Enquanto o soldado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Alemão Herbert da Silva Souza, 22 anos, lutava para sobreviver após um tiro atingir seu tórax, na última sexta-feira, o soldado Rodrigo Costa da Silva perdia a vida cinco dias depois de ser alvejado na cabeça. Em comum entre os dois — além de trabalharem para proteger a sociedade —, o fato de ambos terem sido alvos de criminosos enquanto estavam de folga. O número de policiais militares baleados e mortos fora de serviço neste ano cresceu na mesma proporção que o medo dos agentes de serem as próximas vítimas e fez com que eles tomassem, por conta própria, medidas extremas de proteção.
Sabendo que são alvos, muitos policiais tentam escapar ao serem abordados por bandidos e são baleados. Na noite de sábado, um policial militar foi baleado em tentativa de roubo de carro, em Rocha Miranda. O policial passava pela Rua Doutor Luís Bicalho, dirigindo quando foi interceptado pelos ladrões. Ele não obedeceu à ordem de parar e foi atingido por tiros. Os ladrões fugiram e pessoas que passavam acionaram o 9º Batalhão da PM. O ferido foi levado para o Hospital Carlos Chagas. A PM não revelou a identidade do policial baleado.
“Decidi que não saio mais para jantar fora e nem para comprar um refrigerante. Peço comida por telefone e furo a maioria dos compromissos de família, dependendo do local. Somos prisioneiros em nossa própria casa”, afirmou um soldado, que pediu para não ser identificado.
CARTEIRA DE HABILITAÇÃO
Ele acrescenta que só pega a arma quando vai para o serviço e usa a habilitação no lugar da identidade de policial para manter sua profissão sob sigilo. “Em três anos de serviço, é vergonhoso ver que não existe mais respeito pelo policial e que não há luz no fim do túnel da violência contra policiais”, critica. Seu colega de farda, um sargento, chegou ao ponto de levar em seu carro particular uma roupa semelhante à de funcionários dos Correios para que, caso seja abordado por bandidos, não seja identificado como policial.
“Nunca pensei que não poderia me identificar nem em blitzes de colegas. Geralmente, essas ações ocorrem em locais com grande número de assaltos e tenho medo que alguém passando me identifique. Amigos que moram próximos ficam ‘velando’ a casa e a família do outro enquanto o colega está de serviço. Infelizmente, a morte de policiais virou coisa corriqueira e estamos lutando sozinhos”, desabafou.
Para o sociólogo e ex-capitão do Bope, Paulo Storani, o medo dos policiais é uma resposta natural à violência. “Vejo que a criminalidade extremamente violenta do narcotráfico está vindo atuar em crimes de rua. É louvável a atitude do comandante-geral (coronel Íbis Silva) de se preocupar e alertar para que a tropa tome certos cuidados. Mas por melhor que fosse a nossa polícia, se continuar a entrar essa quantidade de armas e drogas no estado, a violência vai continuar. É preciso fiscalizar as fronteiras e fazer mudanças no sistema de judiciário”.
Este ano, 61 mortos fora de serviço
De janeiro a 26 de dezembro, mais de cem PMs foram mortos no estado, sendo que 61 deles estavam de folga. A maioria teve a profissão descoberta em tentativas de assaltos. Dos 198 baleados, 53 estavam fora de seu expediente de trabalho.
Herbert foi baleado quando seguia de moto pela rodovia Niterói-Manilha na altura do bairro Neves, em São Gonçalo. Ele estava na garupa do veículo quando foi abordado junto com outro PM por bandidos. Ele foi levado para o Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói.
Já o sargento Rodrigo, foi alvejado dia 21 durante um assalto em São Gonçalo. Ele tentou acelerar o veículo, mas foi atingido na cabeça. O policial ficou internado em estado grave no Hospital Estadual Alberto Torres, mas não resistiu.
Para evitar ataques, policiais são aconselhados a não andarem na rua com identificação da corporação ou arma quando não estiverem em serviço. Assim, não correm o risco de serem alvo por ser policial.
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