Apesar de ter sido condenado a 8 anos e 3 meses de prisão por disseminar conteúdo considerado discriminatório, o humorista Leo Lins segue lotando teatros pelo Brasil. Na noite da última quinta-feira (19.06), em São Paulo, o comediante atraiu uma multidão ao Teatro Gazeta, na Avenida Paulista, para a estreia do show Enterrado Vivo.
O show é o primeiro na Capital paulista desde a sentença da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que o condenou por um vídeo gravado em Curitiba em 2022 e postado nas redes sociais com o título Perturbador. No conteúdo, Lins faz piadas consideradas ofensivas contra diversos grupos: negros, obesos, indígenas, pessoas com HIV, idosos, judeus, nordestinos, evangélicos, deficientes físicos e a comunidade LGBTQIAPN+. O vídeo foi retirado do YouTube após alcançar mais de 3 milhões de visualizações.
No palco, o comediante de 42 anos não só reafirma esse estilo como transforma a sentença judicial em estratégia de marketing. Na sinopse do espetáculo, ele divulga a “proibição em mais de 50 cidades”, o “cancelamento de suas redes sociais”, e os processos movidos pelo Ministério Público como uma forma de reforçar o suposto “humor corajoso e antissistema”.
“Quanto mais tentam me calar, mais ouvido eu sou. Até surdo já me escuta”, disparou, sob aplausos. Para ele, as piadas são apenas encenação, feitas por um personagem — argumento que usa tanto no palco quanto nas redes sociais. Já o Ministério Público Federal o acusa de promover a intolerância e fomentar discursos de ódio.
Celulares lacrados e sigilo total
A apresentação começa com um aviso: ninguém pode filmar ou fotografar. Os celulares são colocados em sacos pretos lacrados, entregues na entrada. A medida foi adotada por orientação dos advogados de defesa para evitar que novas imagens possam gerar mais processos.
“Vocês não querem que eu acabe realmente indo preso, tá bom?”, disse ele no início, já preparando o público para as próximas piadas.
Apesar de alegar que teria suavizado o conteúdo por recomendação jurídica, o humorista abre o show com um tema polêmico: escravidão. A partir daí, segue com piadas que zombam de minorias, doenças, religião, tragédias e abusos.
Em determinado momento, comenta: “Quero um filho negro, obeso, deficiente e com boné do MST. Vai ser o rei das minorias. Vou erguer ele igual o Simba (do Rei Leão). E já deixo cair de cabeça, para ficar deficiente também”.
Rindo da Justiça e das vítimas
Lins também ironiza a Justiça e comenta sua própria condenação:
“Se você comete um homicídio e é réu primário, pega seis anos. Eu peguei oito por piada. A mensagem da Justiça é: ‘Não faça piada, mate’.”
Outro trecho que provocou reações fortes no teatro foi quando mencionou o processo movido por Preta Gil, após ele ter feito comentários ofensivos no passado.
“A Preta Gil veio me processar por causa de uma piada. Três meses depois, ela apareceu com câncer. Deus tem seus favoritos”.
A defesa do humorista recorre da sentença, que também o condena ao pagamento de indenização por danos morais coletivos. Enquanto isso, ele segue fazendo shows pelo país, alimentando o discurso de que está sendo censurado por fazer “humor politicamente incorreto”.
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