por Edina Araújo*
As declarações do procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, Deosdete Cruz, durante o lançamento do programa "Tolerância Zero ao Crime Organizado", realizado nessa segunda-feira (25.11), acerca da possibilidade de gravações de conversas entre advogados e seus clientes são, no mínimo, inquietantes. O posicionamento suscita sérias preocupações sobre as prerrogativas da advocacia, pilar indispensável para a garantia de direitos e a preservação do Estado Democrático de Direito.
É oportuno recordar episódios relevantes envolvendo a gestão pública no Estado, em que o procurador-geral de Justiça deixou passar sem se posicionar em favor da sociedade. Quem não se lembra do escândalo em que o governador utilizou uma UTI aérea, paga com recursos públicos, para participar do aniversário do empresário fundador da JBS, em outro Estado? O procurador-geral de Justiça, Deosdete Cruz, justificou, em 1º de agosto deste ano, ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que seria "natural" a participação de autoridades e chefes de poder em eventos de diversas naturezas, sejam públicos ou privados. A justificativa foi no âmbito da representação disciplinar movida pelo deputado federal Emanuel Pinheiro Neto, conhecido como Emanuelzinho (MDB), por suposta “proximidade pessoal” com o governador Mauro Mendes e sua esposa.
Ele argumentou que a figura do agente político é indissociável da esfera pessoal. Será mesmo? O agente público pode dispor livremente de recursos públicos para fins particulares?
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Temos que lembrar também do episódio em que a primeira-dama do Estado utilizou um veículo oficial, com motorista pago por recursos públicos, para visitar uma loja da Gucci no Shopping Iguatemi, em Brasília, em 11 de setembro deste ano. Um verdadeiro escárnio para uma população que luta diariamente para ter o mínimo, muitas vezes sem sequer possuir um par de chinelos para calçar, mas paga os impostos para manter estas benesses vergonhosas. Mais uma vez, o silêncio do procurador-geral ecoou como um tapa na cara da sociedade.
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Agora, em vez de se dedicar a essas graves questões que assolam Mato Grosso, Deosdete volta suas atenções para a advocacia, uma profissão historicamente reconhecida como a última linha de defesa contra abusos de poder. A sociedade esperava muito mais de um procurador-geral de Justiça, que deveria ser o guardião do interesse público e da legalidade. Contudo, parece estar mais preocupado em agradar aos detentores do poder estabelecido.
Deosdete Cruz, permita o desabafo desta jornalista que até então te admirava: sua atuação tem sido uma decepção para os mato-grossenses. Sua função não é vigiar advogados, mas zelar pela justiça e pela dignidade de todos os cidadãos. A sociedade exige postura, coragem e comprometimento — qualidades que, até o momento, o senhor não tem demonstrado de forma suficiente.
Que a história registre essa lamentável trajetória e que a sociedade permaneça vigilante, cobrando daqueles que deveriam defender seus direitos em vez de perpetuar desigualdades e injustiças.
*Edina Araújo, jornalista e diretora do Portal VGNOTICIAS
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