por Alfredo Guarischi *
As pessoas públicas não têm a vida fácil. Pois é, Chico Buarque teve uma experiência semelhante à que passou Alexandre Garcia. Em sua crônica do podcast de 28 de dezembro na Rádio Itatiaia, o jornalista relata o que Chico Buarque fez com ele em frente à TV Globo, em 1989. O que ocorreu em 2015 com o grande compositor está documentado no YouTube. A diferença entre os dois áudios é de sete segundos: 2min16s e 2min33s, respectivamente. Estatisticamente insignificante. Na essência são exemplo de intolerâncias.
Mas essas manifestações são lamentáveis e antigas.
No mesmo YouTube, pode-se assistir à destruição de 15 anos de pesquisa da Embrapa em Itapetapetininga (SP), ação das Mulheres Camponesas, ligado ao MST, em março de 2015. Meses depois, em novembro, ocorre a destruição de diversas escolas públicas em São Paulo por alunos discordantes das alterações propostas pelo governador, que, de forma igualmente intolerante, quis mudar o ensino no estado, sem pelo menos discutir o tema.
Na noite de 18 de janeiro de 2002, Celso Daniel, no seu terceiro mandato de prefeito de Santo André (SP), estava num carro blindado quando foi sequestrado. Seu corpo, perfurado por diversos tiros, foi encontrado dois dias depois.
Numa pesquisa aos noticiários de diversos jornais, lê-se que uma das principais testemunhas do caso Celso Daniel, justo um de seus seqüestradores, foi morta três meses após o crime. A pessoa que escondeu esse sequestrador em sua casa após o sequestro foi fuzilada em novembro de 2002. Um investigador da Polícia Civil que havia telefonado para o sequestrador na véspera da morte de Celso Daniel foi morto a tiros. O garçom que serviu o prefeito na noite do crime, pouco antes do seqüestro, foi morto. Uma testemunha da morte desse garçom levou um tiro 20 dias depois. O agente funerário que reconheceu o corpo jogado na estrada como sendo do prefeito e que chamou a polícia, em Juquitiba, morreu com dois tiros. O legista que atestou marcas de tortura no cadáver de Celso Daniel foi encontrado morto em seu escritório.
Os questionamentos sobre esse crime feitos pela deputada federal Mara Gabrilli ao Sr. Gilberto Carvalho e ao Sr. José Carlos Bumlai, no Congresso Nacional, estão no YouTube. Dão arrepios.
No nós ou eles, qualquer que seja o contexto, reside a diferença entre tolerar e concordar com. Aceitar a existência do outro ou das diferenças; não confundir adversário com inimigo. Posso não concordar com uma ideia ou pensamento, mas, numa democracia, a tolerância é obrigatória.
Sim, chega de intolerância e tristeza.
Alfredo Guarischi é médico, cirurgião geral e oncológico, especialista em Fator Humano
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