As tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre produtos brasileiros colocam em risco bilhões de dólares em exportações do agronegócio de Mato Grosso — Estado que, sozinho, produz mais grãos do que países inteiros e é considerado o maior celeiro do Brasil.
Com uma produção estimada em 85,7 milhões de toneladas de grãos apenas em 2024, Mato Grosso lidera como o maior produtor nacional, com participação de 31,2% do total brasileiro. Para se ter dimensão dessa produção, ela é equivalente à soma da produção dos três Estados do Sul, que devem colher 85,6 milhões de toneladas.
Os números de Mato Grosso impressionam. O Estado, maior produtor brasileiro de soja, apresenta uma produção de 49,63 milhões de toneladas e uma área plantada de 12,73 milhões de hectares com a cultura da soja, consolidando-se como o 4º maior produtor mundial do grão — superando, inclusive, a soma das produções da Bolívia, Ucrânia, Rússia, Canadá e Paraguai. O volume também é superior ao produzido na China e na Índia.
Na safra 2024/2025, mesmo enfrentando a pior seca dos últimos 44 anos, Mato Grosso deve aumentar sua produção de grãos em 4,3%, atingindo 97,1 milhões de toneladas. No caso da soja, os produtores mato-grossenses devem colher 46 milhões de toneladas da oleaginosa, ante 39,3 milhões colhidas na safra 2023/2024.
Embora os Estados Unidos não sejam o principal destino das exportações mato-grossenses — posição ocupada pela China —, o mercado norte-americano tem ganhado importância crescente. A participação dos Estados Unidos nas exportações do agronegócio brasileiro aumentou de 5,9% para 7,4% em um ano, representando US$ 12,1 bilhões do total exportado pelo Brasil em 2024.
Os principais produtos exportados aos Estados Unidos foram café verde, celulose, carne bovina in natura e suco de laranja. No caso específico do agronegócio, commodities como etanol, suco de laranja e café consolidaram a parceria comercial entre Brasil e Estados Unidos na pauta de exportações do setor em 2024.
Para Mato Grosso, o impacto das tarifas será sentido principalmente nos seguintes setores:
• Soja: embora a China seja o principal comprador, os Estados Unidos representam um mercado relevante para a soja mato-grossense, especialmente no caso de produtos processados, como farelo e óleo.
• Milho: os principais Estados exportadores são Mato Grosso, Goiás, Paraná e Maranhão, com Mato Grosso liderando a produção nacional.
• Algodão: Mato Grosso, maior produtor nacional, deve participar com 70,8% da produção brasileira, totalizando 6,2 milhões de toneladas.
• Proteína animal: embora não seja o principal segmento de Mato Grosso, o Estado tem ampliado sua participação na pecuária e pode ser afetado pelas tarifas sobre carnes.
O Brasil foi, em 2023, o segundo maior exportador mundial de produtos agropecuários, movimentando cerca de US$ 149,7 bilhões, atrás apenas dos Estados Unidos. De janeiro a novembro de 2024, as exportações do agronegócio brasileiro totalizaram US$ 152,63 bilhões, representando 48,9% do total exportado pelo país no período.
Os principais setores responsáveis por esse desempenho foram: o complexo soja (US$ 52,19 bilhões), as carnes (US$ 23,93 bilhões) e o complexo sucroalcooleiro (US$ 18,27 bilhões), que, juntos, responderam por mais de 60% do total exportado.
Os produtores mato-grossenses demonstram preocupação, mas também resiliência. “O agronegócio brasileiro já enfrentou outras crises comerciais e sempre soube se adaptar”, afirma um representante do setor, consultado pela reportagem do .
A estratégia, agora, é acelerar a diversificação de mercados. O Estado tem investido fortemente em infraestrutura logística, incluindo a implantação da primeira ferrovia estadual do país e a construção da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), em Cáceres.
Apesar das adversidades climáticas, as perspectivas para Mato Grosso continuam otimistas. A primeira estimativa da safra de grãos para a temporada 2024/2025, realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), projeta uma produção de 322,47 milhões de toneladas no Brasil.
Para a soja, as exportações em 2025 estão projetadas em 105,54 milhões de toneladas, com base no aumento da produção e na demanda mundial, especialmente por parte da China.
*Esta reportagem utilizou dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e análises de especialistas do setor. Os valores mencionados estão expressos em dólares americanos, conforme o padrão do mercado internacional de commodities.
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