Na noite da última terça-feira (08.07), o bairro Jardim Ouro Verde, em Várzea Grande, foi cenário de uma emocionante Caminhada pela Paz, promovida pelo Templo Escola do Vovô Benedito. A procissão, realizada com balões e à luz de velas, reuniu cerca de 30 pessoas — entre crianças, jovens, adultos e idosos — em um ato público de fé e resistência.
O evento foi uma resposta pacífica e simbólica a um episódio de intolerância religiosa ocorrido dois dias antes, quando membros do terreiro foram hostilizados e ameaçados verbalmente por vizinhos durante a realização de um ritual. Entre cânticos, orações e mensagens de união, os participantes reafirmaram o direito à liberdade religiosa e o compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e respeitosa.
“O que queremos é respeito. Não vamos nos calar diante do ódio. As religiões não são inimigas — elas podem e devem caminhar juntas pela paz e pela convivência com a diversidade”, afirmou o sacerdote Williamon Costa, responsável pelo templo.
Entenda o caso
Na segunda-feira (07), durante uma atividade ritualística realizada na esquina do templo, seus membros foram alvo de ofensas e ameaças graves por parte de um casal proprietário de uma oficina de motos próxima à instituição religiosa. Segundo relatos, o homem e a mulher gritaram palavras de ódio contra as religiões de matriz africana, chegaram a filmar os praticantes e os veículos no local, e ameaçaram “chamar o Comando Vermelho” para “acabar com os macumbeiros”, em referência a uma facção criminosa.
Diante da situação, os dirigentes espirituais da casa foram chamados e também foram alvo de agressões verbais. O casal teria dito que “quebraria as pernas e a cara” dos sacerdotes, registrando imagens de seus rostos com a intenção de divulgá-las em grupos criminosos como forma de intimidação.
A Polícia Militar foi acionada, mas os agentes que compareceram ao local orientaram apenas que o caso fosse formalizado por meio de boletim de ocorrência na Polícia Civil. Após a saída da viatura, a mulher envolvida nas ameaças continuou a circular em frente ao terreiro, em atitude de provocação.
O boletim de ocorrência foi registrado, mas até o momento não houve desdobramentos efetivos. O caso gerou indignação entre os praticantes e reforçou a necessidade de denunciar e combater todas as formas de intolerância religiosa.
Liberdade de crença é direito constitucional
A Constituição Federal de 1988 garante, em seu artigo 5º, o direito à liberdade de consciência, crença e culto. O episódio em Várzea Grande se soma a uma preocupante estatística nacional de violência contra religiões de matriz africana, que historicamente enfrentam estigmatização, preconceito e ataques.
A Caminhada pela Paz foi, portanto, mais do que um ato simbólico. Foi uma afirmação pública de dignidade, de direito e de resistência pacífica. Uma vela acesa contra o ódio — e em nome da convivência, do amor e da paz.
Leia também - Prefeitura em MT decreta recesso nas sextas e durante manhãs de segunda; entenda
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).