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No Alvo Domingo, 10 de Novembro de 2024, 16:45 - A | A

Domingo, 10 de Novembro de 2024, 16h:45 - A | A

AUSÊNCIA DO ESTADO

Aceitação social das facções criminosas reflete a ausência do poder público

A relação entre a sociedade e as facções criminosas evidencia um grave problema estrutural

Nesta semana, uma polêmica surgiu na Câmara Municipal de Cuiabá, envolvendo possíveis interferências de facções criminosas, após declarações do prefeito eleito, Abílio Brunini (PL). Ele apontou a concessão de uma moção de aplauso, pelo vereador Pastor Jefferson Siqueira (PSD), a um suspeito de integrar uma facção criminosa. Além disso, a vereadora eleita Baixinha Giraldelli, foi fotografada ao lado de um homem identificado como líder do Comando Vermelho no bairro Pedra 90.

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Após divulgação no Portal , o caso gerou grande repercussão nas redes sociais, com mais de 220 comentários na publicação. O que chamou atenção foi o teor dos comentários de internautas. Em meio às críticas ao sistema político e à corrupção, muitos relativizaram a gravidade das denúncias, argumentando que, em certas circunstâncias, facções criminosas oferecem mais suporte às comunidades do que o Estado. Um dos usuários comentou: "E pensar que esses caras fazem mais pela comunidade do que o próprio político." Outro afirmou: "Eles fazem bem mais pelo povo do que muitos que usam ternos."

Esse posicionamento reflete uma inquietante aceitação social da presença de facções nas periferias e escancara a descrença nas instituições públicas. A ausência do Estado em comunidades vulneráveis parece abrir espaço para que grupos criminosos assumam funções que, teoricamente, seriam responsabilidade estatal. Como resultado, há uma percepção de que, esses grupos estão mais presentes e atuantes do que o próprio poder público.

Um relato específico ilustra essa questão. Uma internauta narrou como, em meio a uma crise de saúde da filha, enfrentou a ineficiência das instituições públicas. Enquanto o sistema falhava, membros de uma organização criminosa mobilizaram recursos, organizaram uma vaquinha e doaram sangue, resolvendo sua situação. Apesar de deixar claro que não apoia o crime organizado, ela destacou as ações práticas realizadas por esses grupos em prol da comunidade.

A discussão transcende críticas à política ou às instituições: ela exige reflexão sobre o vácuo deixado pelo Estado. A falta de saúde, segurança, saneamento e outras políticas públicas essenciais em comunidades mais vulneráveis abre espaço para organizações ilícitas que, de forma precária e controversa, atendem às necessidades mais urgentes.

Essa realidade desafia o ideal de um Estado democrático e eficaz. Até que ponto a omissão estatal contribui para o fortalecimento de facções criminosas? A normalização da presença dessas organizações revela não só uma falha estrutural, mas também uma resignação social diante da ausência de alternativas.

Os relatos evidenciam a fragilidade das instituições públicas e convidam a uma reflexão profunda: como romper esse ciclo? Como restabelecer a confiança na política, no sistema de justiça e nos serviços públicos? O fortalecimento do Estado começa pela presença efetiva nas áreas mais carentes, cumprindo seu papel e evitando que outros atores – legítimos ou não – ocupem esse espaço.
Que este caso inspire uma reflexão coletiva sobre as consequências da ausência estatal e o impacto ético e social de aceitar soluções que perpetuam a exclusão e a insegurança.

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