por Soraya Medeiros*
A Umbanda é uma religião que, muitas vezes, é mal compreendida. Alguns buscam nela a promessa de milagres instantâneos, esperando que suas dificuldades sejam resolvidas por intervenções divinas sem esforço pessoal. No entanto, a Umbanda não é um caminho de soluções mágicas, mas sim uma prática espiritual que desperta algo mais profundo e poderoso: a fé. E é essa fé, quando ativada em sua essência, que opera os verdadeiros milagres.
A fé, nesse contexto, não é uma crença cega ou passiva. Pelo contrário, é uma força transformadora que exige entrega, confiança e ação. Ao despertar a fé, a Umbanda ensina que o milagre não vem de fora, mas de dentro. A cura, o alívio, a mudança de vida – tudo isso não é concedido como uma dádiva, mas conquistado por meio de uma jornada de autoconhecimento, alinhamento espiritual e trabalho interior.
Dentro dos rituais da Umbanda, as entidades espirituais não agem como meros "fazedores de milagres". Elas são guias, orientadores, que nos mostram o caminho e nos ensinam a utilizar as ferramentas que já temos: nossa fé, nossa força interior e nosso potencial divino. Os caboclos, pretos-velhos e outros espíritos que se manifestam nas giras, oferecem aconselhamentos e curas, mas sempre reforçam que o poder de transformação está em nossas mãos.
A caridade e o trabalho social ocupam um papel central na prática da Umbanda, sendo considerados expressões da fé e do amor ao próximo. Para além dos rituais e das giras, a Umbanda nos ensina que a espiritualidade se manifesta também por meio de ações concretas de ajuda e solidariedade. A caridade, nesse contexto, não é vista como um ato de superioridade, mas como uma oportunidade de exercitar a humildade e contribuir para o bem-estar coletivo. O trabalho social, seja por meio de atendimentos espirituais ou de auxílio material a quem mais necessita, é uma forma de praticar o amor incondicional e o respeito à dignidade humana, elementos fundamentais na filosofia umbandista. Ao praticar a caridade, os filhos de fé vivenciam o ensinamento de que, ao ajudar o outro, também estão se curando e fortalecendo a própria fé, criando um ciclo virtuoso de troca e evolução espiritual.
O milagre, então, é fruto de um despertar. Quando nos permitimos sentir a presença do divino e nos conectamos com o propósito da nossa existência, algo profundo acontece. A fé, que muitas vezes é adormecida pelas dificuldades da vida, ganha nova força e nos faz enxergar que somos capazes de superar desafios, curar nossas feridas e encontrar paz. É essa fé que abre os caminhos para que os milagres aconteçam.
Assim, a Umbanda não é uma religião de promessas vazias ou de expectativas irreais. Ela nos ensina que, ao despertarmos a fé em nossos corações, somos capazes de mover montanhas. O verdadeiro milagre não é algo externo, mas o processo interno de transformação, de despertar para a força divina que já habita em cada um de nós.
Em vez de esperar que algo aconteça, a Umbanda nos convida a sermos co-criadores da nossa realidade. A fé que é despertada não é uma passividade diante das dificuldades, mas sim uma força ativa, que nos motiva a agir, a cuidar de nós mesmos e a buscar o melhor caminho para nossa evolução. O milagre, portanto, está em cada passo que damos, com fé e confiança, sabendo que a espiritualidade está ao nosso lado, mas que a jornada é nossa para trilhar.
A Umbanda não faz milagres. Ela nos desperta para a fé, e é essa fé, viva e pulsante, que realiza os milagres. Ao nos entregarmos a essa verdade, compreendemos que somos parte do divino e que, com fé, podemos realizar qualquer coisa que desejarmos. O milagre, afinal, é o reflexo de nossa fé em ação.
*Soraya Medeiros é jornalista com mais de 22 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. É formada em Gastronomia e certificada como sommelier
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