A realização de cirurgias plásticas em clínicas de baixo custo pode expor pacientes a riscos graves, segundo a médica especialista em medicina legal e perícia médica Caroline Daitx. Em entrevista ao , ela explicou que estruturas com margens financeiras estreitas podem comprometer materiais, equipe e higiene, resultando em infecções, uso de substâncias inadequadas e falta de suporte em complicações.
Conforme a especialista, sinais como ausência de anestesista, realização de cirurgias em locais sem estrutura hospitalar, promessas de resultados rápidos, profissionais sem registro em sociedades reconhecidas, como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), e falta de informações claras sobre riscos e consentimento devem ser encarados como alertas. “Clínicas que realizam múltiplas cirurgias em sequência, em espaços improvisados, ou que não informam dados sobre a equipe, representam grande perigo”, afirma.
Sobre complicações graves, a especialista destacou que a perícia médica é fundamental para diferenciar fatalidades de falhas técnicas. “A perícia analisa documentos, escuta os envolvidos e compara condutas com protocolos técnicos para verificar se houve negligência, imprudência ou imperícia”, disse. Segundo Caroline, o perito examina prontuários, exames, conduta da equipe diante de complicações e histórico dos profissionais para identificar falhas.
A médica esclareceu que complicações podem ocorrer mesmo em procedimentos corretos e que somente condutas inadequadas ou omissões configuram erro médico passível de responsabilização. Ela também ressaltou que a escolha de materiais e técnicas é parte essencial da análise pericial, já que produtos não autorizados pela Anvisa ou técnicas experimentais podem comprometer resultados e caracterizar imprudência.
Caroline orientou que pacientes verifiquem a formação do cirurgião, avaliem a estrutura da clínica e leiam atentamente o termo de consentimento antes de optar por uma cirurgia estética. Segundo ela, desconfiar de preços muito baixos e promoções pode ser decisivo para evitar riscos à saúde.
A especialista destacou ainda que a perícia médica é determinante para vítimas de danos permanentes obterem reparação judicial. O laudo técnico estabelece o vínculo entre o procedimento e o dano e pode embasar ações cíveis, éticas e criminais. “A perícia também contribui para melhorar a qualidade dos serviços ao identificar falhas e estimular boas práticas”, concluiu.
Confira a entrevista na íntegra:
Quais são os principais riscos que pacientes correm ao realizar cirurgias plásticas em clínicas de baixo custo?
Caroline Daitx: Clínicas de baixo custo frequentemente operam com margens financeiras estreitas, o que pode comprometer desde a escolha dos materiais até a qualificação da equipe e as condições de higiene e segurança. Os principais riscos envolvem infecções graves, uso de substâncias inadequadas, ausência de suporte em intercorrências, profissionais sem especialização e infraestrutura precária. A promessa de resultados rápidos e baratos muitas vezes esconde práticas perigosas que colocam em risco a vida e a integridade física do paciente.
Que sinais ou alertas podem indicar que uma clínica não oferece condições adequadas de segurança para procedimentos estéticos?
Caroline Daitx: Alguns indícios são bastante claros, como ausência de anestesista, realização de cirurgias em locais sem estrutura hospitalar, profissionais sem registro em sociedade médica reconhecida (como a SBCP), falta de explicações claras sobre riscos e consentimento, promessas de resultados milagrosos e indução ao procedimento imediato.
Clínicas que fazem múltiplas cirurgias no mesmo dia, em ambiente improvisado, ou que não disponibilizam dados da equipe técnica, devem ser vistas com extrema cautela.
Em casos de complicações graves, qual é o papel da perícia médica para apurar se houve erro médico ou falha estrutural no atendimento?
Caroline Daitx - A perícia médica é o instrumento técnico de avaliação dos fatos em processos judiciais ou administrativos. Quando há complicações, ela é essencial para determinar se o evento decorreu de uma fatalidade possível mesmo com boa prática, ou se houve negligência, imprudência, imperícia ou falhas na estrutura da clínica. A perícia analisa os documentos, escuta os envolvidos, compara condutas com protocolos técnicos e define, com base científica, se houve ou não desvio da conduta esperada.
Quais são os principais elementos que um perito analisa para identificar negligência, imprudência ou imperícia em cirurgias plásticas?
Caroline Daitx - O perito vai buscar entender se houve falta de cuidado (negligência), precipitação ou risco desnecessário (imprudência) ou incapacidade técnica (imperícia). Para isso, ele analisa prontuários, consentimento informado, exames pré-operatórios, evolução do caso, condutas adotadas frente a complicações e o histórico da equipe e da instituição.
A ausência de orientações ao paciente, a realização de procedimentos sem critério técnico ou o despreparo para lidar com intercorrências são exemplos de falhas que podem configurar culpa.
O que diferencia uma complicação comum, que pode ocorrer mesmo em procedimentos regulares, de um erro médico passível de responsabilização?
Caroline Daitx - Complicações podem ocorrer mesmo em cirurgias bem indicadas e bem executadas. O que diferencia um evento previsível de um erro médico é a forma como ele foi prevenido, comunicado e tratado. Se a conduta do profissional estiver alinhada às boas práticas e se o risco tiver sido devidamente explicado ao paciente, a complicação não configura erro. Mas se houve omissão, conduta técnica inadequada ou falta de resposta a sinais de alerta, então o fato pode sim configurar falha passível de responsabilização.
Como a perícia médica lida com situações em que não há consenso entre profissionais sobre a conduta adotada pelo cirurgião?
Caroline Daitx - A medicina não é uma ciência exata, e algumas condutas podem variar entre especialistas. O perito, nesses casos, avalia se a conduta adotada estava dentro dos limites aceitáveis pela literatura médica e pelas diretrizes das sociedades científicas. Quando há divergência técnica, o foco recai sobre a justificativa clínica para a escolha feita, a adequação ao caso específico do paciente e a execução correta da técnica. O perito não julga se foi a melhor conduta possível, mas se foi uma conduta aceitável.
A escolha de materiais e técnicas cirúrgicas também pode ser analisada em uma perícia? Como isso influencia o resultado?
Caroline Daitx - Sim, a escolha de materiais e técnicas é parte importante da análise pericial. Produtos de baixa qualidade, próteses não autorizadas pela Anvisa ou técnicas experimentais sem respaldo podem comprometer o resultado e configurar imprudência. O perito verifica se os insumos eram adequados, se estavam dentro dos padrões de segurança e se a técnica utilizada era reconhecida. A compatibilidade entre a técnica, o perfil do paciente e o resultado obtido é central para avaliar a responsabilidade.
Que cuidados os pacientes podem tomar antes de uma cirurgia estética para reduzir riscos e evitar problemas futuros?
Caroline Daitx - O primeiro passo é verificar se o cirurgião tem título de especialista reconhecido. Também é fundamental que o paciente busque informações sobre a estrutura da clínica, exija explicações detalhadas sobre riscos e alternativas, leia atentamente o termo de consentimento e não se deixe levar por promoções ou pressões para realizar o procedimento. Desconfiar de resultados rápidos, preços muito abaixo do mercado e pacotes promocionais pode ser o que vai salvar a vida do paciente. Segurança vem antes da estética.
Em casos de danos estéticos permanentes, como a perícia pode contribuir para que a vítima busque reparação judicial?
Caroline Daitx - A perícia médica é decisiva nesses casos. Ela estabelece o nexo entre o procedimento realizado e o dano sofrido, além de quantificar a repercussão funcional, estética e psicológica do prejuízo. A partir disso, o juiz pode avaliar se há direito à indenização e qual seria o valor justo. O laudo pericial pode embasar tanto a responsabilização civil quanto, em alguns casos, desdobramentos na esfera ética e criminal.
Como a atuação de peritos médicos pode ajudar a melhorar a qualidade dos serviços oferecidos na área de cirurgias plásticas?
Caroline Daitx - O trabalho pericial vai além de apontar erros. Ele gera dados, evidencia padrões de falha e contribui para o aprimoramento de protocolos e condutas. Quando bem feita, a perícia educa o sistema, estimula a boa prática profissional e ajuda a proteger tanto os pacientes quanto os profissionais que atuam de forma responsável. É uma ferramenta de controle de qualidade e de justiça.
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