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Artigos Segunda-feira, 10 de Julho de 2017, 13:41 - A | A

Segunda-feira, 10 de Julho de 2017, 13h:41 - A | A

opinião

Precisamos falar sobre os haitianos

por Daniel Almeida de Macedo *

Parece ser consenso entre estudiosos e jornalistas que o Brasil está retornando à condição de nação receptora de migrantes. A consolidação do Brasil no mercado internacional, grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, e o estereótipo acolhedor do brasileiro em contraposição ao endurecimento das políticas migratórias nos Estados Unidos e na Europa estão entre as explicações para o recente aumento no ingresso de migrantes ao país.

Os haitianos compõem grande parte desses indivíduos no Brasil contemporâneo. Foi a partir do catastrófico terremoto que atingiu o Haiti em 2010, vitimando milhares de pessoas, que teve início um intenso processo de migração de haitianos ao Brasil. Em Cuiabá eles são relativamente numerosos considerando a população da cidade. São encontrados trabalhando no comércio, em panificadoras ou vendendo produtos como ambulantes no centro da cidade. Há divergências entre dados censitários, mas calcula-se que sejam em torno de 1.500 o número de haitianos vivendo na capital de Mato Grosso. Bairros como Planalto, Jardim Eldorado, Carumbé e Bela Vista concentram casas e condomínios residenciais ocupados por esses migrantes, e há ainda igrejas e espaços de convivência frequentados quase que exclusivamente pelos haitianos. Estudo por amostragem realizados pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) revelam que 77% dos haitianos em Cuiabá escolheram a região da Avenida dos Trabalhadores para viver.

Recentemente, a imprensa local tem veiculado informações diversas sobre casos de haitianos submetidos à humilhação e desrespeito. São fatos que, embora pontuais, contradizem a imagem do Brasil reputado como país cordial e receptivo. Retratam, na verdade, um país onde sobrevivem violências simbólicas que encontram nos portais e nas redes sociais o local ideal para se manifestar. Mas não é apenas no ciberespaço que os preconceitos se manifestam. Há lamentáveis relatos de racismo e assédio moral sofridos por haitianos também em locais de trabalho. Outro dado revelador das dificuldades desses caribenhos no Brasil é sua luta para vencer o desemprego. Em Cuiabá essa situação angustiante atinge 90% dessas mulheres e 30% dos homens, segundo estimativas da Superintendência do Trabalho em Mato Grosso. Efetivamente, conquistar uma vaga de emprego é um dos grandes sonhos de qualquer migrante haitiano.

A convivência entre brasileiros e haitianos na capital de Mato Grosso impõe um desafio de auto confrontação, isto é, até que ponto somos capazes de nos abrir ao diferente, ao estrangeiro, ao outro? O migrante haitiano é um migrante econômico, migra em busca de emprego, de melhores condições de vida. Não pode ser culpado por sua própria condição de existência ou colocado em constante suspeição. Se for preliminarmente considerado um invasor, que usurpa lugares e políticas sociais, a pátria de esperança que é o Brasil se converte em terra inóspita para essas pessoas.

Refletir sobre a condição do migrante haitiano no Brasil é um exercício que precisa ser feito. Trata-se de uma oportunidade para se colocar em prática a alteridade e também aprender um pouco sobre a cultura e história desse povo resiliente que mesmo colocado à prova, contraria as estimativas e não sucumbe. Mesmo diante das diferenças idiossincráticas e dos desafios gerenciais que significam o acolhimento de migrantes econômicos, nações em todo mundo vem assumindo parte da responsabilidade de garantir os direitos e garantias fundamentais daqueles que deixam seu país de origem em busca de um recomeço em outro lugar, livre de agonias e perseguições. Com sensibilidade e atenção, Cuiabá e sua multicultural população podem tomar parte nessa valorosa ação global e ajudar no gradual processo de integração dos haitianos à sociedade brasileira.

* Daniel Almeida de Macedo é Doutor em História Social pela USP

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