O primeiro set se aproximava do fim quando o locutor do ginásio anunciou que Tifanny, de 33 anos, entraria em quadra. Reforço revelado dias antes com repercussão internacional, a ponteira/oposta fazia sua estreia pelo Vôlei Bauru contra o São Caetano, na tarde de domingo, 10 de dezembro.
Foi ovacionada pela torcida e pontuou nas duas primeiras jogadas em que foi acionada. Naquele momento, ela se tornava a primeira transexual a atuar na elite do vôlei brasileiro — antes, a curitibana Isabelle Neris já atuara em torneios regionais. Tifanny fez sua primeira partida entre as mulheres na segunda divisão italiana, em fevereiro, após ser liberada pela Federação Internacional de Vôlei.
Foi o auge de um processo de transição de gênero iniciado em 2012, com tratamento hormonal, passando pela cirurgia de adequação sexual, em 2014, até chegar aos níveis de testosterona exigidos pela entidade. Deixou no passado o jogador apelidado de Pará (o nome de batismo — Rodrigo Pereira de Abreu — ela faz questão de omitir), que chegou a atuar na Superliga masculina e em clubes europeus. Durante o período de transição, chegou a jogar entre os homens, na Holanda e na Bélgica, mesmo já tendo assumido sua identidade feminina.
Depois da breve experiência na Itália — oito partidas pelo Palmi, clube da pequena cidade homônima no sul da Itália, na Reggio Calabria, à beira-mar, a menos de 50 km da Sicília, e com menos de 20.000 habitantes —, retirou-se temporariamente para uma segunda cirurgia, corretiva, para sentir-se definitivamente mulher. Àquela altura, já estava apalavrada com o clube do Interior paulista, onde se recuperou, até ser anunciada e causar comoção nas habituais batalhas polarizadas nas redes sociais. Nesta entrevista, Tifanny mostrou-se consciente das dificuldades e desafios de sua caminhada, mas evidenciou sobretudo uma postura otimista em relação a sua aceitação, além de saber o quanto suas vitórias embalam as esperanças de muita gente.
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