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Cidades Segunda-feira, 28 de Julho de 2025, 09:06 - A | A

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VULNERABILIDADE SOCIAL

Sem atendimento adequado, idoso vive há dois anos em praça de VG e mistura realidade com fantasia

Aos 71 anos, José Baptista vive na praça Cristo Rei, sem assistência efetiva

Isadora Sousa & Angelica Gomes/VGN

Aos 71 anos, José Baptista Gonçalves vive há pelo menos dois anos na praça Cristo Rei, em Várzea Grande, em situação de rua e com sinais visíveis de confusão mental. Magro, com cabelos e barba longos, ele alterna lembranças desconexas e declarações fantasiosas. Natural do interior de São Paulo, afirma viver há mais de quatro décadas em Mato Grosso. Diz que é pai de três filhos, divorciado, e que trouxe a família para morar em uma casa próxima à rodoviária de Cuiabá - relato não confirmado.

Durante conversa com a reportagem do , o idoso afirmou possuir imóveis, mercados e escritórios de advocacia, além de se identificar como “amigo íntimo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)”, coronel federal, delegado e advogado. Embora sem respaldo na realidade, suas afirmações refletem um possível quadro de transtorno psíquico agravado pelo abandono.

Segundo relatou, recentemente perdeu os poucos pertences após um suposto ataque de estudantes, que teriam ateado fogo em suas roupas. Uma comerciante da região tentou resgatar o que restou. “A gente se sente bem onde o povo trata bem, pode ser no meio do espinho, mas se o povo trata bem, é bom”, disse José, com semblante sereno, ao comentar sua permanência na praça.

Para sobreviver, ele conta com a solidariedade de uma moradora que leva almoço diariamente. Não toma café da manhã nem janta. Vive sem acesso regular a higiene e realiza suas necessidades fisiológicas na rua.

Após contato da reportagem, a Secretaria Municipal de Assistência Social confirmou que José vive em situação de rua há cerca de 10 anos e que sua resistência ao acolhimento tem sido o principal obstáculo à efetivação do atendimento. Em nota, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) informou que realizou visitas ao local, acionou o Conselho Municipal do Idoso, que por sua vez encaminhou denúncia ao Ministério Público, além de ter mobilizado o Consultório de Rua.

Contudo, segundo o CAPS, “a resistência por parte do idoso impossibilitou os atendimentos, ou seja, não foi possível fazer sequer o diagnóstico quanto às faculdades mentais”. O órgão aponta que o quadro pode estar relacionado ao envelhecimento e que, em caso de remoção compulsória, seria necessária uma decisão judicial.

Apesar das declarações oficiais, os dados mostram que a cobertura aos moradores em situação de rua ainda é limitada. O Centro POP, responsável pelo acolhimento dessa população, registrou 3.601 atendimentos e apenas 26 abordagens em 2024. Em 2025, até 23 de julho, foram 2.461 atendimentos e 15 abordagens.

Questionada sobre a estrutura da equipe, a secretaria informou que o Centro POP dispõe atualmente de um gerente, uma psicóloga, uma assistente social, um funcionário administrativo e dois cuidadores. Já o Serviço Especializado de Abordagem Social, responsável por ações sistemáticas de busca ativa, ainda está em fase de implantação. No momento, as abordagens ocorrem apenas mediante denúncia ou acionamento de outros órgãos, como no caso de José Baptista.

A Secretaria admitiu que, até recentemente, o idoso sequer havia sido formalmente incluído nos sistemas de atendimento social do município. Promete agora reforçar a política voltada à população em situação de rua com a recomposição da equipe técnica, a criação de um Comitê Intersetorial e a implantação do serviço de abordagem social, prevista para o próximo mês.

Enquanto as medidas anunciadas seguem no papel, José Baptista continua dormindo sobre o banco da praça. Sem abrigo, sem cuidados médicos e sem assistência efetiva, sua rotina se resume à sobrevivência no centro urbano de Várzea Grande, invisível, apesar de permanentemente exposto.

Nota do CAPS (íntegra)

O CAPS realizou visitas in-loco, acionou o Conselho Municipal do Idoso que realizou denúncia no Ministério Público, e ao consultório de rua para acompanharem o caso. No entanto, a resistência por parte do idoso impossibilitou os atendimentos, ou seja, não foi possível fazer sequer o diagnóstico, quanto as faculdades mentais.

O paciente tem 71 anos, seus problemas psicológicos podem estar ligados no processo de envelhecimento,
Para que se retire o paciente dessas condições, se faz necessário um processo burocrático, necessita de liminar para ser feito de forma compulsória, uma vez que o paciente não aceita sair da situação de rua e não tem rede familiar na cidade.

Há algum tempo, foi informado que o paciente teria irmãos em São Paulo, mas sem êxito no contato. Não houve omissão, uma vez que foi ofertado todos os dispositivos de saúde e social para solução do caso: atenção primária, CAPS, centro pop, Assistência Social, conselho do idoso...

Caso existisse a liminar, o paciente deveria ser encaminhado imediatamente ao serviço de urgência para realizar avaliação clínica e descartar doenças oportunistas por conta do longo período em situação de rua exposto, em seguida ser regulado ao CIAPS.

Em casos de confusão mental, o mais indicado seria o acionamento do SAMU, para que a equipe avalie o risco do paciente para si ou para terceiros e para poder fazer a remoção segura do ambiente, com imobilização física e/ou química se for o caso.

A assistência social segue tentando contato com os familiares.

Nota Secretaria Municipal De Assistência Social (íntegra)

A Secretaria Municipal de Assistência Social informa que tem acompanhado de perto a situação do senhor José Baptista Gonçalves, de 71 anos, que vive há aproximadamente dois anos na praça do Cristo Rei. Equipes técnicas do Centro POP, CAPS e do Conselho Municipal do Idoso já realizaram diversas abordagens no local, com o objetivo de oferecer acolhimento e atendimento adequado.

Como parte do fluxo de atendimento da Secretaria, casos como o do Sr. José são encaminhados ao CREAS, que realiza articulações com o Ministério Público e busca alternativas de acolhimento institucional. No entanto, é importante destacar que, em situações de longa permanência nas ruas, como está, o aceite por parte da pessoa nem sempre ocorre de forma imediata.

Apesar disso, as tratativas seguem em andamento. A Secretaria permanece empenhada em encontrar uma solução que garanta a dignidade e a proteção do idoso.

A situação da população em situação de rua é um desafio complexo que o município de Várzea Grande está empenhado em enfrentar com ações estruturadas e intersetoriais. Em relação ao senhor José, verificamos que não havia registros anteriores de atendimento nos prontuários da Secretaria, o que indica que ele não havia sido incluído formalmente no acompanhamento da Assistência Social até o momento.

A Secretaria Municipal de Assistência Social tem buscado alternativas para fortalecer a Política Municipal para População em Situação de Rua. Nesse sentido, o primeiro passo foi a recomposição da equipe técnica do Centro POP. Além disso, está prevista para o próximo mês a implantação do Serviço Especializado de Abordagem Social — um serviço inédito no município — que realizará atendimento direto nas ruas, promovendo acompanhamento qualificado e contínuo.

Adicionalmente, estamos planejando a criação do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua, que terá como objetivo realizar um diagnóstico detalhado e elaborar um plano de atendimento eficiente para essa população vulnerável.

A Secretaria reafirma seu compromisso em avançar com políticas públicas que garantam cuidado, proteção e dignidade às pessoas em situação de rua, especialmente aos idosos.

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