cumpridos 315 mandados de busca, investigados 392 alvos e executados 146 mandados de prisão, além da adoção de outras medidas relevantes no combate ao crime organizado.
"Realizamos 37 operações, seja exclusivamente pelo Gaeco ou em parceria com outros órgãos, incluindo ações de abrangência regional em colaboração com Gaecos de outros estados e instituições. Isso demonstra uma crescente integração entre os órgãos envolvidos no combate ao crime organizado", destacou Adriano.
Confira entrevista na íntegra:
VGN - Promotor, quais foram as medidas adotadas para fortalecer o Gaeco no enfrentamento ao crime organizado?
Adriano Roberto Alves - Duas principais medidas foram adotadas, dentre outras. Primeiro um investimento na qualificação e aumento do número de profissionais que atuam no GAECO, principalmente com análise das extrações realizadas dos aparelhos eletrônicos, como celulares, notebook, dados em nuvem. De forma que tínhamos cerca de 11 profissionais que faziam essas análises e hoje temos cerca de 24. Isto é importante porque as investigações atualmente são pautadas basicamente nessas análises, tendo em vista que as comunicações hoje se baseiam na internet através desses aparelhos.
Segundo, ocorreram aquisição de equipamentos tecnológicos de última geração para extração desses dados e posterior análise, através de softwares avançados, e estamos buscando incorporar tecnologias de IA para aumentar ainda mais a nossa capacidade de apurar materialidade e autoria desses crimes praticados pelas facções criminosas.
VGN - Quantas unidades do Gaeco existem hoje no interior do Estado e com qual estrutura elas contam?
Adriano Roberto Alves - Hoje existem quatro unidades no interior do Estado: de Cáceres, Sinop, Rondonópolis e Barra do Garças, que contam com 10 promotores de Justiça, e passarão a contar com quatorze. Junto a eles trabalham policiais militares, policiais civis, investigadores, escrivães, delegados de polícia e analistas jurídicos. Esse quadro de pessoal também deve receber um incremento substancial no primeiro semestre deste ano. Também conta com uma estrutura de equipamentos tecnológicos de última geração para extração de dados e análise.
VGN - A atual gestão procurou estreitar ainda mais os laços com outros órgãos e instituições da área de segurança. Como se dá essa atuação conjunta e coordenada? Os resultados têm sido satisfatórios?
Adriano Roberto Alves - Sim, nós procuramos todos os atores envolvidos na investigação e persecução penal dessas facções criminais, como a Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Justiça, promotores de Justiça, trocando informações e colocando-nos à disposição dessas instituições de como nós poderíamos ajudar cada ator, tendo sido estabelecida, em cada caso, uma forma de atuação conjunta, que está produzindo grandes resultados.
VGN - O crime organizado atua de forma cada vez mais sofisticada, com alto nível de articulação e utilizando, inclusive, ferramentas tecnológicas modernas e sofisticadas. Que investimentos o Gaeco tem recebido em novas tecnologias e inteligência artificial?
Adriano Roberto Alves - O GAECO adquiriu e atualiza todos os anos as tecnologias “de ponta” utilizadas nas investigações, que são homologadas e permitidas no Brasil. Além de adoção de tecnologias desenvolvidas por GAECOS de outros Estados. São gastos dezenas de milhões de reais para nos manter na vanguarda tecnológica, inclusive, com desenvolvimento de tecnologias próprias e aperfeiçoamento das que são de terceiros adquiridas.
VGN - Qual o nível atual de formação dos profissionais que atuam nessa área? Foram feitos investimentos em qualificação?
Adriano Roberto Alves - Os treinamentos são constantes, podemos dizer que todos os meses temos profissionais em treinamento, seja aqui em Cuiabá ou nossos profissionais são enviados para receberem treinamentos por técnicos de todo o Brasil e mesmo internacionais. E a maioria dos profissionais possuem curso superior.
VGN - Como o senhor avalia a lei sancionada pelo Governo do Estado que endurece o regime disciplinar nas unidades prisionais e busca dificultar a comunicação entre os criminosos? E sobre o fechamento definitivo das cantinas?
Adriano Roberto Alves - Se no passado as cantinas foram úteis, hoje já não se justifica e é fonte para práticas de crimes. De fato, hoje o Estado fornece quatro refeições diárias para os presos, balanceadas por nutricionistas, e todo o material de higiene necessário. Por outro lado, as lideranças das facções criminosas proíbem os presos de comprarem as bolachas, refrigerantes, docinhos diretamente das cantinas, tendo que comprarem das lideranças das facções, que os repassam por preços muito maiores. Inclusive, uma dessas lideranças declarou em audiência judicial que fatura R$ 70 mil com esse esquema.
E concordo com o governador, que disse que se querem comer docinho, tomar coca-cola, que não cometam crime.
VGN - Quantas operações o Gaeco realizou durante sua gestão à frente do órgão e quais foram os resultados obtidos?
Adriano Roberto Alves - Em um ano e meio foram realizadas 37 operações, só do GAECO ou em conjunto com outros órgãos, inclusive, operações de âmbito regional com GAECOS de outros Estados e instituições, o que mostra que a integração é cada vez maior entre os órgãos. Foram cumpridos 315 mandados de buscas, 392 alvos, cumpridos 146 mandados de prisão, dentre outras medidas.
VGN - Quais estratégias o Gaeco vem adotando, principalmente nas cidades do interior, como Sorriso, Sinop, Pontes e Lacerda, municípios onde as facções criminosas são mais atuantes e onde mais se registram homicídios cruéis?
Adriano Roberto Alves - Vamos fortalecer os GAECOs próximos a essas cidades com estrutura física e humana, bem como aumentar a integração com outras instituições para fazer frente a essas demandas.
VGN - Especialistas em segurança consideram que o crime organizado vem evoluindo em sua organização financeira, inclusive, as facções estão extorquindo pequenos comerciantes. Cobram taxas mensais. O Gaeco fará uma frente de atuação?
Adriano Roberto Alves - Há investigações bem adiantadas nesse sentido e vamos incrementar ainda mais as atuações nessas frentes. Mas é essencial que a população denuncie, ainda que de forma anônima.
VGN - Durante o pleito municipal, nas eleições de 2024, muito se falou do envolvimento de políticos com o crime organizado. Estão investigando, existem denúncias?
Adriano Roberto Alves - Sim, ocorreram denúncias e estamos investigando.
VGN - Promotor, qual sua avaliação em relação à recomendação do Ministério Público sobre os seus membros não fazerem publicações políticas?
Adriano Roberto Alves - Recomendação correta.
VGN - E qual seu posicionamento sobre a alegação, de alguns setores da sociedade, de que o MP não investiga o Governo do Estado ou as ações do Governo do Estado, investigando somente prefeituras de Mato Grosso. Essa crítica é válida, qual a resposta do Gaeco para essa crítica?
Adriano Roberto Alves - Isso não procede. Inclusive, fizemos operações no ano passado contra servidores do Poder Executivo. No GAECO não existe investigação paralisada contra quem quer que seja. Se alguém sabe que existem organizações criminosas dentro do Executivo, faça a denúncia, que se tiver procedência, imediatamente instauramos procedimento investigatório.
Agora, o GAECO não faz pirotecnia com suas operações, investigamos, denunciamos, ponto! Segundo a recomendação do CNMP, divulgamos o essencial, não expondo ninguém a julgamento público, não é nosso papel.
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