O delegado Gustavo Belão, titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), detalhou em entrevista à imprensa, na manhã desta terça-feira (24.06), o modus operandi da organização criminosa investigada na Operação Safra 3, que causou um prejuízo superior a R$ 20 milhões com o desvio de cargas de soja e milho entre 2021 e 2023.
Belão explicou que o grupo atuava principalmente por meio do aliciamento de motoristas e funcionários de fazendas, falsificação de documentos e uso de empresas “laranjas” — legalmente constituídas para “esquentar” os produtos furtados.
“Eles aliciavam motoristas de cargas aqui no Estado. Por meio desse aliciamento, o motorista recebia cerca de R$ 25 mil por cada carga desviada. O modus operandi deles era a emissão de tíquetes falsos de descarga”, afirmou o delegado.
Os motoristas saíam de fazendas ou silos com destino, geralmente, ao Porto de Miritituba (PA), levando grãos destinados à exportação. No entanto, em vez de entregar os produtos no local previsto, desviavam as cargas para uma empresa receptadora em Cuiabá, que integrava o esquema criminoso.
Ainda conforme o delegado, a empresa receptadora emitia notas fiscais fraudulentas e revendia a carga no mercado como se fosse legal. As empresas compradoras, muitas vezes, não tinham conhecimento de que o produto era furtado, já que toda a “documentação” estava aparentemente em ordem.
Além do aliciamento de motoristas, a organização também atuava em um segundo esquema, no qual gerentes e balanceiros de fazendas permitiam a entrada de caminhões pertencentes à própria quadrilha.
“A partir do aliciamento desses funcionários, os caminhões entravam nas fazendas, carregavam as cargas de soja e milho e saíam sem qualquer dificuldade ou emissão de nota fiscal. Identificamos que cinco fazendas sofreram prejuízo superior a R$ 4,5 milhões”, completou Belão.
A Operação Safra 3 teve como alvo principal o operador financeiro da organização — responsável por movimentar e ocultar o dinheiro obtido com o esquema criminoso. O investigado ostentava nas redes sociais vídeos com maços de dinheiro e exibindo seu patrimônio milionário, que incluía jet skis, quadriciclos e até um rancho de alto padrão em Lucas do Rio Verde, a 334 km de Cuiabá. Todos os bens dele foram sequestrados.
Ao todo, foram cumpridas 63 ordens judiciais nos municípios de Cuiabá, Nova Mutum, Sapezal, Lucas do Rio Verde e Tangará da Serra, incluindo mandados de busca e apreensão, bloqueio de contas e sequestro de bens. Pelo menos 18 pessoas foram identificadas como integrantes da organização, entre motoristas, aliciadores e o operador financeiro.
Apesar do pedido de prisão preventiva, o Judiciário negou a medida com base no princípio da contemporaneidade, já que os crimes ocorreram em 2022.
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