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Política Quinta-feira, 07 de Dezembro de 2023, 15:13 - A | A

Quinta-feira, 07 de Dezembro de 2023, 15h:13 - A | A

Cuiabá

Em retorno à Câmara, vereadora diz que colegas lhe devem respeito

“A minha presença na política nunca foi para enfrentar vereadores e vereadoras", declarou Edna Sampaio (PT)

Adriana Assunção/VGN

Em seu primeiro discurso após ter sua cassação anulada, a vereadora Edna Sampaio (PT) afirmou não possuir nenhuma dívida com seus colegas de Parlamento. Pelo contrário, segundo ela, são os vereadores que, ao formarem consenso em sua cassação, devem a ela, no mínimo, respeito.

"A minha presença na política nunca foi para enfrentar vereadores e vereadoras. Não lhes devo nada e, agora, são vocês que me devem, ao menos, respeito. A minha convivência com os pares não será diferente do que sempre foi. Porém, agora sei o quanto podem ir longe, manter os seus pequenos poderes, os seus privilégios", criticou Edna, em um trecho do seu longo discurso em sessão ordinária desta terça-feira (07.12).

Edna concluiu sua fala afirmando que os colegas podem destruir uma pessoa ao mesmo tempo, em que sorriem para ela. "Mas não podem destruir um pensamento, uma voz, nossas consciências."

Dentre os temas abordados, Edna externou seu sentimento em relação à violência política de gênero e à tentativa de eliminar a primeira mulher negra da política. Além disso, questionou a responsabilização pelos gastos relacionados à sua cassação, incluindo estrutura de vereadores, salários dos profissionais do direito, da Procuradoria, técnicos de comunicação, veículos de comunicação, transmissão, exoneração de pessoal com indenização de direitos, salário de suplente, entre outros.

Esta foi a primeira sessão ordinária após o juiz da 3ª Vara Especializada da Fazenda Pública de Cuiabá, Agamenon Alcântara Moreno Junior, anular sua cassação, que havia sido aprovada por unanimidade na Câmara Municipal.

Edna destacou a importância histórica do momento, convocando todos para enfrentar desafios como o combate à pobreza, às desigualdades raciais e de gênero, e a defesa da democracia. "Foi para isso que vim aqui. Esta é a razão da minha presença na política. E nenhum consenso ordinário vai mudar isso", concluiu a vereadora.

Leia mais: Juiz cita erro em processo de cassação e devolve mandato de Edna Sampaio

VEJA NA ÍNTEGRA

Vim para dizer que não me senti menor, mesmo quando o peso que me impuseram tenha me ferido as costas, açoitadas tão cruelmente como se ainda fosse escravidão e a negra açoitada por senhores e sinhás que pretendiam amansar ou serenar o seu gênio indomável na peleia de palavras, feito jogo de capoeira que a preta aprendeu e não devia ter aprendido.

Capoeira de palavras, capoeira proibida por aqui, porque assombra os homens e mulheres brancas uma preta falando e sendo ouvida por tanta gente. E pode o oprimido falar? Disseram-me, não!! Eu lhes retruquei: Sim!! Eu sou negra livre e minha palavra ninguém vai prender.

E me juraram de morte. Eu que tive coragem de falar, fui jurada de morte pela covardia. Morte política, mas também física, emocional, psicológica. São tantas as faces da violência de gênero.

Protegida pelo consenso que me cassou. Um consenso que demonstra muito bem quem somos. O consenso do desrespeito às normas legais, às regras democráticas e à vontade popular que elegeu com maior número de votos entre as mulheres, uma vereadora negra, petista e de esquerda para representar não apenas pessoas negras, mas pessoas brancas, homens e mulheres, jovens, pessoas LGBTs, pessoas pobres, em situação de rua, migrantes que tiveram a oportunidade de ver as pautas de suas vidas sendo tratadas como o centro de um mandato popular.

Ao tentar eliminar a primeira mulher negra da política, não foi apenas a vereadora Edna Sampaio a atingida, queriam atingir o que há de mais profundo e sincero no coração das pessoas: a crença na política, na figura de uma professora, de uma mulher negra combativa e honesta.

Destruir a representação de um segmento social é destruir qualquer possibilidade das meninas e meninos negros olharem para o poder e se reconhecerem ali.

É negar a qualquer trabalhador, homem ou mulher, preto ou não, o direito de ter esperança numa política decente, feita por quem tem responsabilidade com a vida das pessoas e com a função pública que lhe foi conferida pelo voto.

Quiseram confundir as pessoas, mobilizar o ódio, destruir a minha figura pública como referência para condenar os eleitores ao sentimento de fracasso, decepção e impotência. O consenso é para impedir que haja diferença, para que não exista o diferente na política. E assim, pretende-se fazer crer que ao povo só resta escolher entre iguais porque afinal, “políticos são todos iguais”.

Eu cheguei na Câmara pelo voto de eleitores livres, conscientes e que, todos os dias encontro com eles e, são rostos tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão parecidos no desejo de uma sociedade mais justa, igualitária, sem racismo ou misiogonia, sem preconceitos de qualquer ordem.

Quantos salários a Câmara pagou mobilizar toda a sua estrutura de vereadores e vereadoras, profissionais do Direito ,da procuradoria, técnicos de comunicação, gastos com veículos de comunicação, transmissão, exoneração de pessoal com indenização de direitos, salário de suplente da vereadora e tantos outros recursos públicos gastos para um ano todo de espetáculo de cassada ilegal do primeiro e único mandato de mulher preta, representativo de pautas ausentes neste parlamento?

Quem será responsabilizado por isso, enquanto mais de 1,2 bilhões de reais de dívidas do município já ameaçam o pagamento de salários de servidores?

A minha presença na política nunca foi para enfrentar vereadores e vereadoras. Não lhes devo nada e, agora, são vocês que mede devem, ao menos respeito. A minha convivência com os pares não será diferente do que sempre foi. Porém, agora eu sei o quanto podem ir longe para manter os seus pequenos poderes, os seus privilégios. Podem destruir uma pessoa ao mesmo tempo em que sorriem para ela! Mas não podem destruir um pensamento, uma voz, nossas consciências.

A História, neste momento, nos convoca a tarefas gigantes, como o enfrentamento à pobreza, às desigualdades raciais e de gênero e à defesa da democracia. Foi para isso que vim aqui. Esta é a razão da minha presença na política. E nenhum consenso ordinário vai mudar isso.

 

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