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Artigos Quarta-feira, 07 de Agosto de 2019, 11:24 - A | A

Quarta-feira, 07 de Agosto de 2019, 11h:24 - A | A

Opinião

A barragem do pudor

por Luiz Henrique Lima*

A cruenta polarização entre extremismos ideológicos produziu, entre outros, um fenômeno trágico: o rompimento da barragem do pudor, da polidez e do bom senso na vida pública.

A exemplo dos criminosos rompimentos de barragens de empresas mineradoras, que despejaram milhares de toneladas de lama tóxica sobre cidades, rios, matas e campos, ceifando a vida humana, animal e vegetal, o rompimento da barragem do pudor tem despejado sobre os brasileiros um impressionante volume de ressentimentos, ódio, preconceitos, calúnias e agressões de toda espécie.

Todavia, diferentemente do que ocorreu em Mariana e Brumadinho, em que a responsabilidade do crime se circunscreveu às empresas que não cumpriram as condicionantes do licenciamento ambiental e aos agentes públicos que não as fiscalizaram como deveriam, no caso da barragem do pudor, observa-se que ela é alvejada diariamente dezenas de milhares de vezes, em especial nas redes sociais. Ela é impiedosamente demolida por declarações de algumas autoridades incapazes de controlar os seus piores instintos, bem como por fake news fabricadas com esmero por bem remuneradas usinas do ódio; tanto umas como outras multiplicadas ao infinito por milícias digitais e até por pessoas bem-intencionadas que não percebem que, ao compartilhar infâmias, estão alimentando um monstro faminto e insaciável que poderá devorar a democracia e a boa convivência entre brasileiros de diferentes opiniões, credos e sonhos.

No caso das barragens dos rejeitos da mineração, já se sabe que serão necessárias décadas para que ocorra a descontaminação do ambiente e a recuperação do que for possível dos ecossistemas atingidos. O rompimento da barragem do pudor vitimou a beleza, o respeito e a qualidade do debate pluralista e democrático entre os brasileiros sobre tantas graves questões que afetam nosso país e cujo deslinde é crucial para o nosso futuro e o das novas gerações. Todo esse esgoto polui e envenena os relacionamentos sociais e até familiares. Quanto tempo será necessário para estabelecermos um patamar civilizatório mínimo na nossa vida pública?

Quando criança, contaram-me uma história que impressionou profundamente minha imaginação infantil: a de um menino que com seu dedo salvou um país. Havia um garoto de oito anos que, ao perceber um pequeno vazamento no dique que protegia a Holanda (Países Baixos) e compreendendo que se o vazamento não fosse imediatamente interrompido o dique se romperia e as águas destruiriam o país, colocou o seu dedo para bloquear o fluxo de água e ali permaneceu por muitas horas, resistindo ao cansaço e ao frio, até que viesse alguma ajuda e o dique fosse reparado. No parque de Madurodam, próximo a Haia, há hoje uma estátua que homenageia o pequeno herói.

Está mais do que na hora de todos os brasileiros de bem, quaisquer que sejam as suas preferências e opções político-ideológicas, colocarem os seus dedos para restabelecer em nossa vida pública a barragem do pudor, da polidez e do bom senso.

*Luiz Henrique Lima, auditor substituto de conselheiro do TCE-MT

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