Por Cícero Ramos*
Mato Grosso, um dos estados com maior riqueza natural do Brasil, abriga três grandes biomas — Amazônia, Cerrado e Pantanal — e concentra uma diversidade ecológica única. No entanto, essa biodiversidade está ameaçada por incêndios florestais que comprometem não apenas os ecossistemas, mas também a saúde, a segurança e a economia das populações locais.
Segundo o Relatório Anual do Fogo no Brasil (2024), elaborado pela iniciativa MapBiomas Fogo, Mato Grosso lidera o ranking nacional de áreas queimadas nos últimos 40 anos. De 1985 a 2024, 44.98 milhões de hectares foram atingidos pelo fogo, o que equivale a 21,8% do total nacional.
O ano de 2024 trouxe um crescimento preocupante nas queimadas em Mato Grosso: foram 6,7 milhões de hectares atingidos, o que representa 22% do total nacional e um aumento de 62% em relação à média histórica estadual.
Três municípios se destacaram pela alta proporção de área queimada em relação ao seu território: Luciara (229.795 ha – 54%), Conquista D'Oeste (111.634 ha – 42%) e Nova Nazaré (166.472 ha – 41%).
No acumulado entre 1985 e 2024, os municípios com maior área queimada em Mato Grosso foram: Cocalinho (1.160.384 ha), Paranatinga (1.127.089 ha), Cáceres (1.094.399 ha) e Vila Bela da Santíssima Trindade (951.990 ha).
No Pantanal mato-grossense, Cáceres registrou em 2024 a maior área queimada da região: 388.365 hectares. Já entre as terras indígenas, a mais afetada no estado no mesmo período foi a Terra Indígena São Marcos, com 169.311 hectares queimados.
O combate aos incêndios é complexo, custoso e exige grande mobilização. Em um estado com dimensões continentais como Mato Grosso, isso implica atuar com muitos equipamentos, insumos, equipes especializadas e uma logística eficiente para garantir respostas rápidas.
O fogo não deve ser visto como um vilão absoluto. Quando manejado corretamente, pode ser uma ferramenta útil. O problema surge quando foge do controle por falta de planejamento. Por isso, investir na prevenção de incêndios florestais é essencial, pois reduz os custos das operações de combate e os impactos socioambientais.
Os dados de Mato Grosso reforçam que enfrentar os incêndios não é tarefa de um só setor. É preciso envolver produtores rurais, comunidades tradicionais, órgãos ambientais, universidades, bombeiros, Defesa Civil, gestores públicos e a sociedade como um todo. A construção de soluções duradouras passa por diálogo, ciência, planejamento territorial e compromisso coletivo.
*Cícero Ramos é engenheiro florestal, vice-presidente da Associação Mato-grossense dos Engenheiros Florestais (AMEF), possui especialização em Geoprocessamento e Prevenção, Controle, Combate à Incêndios Florestais. Consultor autônomo.
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