A produção brasileira de café em 2025 não será suficiente para recompor os estoques nacionais. A avaliação é de especialistas do setor que alertam para o risco de o país chegar ao final da safra 2025/26 com os níveis de estoque praticamente zerados.
Conforme o analista de café da StoneX, Fernando Maximiliano, a soma da produção de arábica e conilon não garantirá sobras. “De forma geral, a safra brasileira de café 2025 é insuficiente para chegarmos no final dessa temporada com estoque sobrando”, afirmou.
Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil não bate recordes de produção há cinco safras. A última vez foi em 2020/21, quando o volume colhido superou os 60 milhões de sacas. Desde então, mesmo com a demanda global firme, a produção estagnada tem pressionado os estoques.
Apesar disso, em 2024, o país exportou um volume recorde de mais de 50 milhões de sacas. Segundo Maximiliano, isso ocorreu por uma combinação de fatores. “Exportamos muito no ano passado por conta de vários motivos: preços elevados no exterior, antecipação do UDR – que depois foi até postergada –, o que levou o continente europeu a importar mais. Isso tudo contribuiu para que chegássemos ao primeiro trimestre de 2025 com estoques ainda mais baixos”, explicou.
Um relatório recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a safra brasileira 2025/26 será de 65 milhões de sacas, sendo 40,9 milhões de arábica e 24,1 milhões de robusta. O estoque de passagem, entretanto, é estimado em apenas 1,7 milhão de sacas.
O analista da Archer Consulting, Marcelo Moreira, destaca que, se confirmada a projeção do USDA, o estoque de transição entre a safra 2024/25 e 2025/26 será de apenas 640 mil sacas. “Se correto, esse estoque não consegue abastecer nem mesmo um mês do consumo interno brasileiro”, alertou.
Mesmo com a chegada da nova safra pressionando os preços para baixo, o interesse por recomposição de estoques segue fraco. “Agora começa o verão na Europa, na América do Norte e na Ásia. Nesse momento, os compradores preferem continuar gastando seus estoques a comprar nos atuais níveis de preço”, explicou o analista Lúcio Dias, especialista em agronegócio.
O analista Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, também avalia que os estoques estão praticamente zerados. “Quem guardou café com os bons preços do começo do ano não quer vender com a atual desvalorização. Como no ano passado, chegamos em março com pouquíssimo café e dificuldades de encontrar o produto. Isso deve se repetir”, alertou.
Carvalhaes acrescenta que o cenário para os próximos anos também é de incerteza. “Vamos depender da nova safra de 2026, mas temos que esperar o inverno, a primavera, as chuvas, e o comportamento das temperaturas. Mesmo que sobre algum café, não vamos formar estoques confortáveis tão cedo. Isso está acontecendo também na América Central, Colômbia e outros países produtores. A tendência é seguir vivendo da safra do ano”, completou.
Apesar das preocupações do mercado, o Conselho Nacional do Café (CNC) garante que não haverá desabastecimento. Para a entidade, os volumes produzidos ainda serão suficientes para atender à demanda interna.
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