Alunos negros de sete programas de pós-graduação da USP receberão bolsas de estudo por meio de um acordo entre o Grupo Carrefour, o Ministério Público Federal e outras instituições de Justiça.
No Brasil todo, o Carrefour pagará 883 bolsas de estudos para alunos negros, sendo 305 para a graduação, 223 para especialização, 304 para mestrado e 51 para doutorado, tanto em instituições públicas quanto privadas.
O aporte é de R$ 68 milhões, parte do total de R$ 115 milhões do acordo que a empresa fez com a Justiça após a morte de João Alberto Silveira Freitas, agredido por seguranças em uma unidade da rede de supermercados em Porto Alegre, em novembro de 2020.
Na USP, a coordenadoria responsável por cada curso selecionará quantos e quais alunos receberão as bolsas, de acordo com seus próprios critérios de seleção e valores a serem recebidos.
Os programas de doutorado e mestrado selecionados foram: humanidades, direitos e outras legitimidades, da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas); mestrado em Educação, da FE (Faculdade de Educação); mestrado em gestão de políticas públicas, da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades); mestrado em mudança social e participação política, também da EACH; mestrado em administração, da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária); e mestrado em estética e história da arte, programa de pós-graduação interunidades sediado no MAC (Museu de Arte Contemporânea).
Para o pró-reitor adjunto de pós-graduação da USP, Niels Olsen Saraiva Câmara, o edital de seleção com foco em políticas afirmativas foi um marco no financiamento externo na pós-graduação no Brasil e um passo importante para consolidar essas políticas.
Câmara afirma que iniciativas de apoio com aporte de recursos que promovam a inclusão, a equidade de gênero e diversidade são fundamentais para que a universidade avance em busca de uma excelência na formação discente e nas pesquisas.
"A pós-graduação na USP inclui estudos em todas as áreas de conhecimento. A diversidade e a inclusão ajudam a criar um ambiente fértil de aprendizado e mais acolhedor para todos os alunos", diz o pró-reitor adjunto.
Para Merllin de Souza, representante discente de pós-graduandos no Conselho de Pós-Graduação da USP e doutoranda em ciências da reabilitação na Faculdade de Medicina da universidade, o valor das bolsas que pós-graduandos receberão por meio do edital do Carrefour são acima dos valores médios recebidos por outros pós-graduandos via outros fomentos à pesquisa.
"Os valores serão de R$ 3.500 para o nível de mestrado e R$ 5.000 para o nível de doutorado, quando a média para mestrado é R$ 2.100 e doutorado R$ 3.100, isso já considerando o reajuste de 40% concedido pelo governo federal no mês passado", diz.
Além da destinação do auxílio a estudantes negros, a própria escolha dos cursos contou com critérios que visam à inclusão e à diversidade: cursos com mais de 20% de alunos negros matriculados, pelo menos 20% de docentes negros e presença de grupos minorizados, como imigrantes e quilombolas, pontuavam mais. Também há cursos que historicamente são sub-representados pela população negra.
"Esse edital vem de uma situação trágica, mas que sirva de exemplo, pois não aceitaremos mais nenhum tipo de racismo, especialmente o estrutural. É uma reparação para o povo negro, mas a luta não por aí. Dentro das universidades é preciso ver cada vez mais a cara e a cor do povo brasileiro", afirma Souza.
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