Uma placa no portão de uma casa no bairro de São Marcos, em Salvador, informa que no local conserta forno micro-ondas. O anúncio não teria nada de incomum, se o técnico responsável pelos consertos não fosse um deficiente visual.

Dentro do imóvel, é possível encontrar vários aparelhos e o técnico que, apesar da deficiência visual, não para de trabalhar. A demanda é grande e ele demonstra muita habilidade.

A história de vida de Evilásio chama atenção pela dificuldade e capacidade de detectar e resolver os problemas nos aparelhos.

Ele conta que tudo começou por mero acaso, pois desde pequeno teve curiosidade de entender como que as coisas funcionavam.

— Eu ficava abrindo ventiladores, abrindo liquidificadores e uma pessoa sabendo da minha curiosidade, o vizinho ia jogar o micro-ondas fora e eu falei "não joga, não, não joga fora não. Dá aqui pra mim, daqui, que eu vou tentar apreender como é que isso aqui dentro, eu quero saber como é isso aqui por dentro".

Então, eu abri aquele micro-ondas e, pra minha surpresa, depois de fazer alguns encaixes, fazer algumas ligações, aquele micro-ondas funcionou. Então, a partir do momento que aquilo funcionou, eu depositei fé, eu disse "isso tem como funcionar". Então, eu comecei a falar com os vizinhos, falar com todo mundo, eu tô pegando micro-ondas para consertar.

Os clientes levam os eletrodomésticos e acompanham de perto o serviço de Evilásio.

Um dos fregueses, Ernane Silva, gostou tanto do trabalho que já levou dois equipamentos para o técnico. Mas, ele confessa que, no início, ficou desconfiado da capacidade do profissional por conta da deficiência.

— Minha esposa ainda disse: ‘será que ele com deficiência vai consertar?’ Eu falei: 'minha filha, vamos tentar'. Aí, eu trouxe pra ele foi uma maravilha, não tem o que falar. Eu recomendo a qualquer um, sem medo.

Apesar de não enxergar desde que nasceu, Evilásio achou na mulher a parceira perfeita para aprender a teoria. A companheira dele lia as apostilas, enquanto ele testava na prática.

Mesmo com todo esforço, o técnico confessa que foi difícil enfrentar a desconfiança da sociedade.

— No começo foi [difícil]. E lidar com a sociedade, duvidando também, mas tudo isso me impulsionou pra ir em frente.
Para as pessoas com deficiência, existe uma legislação específica que garante vaga nas empresas. Contudo, para ser contrato é necessário qualificação.

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