As praias da Armação e do Matadeiro ficam no Sul da Ilha de Santa Catarina. É no local que nasceu e ainda mora Sperandio João dos Santos, de 79 anos. Os amigos garantem que ele é o pescador mais antigo do local e ele confirma: "Eu sou da época em que essas praias eram utilizadas pelos pescadores para matar baleias e aqui havia apenas quatro casas e cinco engenhos. As baleias eram uma forma de sobrevivermos, pois tirávamos óleo para fazer inclusive combustível", conta ele, enquanto garante que já matou três baleias.
"Um vez nós encalhamos em cima da baleia. O barco quebrou e precisamos ser resgatados", afirma, e explica como faziam para capturar o animal: "Colocávamos dinamite dentro de um cano de 30 cm, com uma lança na ponta. Depois, acendíamos e jogávamos. A dinamite explodia e ela morria. Esperávamos 24 horas para ela boiar e só então podíamos extrair o óleo e outras partes que eram aproveitadas", explica.
Mas as histórias de seu Sperandio vão além de baleias encalhadas. Segundo ele, durante a Segunda Guerra um alemão veio morar próximo às praias, com o propósito de pescar. "Mas ele nunca pescou nada. Estava aqui para espionar. Uma vez ele chegou a comprar uma baleia que foi morta em Garopaba e trouxe até aqui para fazer de conta que havia matado", diz, rindo da lembrança e complementando que o pai chegou a ser pago pelo governo federal para ficar de olho no suposto espião alemão.
Os nomes 'Armação' e 'Matadouro' são desta época, que durou até 1962, quando a captura de baleias foi proibida. "Matadeiro já foi Matadores. Com o tempo as pessoas começaram a chamar de 'Matadeiro' e ficou", explica ele, que começou a pescar aos 10 anos e ainda não se aposentou. Chegou a ser bancário, mas descobriu que gostava mesmo era de pescar. Foi assim que criou os 14 filhos, entre eles dois pescadores. E é assim que quer continuar, até que a saúde permitir. "Só tenho saudade do tempo que a faixa de areia da praia era maior. Era linda demais", complementa ele, ainda sonhando em ver a praia como era antigamente.
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