A intensificação das mudanças climáticas poderá provocar uma expansão significativa dos vetores da Doença de Chagas no território brasileiro, com destaque para a região amazônica. É o que revela um estudo publicado na revista Medical and Veterinary Entomology, liderado pelo professor Leandro Schlemmer Brasil, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com pesquisadores da UFPA, UFRA, Instituto Evandro Chagas e Universidade de Bristol, no Reino Unido.
Metodologia abrangente analisa 55 espécies de vetores
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores utilizaram modelagem de nicho ecológico e analisaram mais de 11 mil registros de ocorrência de 55 espécies de barbeiros — insetos transmissores do protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença. O estudo examinou a distribuição geográfica atual e futura dos vetores em cenários de mudança climática projetados até 2080.
As simulações contemplaram dois cenários distintos: um de aquecimento moderado (SSP2-4.5) e outro mais severo, baseado em altas emissões (SSP5-8.5).
Resultados indicam mudanças significativas a partir de 2050
Os resultados mostram que, embora até 2050 o panorama de distribuição dos insetos se mantenha relativamente estável, a partir de então as mudanças se tornam significativas. Haverá um avanço das áreas favoráveis aos vetores, especialmente na Amazônia Legal.
Segundo o estudo, essa expansão poderá aumentar o risco de transmissão da Doença de Chagas em regiões até então menos afetadas. A preocupação se acentua diante da precariedade de moradias em áreas vulneráveis, condição que favorece o contato entre os insetos e os seres humanos.
Arco do desmatamento emerge como nova área de risco
Os pesquisadores alertam que o arco do desmatamento — região marcada pelo avanço da fronteira agrícola, garimpo ilegal e perda de cobertura vegetal — poderá se tornar um novo foco de risco. Isso ocorre porque as mudanças climáticas combinadas ao uso do solo estão modificando os habitats naturais, criando novas condições favoráveis aos barbeiros.
Múltiplos fatores climáticos influenciam a dinâmica dos vetores
Além do aumento da temperatura, as alterações nos padrões de chuva e a intensificação de eventos extremos, como secas e enchentes, também influenciam a dinâmica ecológica dos vetores. O estudo aponta ainda que essas mudanças podem afetar não apenas os insetos, mas também os mamíferos que servem como hospedeiros do parasita, ampliando os riscos de transmissão.
Pesquisadores recomendam ações urgentes de saúde pública
Diante desse cenário, os autores defendem a adoção urgente de estratégias de saúde pública adaptadas ao clima, incluindo reforço na vigilância de vetores, melhorias habitacionais e campanhas preventivas. Eles destacam que ações antecipadas poderão evitar surtos futuros em regiões ainda não impactadas pela doença.
A pesquisa, que contou com apoio do CNPq e de instituições internacionais, reforça a necessidade de considerar os efeitos das mudanças climáticas nas políticas de controle de doenças tropicais negligenciadas como a Doença de Chagas.
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