A decisão do governo francês de construir um presídio de segurança máxima no coração da Amazônia sul-americana reacendeu um debate antigo sobre a relação entre a França continental e seus territórios ultramarinos. Prevista para 2028, a unidade será instalada em Saint-Laurent-du-Maroni, na Guiana Francesa, e incluirá um anexo especial para abrigar traficantes e condenados por radicalismo islâmico, com regime de isolamento total inspirado nas leis antimáfia da Itália.
O anúncio oficial veio acompanhado de imagens do projeto e da promessa de um sistema rigoroso de vigilância, com bloqueadores de celulares e drones, monitoramento eletrônico 24 horas e visitas extremamente limitadas. O objetivo declarado pelo Ministério da Justiça francês é claro: "isolar permanentemente os chefes das redes de tráfico de drogas" de sua base de operações.
No entanto, a medida foi recebida com indignação pela população local e autoridades políticas da Guiana Francesa, que acusam Paris de agir de forma unilateral e de transformar a região em um “depósito de radicais e criminosos”.
A construção de um novo presídio na Guiana Francesa já constava nos planos do governo desde 2017, com o objetivo de desafogar a superlotada penitenciária de Rémire-Montjoly, próxima da capital, Caiena. No entanto, à revelia das autoridades locais, o projeto foi alterado para incluir uma ala de segurança máxima com 60 vagas, sendo 15 reservadas a presos por radicalismo islâmico.
"Fomos surpreendidos com essa mudança, que nunca foi discutida com os representantes locais", afirmou Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, que reúne 51 parlamentares locais. Em nota divulgada nas redes sociais, ele classificou a decisão como "desrespeitosa" e alertou: "A Guiana não deve se tornar um depósito de criminosos e pessoas radicalizadas vindas da França continental".
Críticas
A polêmica rapidamente se transformou em uma crise política. O deputado Jean-Victor Castor foi ainda mais contundente ao criticar a iniciativa. "É um insulto à nossa história, uma provocação política e um retrocesso colonial", disse ele, exigindo que o governo francês cancele o projeto.
As reações não são apenas simbólicas. Há um forte temor de que a presença de presos de alta periculosidade transforme a região em alvo de tensões sociais e criminais, além de representar mais um episódio de decisões impostas pela França metropolitana sem o devido respeito à autonomia local.
A Guiana Francesa já convive há séculos com o peso de seu passado como colônia penal — destino, inclusive, de prisioneiros políticos no século XIX. A nova prisão, na visão de críticos, revive esse papel histórico de forma moderna, mas igualmente controversa. (Com informações do G1)
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