O aumento do número de vagas de emprego nas áreas de construção civil, devido às obras da Copa do Mundo em Cuiabá, tem atraído centenas de trabalhadores de outros Estados e até de fora do país, como do Haiti. Diariamente, em média cinco haitianos chegam na rodoviária da capital em busca de emprego e acabam encaminhados para a Casa do Imigrante, uma instituição beneficente mantida pela Igreja Católica que oferece estadia provisória aos estrangeiros até que eles consigam uma ocupação.
De acordo com o diretor do Sindicato da Indústria de Construção Civil (Sinduscon), Cláudio Otaiano, os imigrantes chegam a Cuiabá praticamente sem nenhum recurso. Depois do abrigo, o que eles querem é trabalho. ''Nós recebemos todo o tipo de trabalhador, desde os totalmente desqualificados, que entrariam na função de serventes, como também nas demais funções, pedreiros, carpinteiros, azulejistas, telhadistas e assim por diante'', afirmou.
Segundo a coordenadora da Casa do Imigrante, Eliana Vitaliana, a grande dificuldade desses haitianos para conseguir o tão sonhado emprego aqui no Brasil é em relação ao idioma. Muitos só falam a língua nativa e o francês. Para tentar resolver esse problema, a coordenação da Casa conta com a ajuda de voluntários. ''Nós já conseguimos duas professoras às terças, quartas e quintas, e uma aos sábados, que dão aulas de português para os que estão na Casa'', contou .
Além do idioma, o futuro dos imigrantes após a Copa de 2014 também é uma preocupação. De acordo com a Secretária Adjunta de Trabalho e Emprego de Mato Grosso, Vanessa Rosin, o governo do estado tem trabalhado em um plano de sustentabilidade pós-Copa para garantir a qualificação e a permanência dos imigrantes por meio da oferta de empregos.
“Nós vamos precisar trabalhar antes da Copa e depois da Copa. Então, empregar essas pessoas e mantê-las empregadas depois da Copa também é um desafio. Não só em relação aos estrangeiros, mas também a pessoas de outros estados fixando residência em Mato Grosso por conta da oferta de empregos", explicou.
Em uma construtora da capital, vários já conseguiram a contratação. ''É muito bom para trabalhar, ganhar dinheiro. Aqui tem muito serviço. Lá no meu país, no Haiti, não tem serviço'', relatou o auxiliar de serviços gerais Renê Wilde.
O gerente de uma construtora da capital, Alceu Cardoso, afirmou que a produtividade e a vontade de trabalhar dos haitianos fizeram com que ele substituísse a mão de obra local pelos imigrantes. ''Eu troquei 12 pessoas na limpeza por dois haitianos e a produtividade foi maior. Eles não têm a mesma qualificação, mas aprendem rápido e têm vontade de fazer as coisas. Por isso, a absorção está sendo grande e, enquanto vierem, estaremos contratando'', contou.
Antes de chegar ao Brasil, Jordany Garkon morou na República Dominicana e no Equador. O jovem nasceu no Haiti, mas a peregrinação por outros países foi a única alternativa para fugir da pobreza e da falta de emprego. “Conseguir um trabalho no Haiti é muito difícil. Tem mais de 400 mil habitantes para apenas 12 empresas'', afirmou.
Conforme a Secretária Adjunta de Trabalho e Emprego de Mato Grosso, Vanessa Rosin, ainda que a construção civil tenha demandado emprego, o estado ainda é campeão em contratação nas áreas de agricultura e pecuária. ''Somente no acumulado destes três meses nós contratamos 1.181 pessoas nestas áreas. Destes, 40% eram dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, e muitas delas têm se fixado no estado'', lembrou.
Qualificação
A grande dificuldade dos imigrantes é a desvalorização da mão-de-obra, cujos salários estão cada vez mais baixos devido á falta de qualificação.
''Até hoje, formalmente, 15 haitianos procuraram o Sine para essa intermediação formal e, destes, 7 recusaram a vaga para a qual foram encaminhados devido ao baixo salário. O grande problema deles é o baixo nível de ensino e de qualificação que eles apresentam. Isso causa certa dificuldade porque o empregador precisa de alguém com alguma habilidade específica'', ressaltou a secretária.
Ela acrescentou que a escola Senai de construção civil dispõe de mais de 6 mil vagas em cursos de qualificação e cerca de 600 para todas as áreas da construção civil - para os cargos de eletricista, encanadore, armador, pedreiro, pintor, etc. ''As vagas de qualificação para construção civil não são preenchidas facilmente. As pessoas não têm a concepção de que essas área podem empregar e podem oferecer salários maiores'', reiterou.
A secretária lembra ainda que é preciso maior flexibilidade das empresas na contratação de imigrantes sem qualificação. "Muitos não têm qualificação, mas possuem experiência de 15 anos na área, por exemplo, que podem ser comprovadas através provas e testes, bem como de cursos de aperfeiçoamento".
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