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Opinião Segunda-feira, 20 de Agosto de 2012, 08:03 - A | A

Segunda-feira, 20 de Agosto de 2012, 08h:03 - A | A

A má educação

Em época de estagnação do ensino médio e greve no superior, debater reserva de vagas nas universidades não faz qualquer sentido

Rodolfo Borges

 

Uma escola para ensinar a servir. É a definição do Instituto Benjamenta, cenário do Jakob von Gunten, de Robert Walser, mas poderia ser uma síntese do sistema de ensino brasileiro. Enquanto, furtando-se ao dever de promover a reflexão e o raciocínio, as instituições particulares se concentram (com a ajuda da tia Ritalina) em adestrar alunos para entrar na universidade, as públicas não conseguem nem isso. Para o problema do ensino público, contudo, foi eleita a solução: cotas.

Ao considerar a reserva de vagas em universidades federais para alunos da rede pública, o governo admite que o ensino público é ruim (ou ao menos pior que o privado). Em vez de concentrar esforços para melhorá-lo (o último resultado do Ideb não foi nada animador para o ensino médio), os legisladores papagaiam medidas de apelo popular que não têm potencial para mais do que democratizar a ignorância.

O equívoco essencial da reserva de vagas é encarar a universidade como uma instituição redentora que, idealizada a sua perfeição, seria capaz de corrigir todos os males do mundo, do racismo à injustiça social, ainda que sua estrutura esteja sucateada e ela mal consiga lidar com os próprios problemas (quantas greves ainda serão necessárias para sensibilizar o poder público?).

Essa forma de enxergar um campus é consequência de outra distorção, que transformou em fábrica de diplomas o que deveria ser uma produtora de conhecimento. Nossos bacharelados, mestrados e doutorados passaram a valer mais enquanto currículo do que como produção científica, apesar de não garantirem mais emprego.

A universidade brasileira é um lugar onde um pesquisador perde o trabalho de cinco anos graças a uma queda de energia. Em suas bibliotecas, os livros que constam no acervo deixaram as prateleiras há anos, mas, de alguma forma mágica, o ensino superior público permanece como símbolo de excelência, capaz de garantir a ascensão social.

Não posso negar: passar por uma universidade, mesmo no Brasil, é uma experiência maravilhosa e dificilmente vai fazer mal a alguém. Mas, para cumprir seu dever enquanto instituição, ela precisa ser respeitada em suas limitações. Deixar de primar pela excelência não prejudica apenas a universidade, mas todos os que têm a sorte de estudar nela.

Incluir os excluídos é pretensão das mais nobres, mas não faz sentido que isso seja feito às custas do ensino superior -- sob a pena de prejudicar aqueles que se pretende ajudar. Do contrário, será inevitável seguir repetindo Jakob von Gunten: "Aprende-se muito pouco aqui, há falta de professores, e nós, rapazes do Instituto Benjamenta, nunca seremos ninguém, por outras palavras, nas nossas vidas futuras seremos apenas coisas muito pequenas e subalternas".

 

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