Em entrevista ao , o deputado federal Emanuel Pinheiro Neto, o Emanuelzinho (MDB), criticou a gestão do governador Mauro Mendes (União), apontando uma inversão de prioridades na aplicação dos recursos públicos. Segundo ele, o governo prioriza obras de grande apelo midiático, como o investimento de R$ 1 bilhão em um parque, enquanto problemas essenciais, como o transporte público, seguem negligenciados.
O governo prioriza obras de grande apelo midiático, como o investimento de R$ 1 bilhão em um parque, enquanto problemas essenciais, como o transporte público, seguem negligenciados
O parlamentar destacou que, mesmo com o orçamento estadual tendo dobrado nos últimos anos, mais de 800 mil mato-grossenses ainda dependem de programas sociais. Para ele, isso revela concentração de renda e ausência de políticas efetivas para os mais vulneráveis. Emanuelzinho defende um modelo de gestão voltado à distribuição de renda e ao desenvolvimento econômico real.
Sem declarar apoio a nomes para 2026, o deputado defende que o próximo projeto político deve priorizar o desenvolvimento sustentável, com foco na vocação agrícola, fortalecimento da agroindústria e geração de renda.
Leia entrevista completa na íntegra
VGN - Como o senhor avalia sua representatividade junto ao povo de Mato Grosso no cargo de vice-líder do Governo Lula na Câmara?
Emanuelzinho – Percorrer Mato Grosso, especialmente os rincões, distritos e regiões mais afastadas das decisões políticas, é essencial para compreender a realidade do Estado e aproximar essas comunidades do centro das decisões administrativas do país, a Presidência da República.
Como vice-líder do governo, tenho acesso direto ao presidente, aos ministros e às ações do governo federal, o que garante mais prestígio para Mato Grosso. Na Câmara, somos 503 deputados, todos defendendo seus Estados. Aquele que tem mais espaço e influência consegue melhores oportunidades para ajudar seu povo.
É o que temos feito. Já viabilizamos mais de 2 mil moradias populares para Mato Grosso, beneficiando milhares de famílias com a saída do aluguel. Isso representa aumento de renda, mais qualidade de vida e segurança alimentar.
Também atuamos para destravar o embargo ambiental do assentamento Jonas Pinheiro, em Sorriso, permitindo a regularização fundiária de milhares de famílias. Além disso, temos conquistado recursos para a saúde e para o fornecimento de maquinários à agricultura familiar, com foco nas famílias que mais precisam do apoio do Estado.
VGN - O senhor integra comissões importantes, como a que trata da alteração na legislação do Imposto de Renda (PL 1087/25), a comissão externa da intervenção na saúde pública de Cuiabá e a Comissão de Finanças e Tributação. Quais são as principais pautas que o senhor tem defendido nesses espaços?
Emanuelzinho – Minha prioridade é garantir igualdade de oportunidades. Na Comissão de Finanças e Tributação, debatemos projetos com impacto orçamentário, tanto no aumento quanto na redução de receitas e despesas.
Defendemos a justiça tributária: quem ganha mais, paga mais; quem ganha menos, paga menos. Também denunciamos a captura do orçamento público pelo sistema financeiro, principalmente pelos bancos, por meio das altas taxas de juros. Queremos redirecionar esses recursos para quem realmente precisa: quem depende do SUS, da educação pública, seja ela básica, técnica ou superior.
VGN - O senhor votou a favor da ampliação de 513 para 531 cadeiras na Câmara dos Deputados. Como responde às críticas de que essa medida pode aumentar os gastos públicos? Essa mudança trará mais representatividade ou poderá gerar desequilíbrios entre os Estados?
Emanuelzinho – Estados fora do eixo Rio-São Paulo, especialmente fora da região Sudeste, têm crescido em população sem um aumento proporcional de representantes na Câmara. Isso prejudica a representatividade e dificulta o acesso a recursos.
O aumento no número de cadeiras será compensado pelo retorno financeiro que os novos parlamentares podem trazer por meio de emendas. Ou seja, gasta-se R$ 1, mas é possível retornar R$ 10 em investimentos.
O pacto federativo no Brasil é profundamente desigual: de cada R$ 100 arrecadados em impostos, R$ 60 ficam com a União, R$ 25 com os Estados e apenas R$ 15 com os municípios. Ampliar a representação ajuda a corrigir essas distorções.
É legítima a preocupação com os gastos públicos, mas precisamos observar também onde se gasta muito: mais de R$ 1 trilhão por ano com juros da dívida pública — recursos que poderiam estar sendo aplicados em infraestrutura, saúde, educação e geração de renda. Pouco se discute isso.
VGN - Qual é sua opinião sobre a proposta de emenda à Constituição que acaba com a reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos?
Emanuelzinho – Essa é uma discussão necessária. Pessoalmente, sou favorável ao fim da reeleição, com mandatos únicos de cinco ou seis anos. A reeleição muitas vezes leva os gestores a focarem em ações com retorno político imediato, em detrimento de políticas públicas estruturantes.
Defendo também o limite de dois mandatos para presidente da República, como ocorre nos Estados Unidos. Isso evita a perpetuação no poder e contribui para diminuir a polarização política no país.
VGN - O senhor pretende disputar a reeleição para deputado federal em 2026 ou avalia concorrer a outro cargo? Existe a possibilidade de mudança de partido antes das eleições?
Emanuelzinho – A prioridade, neste momento, é a reeleição. Ainda estamos discutindo internamente, dentro do MDB. Sinto falta de uma liderança firme no partido em Mato Grosso. O presidente Bezerra é nosso maior nome, mas tem delegado demais, o que acabou deixando o partido sem um centro de gravidade — sem projeto ou liderança clara.
O MDB sempre teve protagonismo no Estado e no Brasil. Precisamos reorganizar o partido e discutir a composição da chapa no Estado.
VGN - O senhor já tem um nome definido para apoiar ao Governo do Estado em 2026? E quanto ao Senado, apoiará algum candidato específico?
Emanuelzinho – Ainda é cedo para tratar de nomes. Mas o fato é que Mato Grosso está sendo mal administrado. Um exemplo é o investimento de R$ 900 milhões em um parque, enquanto há denúncias de desvios de R$ 300 milhões para fundos supostamente ligados ao atual gestor. Espero que o Ministério Público investigue a fundo.
Precisamos de uma gestão comprometida com a distribuição de renda e o desenvolvimento econômico real, e não com propaganda.
Apesar do orçamento estadual ter dobrado — de R$ 20 bilhões para mais de R$ 40 bilhões —, mais de 800 mil mato-grossenses ainda dependem do Bolsa Família ou do BPC. Isso evidencia a concentração de riqueza e a ausência de políticas de inclusão.
Investir R$ 1 bilhão em um parque, enquanto o transporte público enfrenta um colapso, como no caso do BRT, é uma clara inversão de prioridades. O que o Estado precisa é de um projeto que valorize sua vocação agrícola, fortaleça a agroindústria e gere renda para quem mais precisa.
VGN - O senhor é autor do projeto que altera o artigo 112 da Lei de Execução Penal, endurecendo os critérios de progressão de regime para condenados por feminicídio. Qual é a principal justificativa dessa proposta?
Emanuelzinho – O Brasil vive um descontrole alarmante quanto aos casos de feminicídio. Infelizmente, Mato Grosso lidera esse triste ranking. Mulheres estão sendo assassinadas em plena luz do dia.
É inadmissível que, mesmo com longas penas, esses criminosos cumpram apenas uma pequena parte da sentença. Nossa proposta exige o cumprimento de, no mínimo, 75% da pena em regime fechado para quem comete feminicídio.
Essa medida é essencial para garantir a segurança das mulheres e impedir que os agressores reincidam. É um passo decisivo para mostrar que a lei está sendo aplicada com firmeza.
VGN - O senhor também defende uma reforma tributária que promova maior justiça fiscal. Poderia comentar mais sobre essa pauta?
Emanuelzinho – Tenho muito orgulho de defender essa bandeira. Hoje, quem ganha mais de 200 salários mínimos por mês — cerca de R$ 300 mil — paga proporcionalmente menos impostos do que um trabalhador comum. Isso ocorre porque lucros e dividendos não são tributados, e os rendimentos financeiros têm carga tributária muito menor.
Enquanto isso, professores, policiais, enfermeiros e trabalhadores em geral pagam, em média, 30% da sua renda em impostos. Já os super-ricos pagam cerca de 15%. Isso é inaceitável.
A proposta é simples: justiça tributária. Quem ganha mais, deve pagar mais. Quem ganha menos, deve pagar menos. Um sistema justo para todos.
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