por Andrea Maria Zattar*
No dia 18 de julho, celebra-se o Dia Internacional de Nelson Mandela, instituído pela Organização das Nações Unidas em 2009, em reconhecimento à sua contribuição inestimável para a paz, a justiça social e os direitos humanos. Inspirada por esse marco, escrevo este artigo como forma de refletir sobre o papel transformador da advocacia — profissão que Mandela também exerceu — e sua potência como instrumento de resistência, reparação e liberdade.
Advogado por formação, Mandela fundou, em 1952, o escritório Mandela & Tambo — o primeiro escritório jurídico negro da África do Sul. Ao lado de seu sócio, atendeu centenas de pessoas negras que não tinham a quem recorrer. Em plena vigência do regime do apartheid, eles transformaram a advocacia em trincheira de resistência.
Mandela via o Direito como ferramenta de luta pela dignidade, pela humanidade, pela restituição da liberdade que o Estado retirava sistematicamente de muitos.
É impossível não fazer o paralelo com tantas realidades brasileiras. Como advogada, vejo diariamente pessoas que também são impedidas de exercer sua autonomia: em razão da pobreza, da cor da pele, pela precarização do trabalho, pela exclusão das políticas públicas, e pela existência de profundas diferenças sociais, econômicas e culturais.
A advocacia representa mais do que luta — representa resistência. Cabe aos profissionais militantes, comprometidos com a justiça social, resgatar o Direito como espaço de cura, de reparação e de reconstrução do humano.
A Constituição Federal de 1988 nos assegura que “a dignidade da pessoa humana” é um dos fundamentos do Estado brasileiro (art. 1º, III). Também afirma que a advocacia é indispensável à administração da justiça (art. 133).
Não se trata de comparar dores ou contextos, mas de reconhecer que o Direito só faz sentido se for instrumento de liberdade — não apenas a liberdade formal, mas aquela que permite ao sujeito escolher, viver, existir com dignidade.
A atuação profissional não se limita aos tribunais, mas se estende à defesa de inúmeros trabalhadores — especialmente daqueles que foram calados por contratos opressores ou acordos impostos pela necessidade de subsistência.
Mandela atravessou 27 anos de cárcere físico — e sua prisão proporcionou a liberdade de muitos. No dia em que foi libertado, fez o impensável: cumprimentou e apertou a mão de seus carcereiros. Um gesto simples, mas grandioso, que demonstrava que sua luta era pela justiça — e não pela vingança.
Ele sabia que não haveria liberdade verdadeira se o ódio o mantivesse prisioneiro por dentro. E é essa lição que atravessa gerações, continentes e também alcança a nossa atuação jurídica: agir com firmeza, mas também com humanidade. Defender direitos sem perder a ética. Lutar, sem nos tornarmos iguais àquilo que combatemos.
E é diante disso que nossa missão se renova: usar o Direito como ponte, não como muro.
Como advogados e advogadas, nossa atuação deve ser movida por ideias — não por rótulos. Por justiça — e não por conveniências.
Finalizo este artigo com uma frase de autoria de Nelson Mandela, que resume com precisão o espírito dessa luta:
“Estamos lutando por uma sociedade em que o povo deixará de pensar em termos de cor. Não é uma questão de raça, é uma questão de ideias.”
E, assim como ele declarou em seu discurso após sair da prisão, eu também o faço:
“Saúdo todos vocês em nome da paz, da democracia e da liberdade para todos.”
* Andrea Maria Zattar, é advogada, membro da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica – Abmcj
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