O ex-comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Alexandre Mendes, publicou uma resposta contundente às declarações feitas pelo procurador do Ministério Público Estadual (MPE-MT), Alexandre Guedes, em entrevista ao portal nesse sábado (07.12). Guedes afirmou que o ex-comandante teria "influenciado de maneira equivocada" o governador Mauro Mendes (União) contra a implementação de câmeras corporais na Polícia Militar do Estado.
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Em resposta, o coronel Mendes rechaçou a insinuação de que teria exercido influência indevida sobre o governador. Para o ex-comandante, é subestimar a capacidade de decisão do Chefe do Executivo estadual assumir que ele seria facilmente influenciado em questões de alta complexidade, como a adoção de câmeras corporais pela PMMT. O coronel destacou que temas dessa natureza não são decididos de maneira isolada, mas envolvem análises técnicas e políticas que vão além de uma simples recomendação de qualquer assessor.
No segundo ponto de sua manifestação, o coronel Mendes questionou o pressuposto defendido por Guedes de que as câmeras corporais seriam uma ferramenta inequívoca de valorização profissional e aprimoramento da produção de provas. Ele sugere que o sistema criminal poderia avançar em direção a um modelo que respeitasse a boa-fé e a palavra do policial militar nos boletins de ocorrência (B.Os), ao invés de colocar o profissional sob constante vigilância, o que, segundo Mendes, poderia ser interpretado como uma "normalização do absurdo".
Apesar das críticas, Mendes não descartou a possibilidade de mudar de opinião caso fique provado que as câmeras efetivamente contribuem para a valorização dos policiais e para o aprimoramento do serviço público prestado à população.
A importância da divergência de opiniões
Em sua carta, o ex-comandante também reforçou que a divergência de opiniões não deve ser vista como hostilidade ou desrespeito. Mendes salientou que, mesmo dentro do Ministério Público, pode haver vozes discordantes quanto à implementação das câmeras corporais. A capacidade de discordar, segundo ele, é um exercício de independência e um sinal de que o debate democrático permanece ativo.
O coronel Alexandre Mendes encerrou sua manifestação com um tom irônico, ao afirmar que não pretende influenciar o procurador Guedes, reconhecendo que este parece estar convicto de sua posição sobre o tema. Mendes reafirmou sua disposição para o debate, desde que seja pautado pelo respeito mútuo e pela troca de argumentos sólidos, deixando claro que a discussão sobre câmeras corporais é complexa e está longe de um consenso definitivo.
Confira resposta na íntegra
Resposta ao Dr. Alexandre Guedes em razão da entrevista concedida ao portal VG Notícias na data de 07/12/2024
Diz o procurador do MPE-MT, Alexandre Guedes, que eu enquanto Comandante-Geral, "influenciava de maneira equivocada" o governador Mauro Mendes por ser contra às câmeras corporais e seu possível uso pela PMMT.
Em primeiro lugar, deveria o Dr. Guedes ao menos suspeitar que nosso Chefe do Executivo pode pensar por si mesmo, de forma independente, não se prendendo ou deixando-se influenciar por quem quer que seja para tomar uma decisão. Reputar a este ou aquele assessor o poder para influenciar uma questão importante como essa, a envolver vários atores, só pode vir de quem não conhece a complexidade do executivo e sua gestão, principalmente que temas como o das câmeras corporais têm componentes técnicos, mas também políticos, antes da adesão ou não pelo Estado.
O segundo aspecto, é o que pode passar despercebido: Dr. Guedes acha que está certo ao defender às câmeras corporais, crê, sem o benefício da dúvida, que elas representam valorização profissional e ajudam na robustez das provas colhidas.
Pergunto. Não aumentaria essa robustez se, simplesmente, tomassem como verdade o que dizemos nos B.Os? Respeitando a boa-fé do policial militar que aborda? Não resolveria, em parte, o problema da prova se o sistema criminal olhasse o policial em ação como digno de confiança? Precisamos antes fazer da sua vida um big brother porque ele, pm, em regra, está querendo esconder alguma coisa? Não seria isso uma normalização do absurdo?
Diferente do Dr. Guedes posso mudar de opinião acerca das câmeras se me mostrarem que elas valorizam o policial e contribuem para o serviço prestado ao cidadão.
Por fim, deixo ao Dr. Guedes a lembrança que temos o direito de divergir, pois mesmo no MP, há membros que talvez não assinem embaixo, com a mesma convicção, quanto ao tema "câmeras corporais".
Divergir não nos faz inimigos ou desafetos. Antes, prova nossa independência e afasta qualquer bastardia deste ou daquele policial militar em relação a qualquer outro servidor ou pensador, como o Dr. Guedes. Despeço-me, por ora, do ilustre procurador, mas sem qualquer objetivo de influenciá-lo pois sei que nesse tema ele parece deter a verdade absoluta.
Alexandre Mendes - Cel PM Veterano
Ex- Comandante-Geral
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