A personal trainer Débora Sander afirmou em entrevista ao nesta terça-feira (01.07) ter sentido alívio e a sensação de dever cumprido ao receber a notícia de que o policial civil Sanderson Ferreira de Castro Souza foi condenado a 15 anos de prisão em regime fechado por agressões físicas e psicológicas cometidas contra ela. A sentença foi proferida nesta terça (01), quase um ano após a denúncia. O caso ocorreu em Cuiabá.
“Foi a melhor notícia que eu poderia receber, porque o medo que sentimos é muito grande. Denunciar já é algo muito difícil, porque a gente não sabe o que pode acontecer depois. Corri atrás de Justiça, fiz de tudo para que ele não saísse da prisão e para provar tudo o que ele fez comigo e com outras mulheres”, afirmou Débora. Confira entrevista completa na íntegra.
Sanderson está preso preventivamente desde 2 de setembro de 2024, quando foi transferido para a Cadeia Pública de Chapada dos Guimarães, a 64 km de Cuiabá, após decisão judicial durante audiência de custódia.
Segundo Débora, o momento mais difícil de todo o processo foi acompanhar os pedidos de habeas corpus feitos pela defesa do réu. “Até o pedido ser negado, eu vivia em pânico, com medo de que ele fosse solto a qualquer momento. E se isso acontecesse, eu estaria correndo sério risco de vida. Cada habeas corpus era uma dor, uma angústia”, relembrou.
A personal também relatou ter enfrentado julgamentos por parte de pessoas próximas, inclusive familiares. “Foi muito doloroso ser julgada por pessoas que diziam que eu estava fazendo tudo isso só para me aparecer. Isso dói muito”.
Débora revelou ainda que, após tornar o caso público, foi procurada por outras mulheres que afirmaram ter vivido situações semelhantes com o mesmo agressor.
“Enquanto eu ainda estava fugindo dele, internada e machucada, recebi prints e mensagens de mulheres me agradecendo por tê-lo denunciado. Na mesma semana em que ele me agrediu, ele já estava assediando uma nova vítima”, relatou.
Mesmo após a condenação, Débora afirma que seguirá atuando no combate à violência contra a mulher. “Pretendo segurar a mão de outras mulheres, colocar mais agressores na cadeia e lutar por políticas públicas reais — não por panfletos ou discursos vazios”.
Ela também usará suas redes sociais e seu podcast como instrumentos de acolhimento e conscientização. “Essa é a minha bandeira, esse é o meu legado. E foi para isso que Deus me manteve viva: para cumprir essa missão.”
Débora encerrou com uma mensagem para outras vítimas de relacionamentos abusivos. “Vocês não estão sozinhas. Juntas, somos mais fortes. Denunciem. Acreditem em vocês. Conheçam a Lei Maria da Penha. O conhecimento é a nossa maior arma. E façam terapia. Terapia é vida”.
Entrevista completa
VGN - Débora, depois de meses de luta e exposição pessoal, como você se sentiu ao receber a notícia de que o Sanderson foi condenado a 15 anos de prisão? Isso trouxe algum tipo de alívio ou sensação de justiça feita?
Débora Sander - Para mim, foi um alívio. Foi a melhor notícia que eu poderia receber, porque o medo que sentimos é muito grande. Denunciar já é algo muito difícil, porque a gente não sabe o que pode acontecer depois. Eu lutei contra todos os habeas corpus que ele tentou. Corri atrás de justiça, fiz de tudo para que ele não saísse da prisão e para provar tudo o que ele fez comigo — e também com outras mulheres. Ele já estava fazendo novas vítimas depois de mim. Então, sim, foi um alívio, uma sensação de justiça e de missão cumprida. Finalmente, pude fazer o que sempre defendi: proteger meu filho e a minha própria vida. Ele nos ameaçava de morte.
VGN - Durante todo o processo, você foi extremamente corajosa ao expor os abusos publicamente. Qual foi o momento mais difícil desde que decidiu denunciar até a sentença sair?
Débora Sander - O momento mais difícil foi quando a defesa dele pedia habeas corpus. Até o pedido ser negado, eu vivia em pânico, com medo de que ele fosse solto a qualquer momento. E se isso acontecesse, eu estaria correndo sério risco de vida. Cada habeas corpus era uma dor, uma angústia. Eu ligava para a advogada, chorava, ficava desesperada. Além disso, também foi muito doloroso ser julgada por pessoas, inclusive da minha própria família, que diziam que eu estava fazendo tudo isso só para me aparecer. Isso dói muito.
VGN - Sabemos que muitas mulheres ainda têm medo de denunciar por conta da posição social ou institucional dos agressores. O que você diria para uma mulher que, hoje, está vivendo uma situação semelhante à que você enfrentou?
Débora Sander - O que eu sempre digo para outras mulheres é: vocês não estão sozinhas. Juntas, somos mais fortes. Precisamos lutar contra esse ego masculino que não aceita o "não". Esse pensamento de "ou você é minha, ou não será de mais ninguém" precisa acabar. Vamos lutar contra um sistema que ainda falha com as mulheres, contra leis que ainda precisam avançar.
Denunciem. Acreditem em vocês. Corram atrás dos seus direitos. Conheçam a Lei Maria da Penha, estudem, se informem. Se essas leis existem, é porque foram necessárias. E o conhecimento é a nossa maior arma.
Outra coisa fundamental é a terapia. Terapia é vida. A dependência emocional leva à dependência financeira, e isso acaba nos prendendo num ciclo de abuso. Então, cuidem de vocês, busquem ajuda, façam terapia. E, por favor, denunciem. Vocês não estão sozinhas.
VGN - Você mencionou nas redes sociais que o Sanderson pode ter feito outras vítimas. Após sua denúncia, outras mulheres chegaram a te procurar ou relatar situações parecidas?
Débora Sander - Sim, mencionei porque ele já havia feito outras vítimas. Enquanto eu ainda estava fugindo dele, internada e machucada, recebi prints e mensagens de mulheres me agradecendo por tê-lo denunciado. Na mesma semana em que ele me agrediu, ele já estava assediando uma nova vítima — que entrou em contato comigo, mandou conversas e provas que hoje estão no processo. É assim que esses agressores agem: descartam uma e vão para a próxima. Mas dessa vez, o ciclo foi interrompido. Alguém precisava parar esse agressor. E, graças a Deus, ele foi condenado. Está onde deveria estar.
VGN - Agora que essa etapa jurídica foi vencida, quais são seus próximos passos — tanto no aspecto pessoal quanto no ativismo contra a violência doméstica? Pretende seguir falando publicamente sobre o tema?
Débora Sander - Sim, pretendo continuar no ativismo. Pretendo segurar a mão de outras mulheres, colocar mais agressores na cadeia e lutar por políticas públicas reais — não por panfletos ou discursos vazios. Quero ver o dinheiro público destinado a isso sendo usado de verdade. Vou continuar lutando, porque juntas somos mais fortes.
Minhas redes sociais, meu podcast, tudo será voltado para mulheres vítimas de violência doméstica. Essa é a minha bandeira, esse é o meu legado. E foi para isso que Deus me manteve viva: para cumprir essa missão.
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