A economia brasileira deverá registrar expansão de somente 0,2% neste ano, segundo estimativa divulgada nesta terça-feira (23) pelo Banco Central, por meio do relatório de inflação do quarto trimestre.
Essa é a terceira vez que a autoridade monetária revisa para baixo sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2014. Em março deste ano, o BC estimava uma alta de 2% para o PIB, valor que recuou para 1,6% de expansão em junho e para 0,7% em setembro.
Se confirmada a expectativa do Banco Central, o crescimento da economia brasileira, em 2014, será o pior desde 2009 - quando o país sentia os efeitos da crise financeira internacional e o PIB registrou retração de 0,33%.
O Produto Interno Bruto é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, e serve para medir a evolução da economia. Em 2013, a economia cresceu 2,5%.
A previsão da autoridade monetária para o crescimento deste ano está acima da expectativa do mercado financeiro, realizada na semana passada, de uma alta de apenas 0,13%, mas está abaixo da estimativa oficial do governo, feita em novembro, de 0,5% de expansão.
Aceleração em 2015
De acordo com a autoridade monetária, o PIB tende a acelerar em 2015. A previsão do BC é de uma expansão de 0,6% em 12 meses até setembro do próximo ano. A instituição ainda não divulgou uma estimativa para o PIB de todo ano de 2015.
"Indicadores relativos ao quarto trimestre sinalizam que a recuperação moderada da economia, iniciada no terceiro trimestre, deverá prosseguir. A intensificação, entretanto,
desse processo permanece condicionada à recuperação da confiança de empresários e consumidores, entre outros fatores", informou o Banco Central.
Inflação
O BC elevou um pouco, no relatório de inflação divulgado nesta terça-feira, sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, em 2014.
Para este ano, a previsão do BC para o IPCA subiu de 6,3%, em setembro, para 6,4% nos cenários de referência (juros e câmbio fixos) e de mercado (com a estimativa dos bancos para juros e câmbio) no documento divulgado nesta terça-feira.
Para o ano que vem, a expectativa da autoridade monetária para o IPCA está ao redor de 6%. No cenário de referência, cuja previsão era de 5,8% em setembro, a estimativa avançou para 6,1%. No cenário de mercado, estimativa que estava em 6,1% em setembro, passou para 6% agora em dezembro.
O Banco Central divulgou ainda, pela primeira vez, sua estimativa de inflação para o ano de 2016 fechado. No cenário de referência - que considera câmbio e juros estáveis - a previsão está em 5% e, no de mercado, em 4,9%.
O Banco Central informou que "não descarta", portanto, a elevação da inflação no "curto prazo" e antecipa que a inflação "tende a permanecer elevada" em 2015. Entretanto, acrescenta que ainda no próximo ano a inflação "entra em longo período de declínio".
Estimativas do mercado para a inflação
Para o mercado financeiro, porém, a inflação deverá ficar acima de 5,5% até 2018 - último ano do novo mandato da presidente Dilma Rousseff. Pesquisa conduzida pelo BC na semana passada, com mais de 100 instituições financeiras, mostra uma previsão de 6,38% para a inflação deste ano, de 6,54% para o IPCA de 2015 (acima do teto da meta), de 5,7% para 2016 e de 5,5% para 2017 e 2018.
Sistema de metas
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Para 2014, 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Deste modo, as estimativas do BC mostram o IPCA longe da meta central de 4,5% estabelecida para 2014 e 2015, embora ainda esteja dentro do intervalo de tolerância existente, começando a cair mais fortemente, em direção ao centro da meta, somente em 2016. O teto do sistema de metas de inflação brasileiro é um dos mais altos do mundo. Em 12 meses até novembro, o IPCA somou 6,56%.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou na semana passada que a estratégia do BC é trazer a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para o centro da meta, de 4,5%, até o fechamento de 2016. "Nosso objetivo é trazer a inflação para o centro da meta em dezembro de 2016. Vamos passar por debaixo do limite superior neste ano [de 6,5%] e trazer a inflação para o centro da meta em 2016 de 4,5% ao ano", afirmou ele na ocasião.
Taxa de juros
O principal instrumento do BC para combater as pressões inflacionárias é a taxa básica de juros da economia brasileira - atualmente em 11,75% ao ano. Quando sobe os juros, a autoridade monetária atua para conter a demanda por produtos e serviços e, consequentemente, para impedir um aumento maior da inflação.
Em outubro, o BC subiu os juros em 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano, e que promoveu nova alta – de 0,50 ponto percentual em dezembro para 11,75% ao ano – e acrescentou que o objetivo destas elevações é "viabilizar um cenário de inflação mais benigno em 2015 e 2016" e fazer com que a inflação "retorne o mais rápido possível" para trajetória de convergência em direção à meta central de inflação de 4,5%.
"O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária [definição dos juros para conter pressões inflacionárias] deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária. Nesse sentido, o Comitê irá fazer o que for necessário para que no próximo ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5% em 2016", informou o BC no relatório de inflação divulgado hoje.
A expectativa do mercado financeiro, até o momento, é de que os juros básicos da economia subam para 12% ao ano em janeiro, para 12,25% em março e para 12,50% ao ano em abril de 2015.