por Daniel Macedo *
Próximo de completar um ano de governo, o presidente norte-americano Donald Trump tem se notabilizado por suas decisões com conteúdo acentuadamente ufanista. Aversão ao estrangeiro, repúdio à integração internacional e ao multiculturalismo sempre fizeram parte da plataforma política de Trump, mas os resultados estão levando os Estado Unidos a uma situação de crescente isolacionismo. Seja desconsiderando os esforços mundiais em questões relacionadas ao meio ambiente, passando pela revogação de tratados comerciais e, finalmente, afastando o país dos organismos multilaterais, o atual governo está diminuindo a liderança dos EUA no mundo. Assim como no vácuo físico outras forças tendem a afluir para preencher o espaço vago, no âmbito do poder político ocorre da mesma forma. Nesse caso, o encolhimento dos Estado Unidos na seara internacional abre espaço para que a China amplie sua influência global. A ausência de visão estratégica do presidente norte-americano e a baixa confiabilidade em suas palavras impulsionam ainda mais esse cenário de transferência de poder. Sobre o descompasso na política externa norte-americana, Erick Langer, historiador da Universidade de Georgetown, explica que "enquanto todo o mundo está jogando xadrez, Trump está jogando dominó".
Na esteira desse processo, alguns eventos sugerem uma sensível mudança na estratégia de inserção geopolítica da China, que parece comemorar o evidente processo de retração internacional dos EUA. Em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Global que ocorreu em janeiro, enquanto Washington argumentava em favor do protecionismo e explicava a ideia de construir um muro na fronteira com o México, Pequim defendia com veemência o livre comércio e a globalização. Nesse encontro, a China, mesmo sendo o maior emissor mundial de dióxido de carbono provocado pelo homem, reconheceu que a poluição é um problema grave e afirmou estar determinada a tornar sua matriz energética progressivamente mais limpa. Trump, por outro lado, com seu discurso peculiar, anunciava a retirada do país do Tratado de Associação Transpacífico (TTP) e antecipava aos líderes mundiais sobre a iminente saída dos EUA do Acordo Climático de Paris, que se efetivaria alguns meses depois da reunião na Suíça. São posicionamentos diametralmente opostos de potências globais que evidenciam, por um lado, o desinteresse dos norte-americanos em relação ao exterior e, de outra parte, a atenção da China com os temas mundiais e sua disposição em ocupar o condição de líder da governança global.
A emergência da China como uma nova força unificadora, no entanto, vai muito além do meio ambiente ou comércio. O país asiático possui uma incrível capacidade de executar grandes empreendimentos integradores. No Brasil, passando pelo estado de Mato Grosso, os chineses planejam construir uma ferrovia ligando o Oceano Atlântico e o Pacifico. O projeto da Ferrovia Bioceânica no Brasil, embora grandioso, ainda é modesto se comparado com o plano que o governo do presidente Xi Jinping tem de construir a infraestrutura necessária para ligar a Ásia e a Europa. Poder político realmente não falta ao presidente chinês, que na terça-feira dia 24/10, conquistou o status de governante chinês mais poderoso em décadas, e teve o seu nome incluído na Constituição do Partido Comunista da China (PCC), um ato simbólico que o coloca à altura do fundador do regime, Mao Tsé-Tung, "o grande timoneiro".
A pretensão dos chineses em ocupar cada vez mais espaço no tabuleiro da geopolítica mundial tem sido objeto de abundante análise entre estudiosos do assunto. De fato, Donald Trump é um presidente muito polêmico e suas ações podem estar acelerando o processo de mudança no eixo de poder mundial. A observação histórica comprova que até o século 18, a China após 8 mil anos de idade e 5 mil de civilização, era a principal nação do planeta. Agora, observadores econômicos consideram que o gigante asiático está novamente pronto a superar os Estados Unidos e tornar-se a maior potência mundial, retomando uma liderança perdida há mais de dois séculos.
* Daniel Almeida de Macedo é Doutor em História Social pela USP.
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